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Saúde

HU capacita servidores para lidar com pacientes indígenas

25 junho 2016 - 11h21

Como forma de reforçar as ações de humanização do ambiente hospitalar, respeitando as diferenças culturais da região, o HU (Hospital Universitário) da Universidade Federal da Grande Dourados iniciou quinta-feira (23) a primeira capacitação em língua guarani voltada especificamente para o atendimento ao público indígena.

Em parceria com a UFGD, por meio da Progesp (a Pró-reitoria de Gestão de Pessoas), o curso, inédito no âmbito do HU, tem como objetivo trabalhar a oralidade de palavras e expressões usualmente empregadas na área da saúde e no dia a dia da etnia Guarani-Kaoiwá, de forma que o colaborador que atua diretamente com o paciente indígena possa melhor compreendê-lo e, também, ser entendido.

A aula inaugural, realizada na manhã de quinta-feira, contou com a participação especial do cacique Getúlio de Oliveira, da aldeia Jaguapiru, que fica localizada na reserva indígena de Dourados. Liderança entre seu povo, ele expôs aos colaboradores que, dentro da cultura indígena, muitas doenças são tratáveis com os medicamentos existentes na natureza e com as rezas. No entanto, reconhece a importância das instituições de saúde e seus procedimentos.

“Dentro da nossa cultura temos nossos remédios e nossa reza, mas, hoje, nós precisamos da ajuda de vocês da saúde, pois é difícil perder uma pessoa. Muitos ainda têm medo do tratamento dos brancos. Alguns já conhecem e sabem que é bom. Mas quando tem alguém que fala e explica na língua, nós ficamos felizes e entendemos”, relatou o cacique.

Os participantes também tiveram a oportunidade de iniciar os conhecimentos sobre a cultura indígena com uma pequena palestra proferida pela antropóloga e professora da UFGD, Graciela Chamorro. Conhecida pelo trabalho de pesquisa em religião, língua e história dos povos guarani, a docente falou sobre como as palavras podem ter significados diversos para os indígenas, inclusive, com representações poéticas calcadas nas crenças ancestrais deles.

“Espero que essa iniciativa seja uma abertura para o conhecimento, não só da língua indígena, mas da cultura dos povos indígenas, com suas noções de saúde, de corpo e de cura, de sua cosmologia como um todo”, afirmou a pesquisadora.

Barreira cultural x atendimento humanizado

A macrorregião da Grande Dourados é conhecida nacionalmente por ser território de grandes aldeias indígenas, tanto urbanas quanto rurais, cabendo ao HU o atendimento de boa parte dessa população. Em setores como a Pediatria, por exemplo, mais de 60% da assistência é dada a pacientes indígenas.

A maior dificuldade para colaboradores de todos os setores, mas principalmente os da assistência à saúde, é a comunicação efetiva com esses pacientes que, muitas vezes, não falam qualquer palavra em português ou, por questões culturais, não se sentem à vontade se expressando em outro idioma.

“Isso dificulta o atendimento, que em muitas situações precisa ser rápido para ter eficácia, pois o profissional de saúde não consegue obter um histórico do paciente, não consegue ao menos saber onde está o problema e como aquele quadro se deu”, explicou a colaboradora Deise Vieira, chefe da Unidade de Apoio Corporativo, uma das participantes do curso.

A capacitação formará 40 profissionais, sendo 32 do hospital e oito da universidade, que terão uma aula por semana até o final do mês de outubro. O conteúdo será ministrado pelos professores Andérbio Martins e Hemerson Catão, da Faind (Faculdade Intercultural Indígena) da UFGD, e pelo intérprete de língua guarani do HU, Silvio Ortiz que desde 2004 auxilia os profissionais de saúde no acolhimento e na comunicação com os pacientes indígenas e seus familiares. Ele é enfermeiro, pós-graduado em Saúde Pública e morador da aldeia Jaguapiru.

Com o trabalho desenvolvido por Silvio, indígena da etnia Guarani-Kaoiwá, os índices de fuga do hospital se tornaram menores. “Estamos falando de um povo que se sente estrangeiro dentro de seu próprio país. Eles têm sua especificidade, que precisa ser levada em consideração”, avaliou o intérprete, que agregará a experiência de mais de dez anos como porta-voz do hospital junto à comunidade indígena no conteúdo do curso.