Menu
Buscarterça, 23 de abril de 2024
(67) 99913-8196
Dourados
27°C
Saúde

Da fertilização 'in vitro' à pesquisa de células-tronco

13 janeiro 2011 - 14h26Por Redação Douranews/ com Veja Noticias

Na mesma semana em que o Conselho Federal de Medicina (CFM) publica no Brasil novas resoluções sobre fertilização assistida, dois pesquisadores americanos (John Gearhat e Christos Coutifaris) escreveram um artigo denominado Fertilização in vitro, premio Nobel e células-tronco embrionárias na revista Cell Stem cell (7 de janeiro de 2011).

Vocês devem se lembrar que o ganhador do premio Nobel de medicina em 2010 foi o Professor G. Edwards, pioneiro nas técnicas de fertilização “in vitro” (FIV). Inúmeras crianças foram geradas a partir dessa técnica depois de Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, nascida em 1977.

Hoje, estima-se que 2% a 3% dos nascimentos nos países desenvolvidos são resultantes de fertilização assistida, um número não desprezível. Mas o que o Prof. Edwards não poderia imaginar é que a técnica de FIV abriria as portas para pesquisas importantíssimas: as das células-tronco embrionárias.

A técnica vinha sendo tentada há muito tempo

A primeira manipulação “in vitro” de óvulos/embriões foi feita por Walter Heape (1890). Esse pesquisador transferiu óvulos fertilizados “in vivo” de uma coelha grávida para outra que engravidou e deu a luz coelhos semelhantes aos pais biológicos. É curioso que a transferência bem sucedida de embriões em outras espécies só ocorreria décadas depois – com ratos, carneiros, cabras e camundongos em 1930, e  vacas e porcas somente em 1950. Mas todas essas experiências eram com embriões fertilizados “in vivo”. Foi somente em 1959 que MC Chang conseguiu realizar uma fertilização bem sucedida “in vitro” com coelhas.

Os primeiros experimentos com seres humanos

G. Edwards foi pioneiro em testar essa técnica com seres humanos. Os óvulos eram obtidos de ovários, retirados e “amadurecidos” in vitro antes da fertilização com espermatozóide. Essa técnica, entretanto, mostrou eficiência baixíssima. O próximo passo foi fazer a maturação “in vivo” do óvulo antes da fertilização. E foi a partir dessa estratégia que nasceu, em 1977, Louise Brown, o primeiro bebê de proveta, abrindo caminho para os inúmeros bebês que vieram depois. Na década seguinte, tivemos três importantes avanços.

Injeções intracitoplasmáticas de espermas (ICSI- intracytoplasmatic sperm injection)

Essa técnica demonstrou que a injeção de um único espermatozóide em um oócito era suficiente para fertilização e gravidez. Essa técnica além de oferecer uma alternativa para infertilidade masculina (que afeta cerca de 1/3 dos casais inférteis) contribuiu para a compreensão dos aspectos funcionais da fisiologia do esperma e ativação do óvulo no início do desenvolvimento.

Técnicas de criopreservação, transferência de embriões e a nova resolução do CFM

O aprimoramento das técnicas de criopreservação de embriões supranumerários, que não foram transferidos para o útero, permite restringir o número de embriões implantados em cada ciclo e evitar assim gestações múltiplas. Esse foi um dos itens modificados na nova resolução do CFM – o número máximo de embriões a serem transferidos. Eram quatro, independentemente da idade da paciente, e agora esse número só é permitido para mulheres com mais de 40 anos quando a taxa de fertilização diminui.

Evitar gestações múltiplas é uma questão ética relevante. Por um lado, a transferência de vários embriões aumenta a chance de que pelo menos um “sobreviva”. Por outro lado, a sobrevivência de todos (quatro ou até mais) coloca em risco não só a gravidez da mãe como a saúde dos bebês. Por isso muitos optavam pela chamada “redução embrionária”, uma questão eticamente muito complicada, proibida pelo CFM. Isso porque, diferentemente dos embriões congelados que não foram transferidos e talvez nunca o sejam, a redução embrionária ocorre quando os embriões já estão no útero e são considerados viáveis.

As técnicas de criopreservação também foram fundamentais para abrir o caminho para as pesquisas com células-tronco embrionárias.

Biopsia de blastômero e seleção de embriões.

Falamos disso recentemente. Ela permite o diagnóstico de doenças genéticas antes da implantação do embrião, fundamental para casais de alto risco genético. Por outro lado, levanta questões éticas como a seleção de embriões também já discutida anteriormente. O uso dessa técnica para escolha de sexo foi proibida pelo CFM. Entretanto, ainda não sei qual seria o impacto se isso fosse permitido no Brasil. Será que alteraria a proporção sexual de nascituros? Se você ainda não respondeu ao questionário, ainda está em tempo.

Da fertilização “in vitro” para as pesquisas com células-tronco embrionárias

O que o Prof. Edwards não poderia imaginar é que a técnica de FIV e de criopreservação abriria um fantástico campo de pesquisas com células-tronco embrionárias com enorme potencial de tratamento.É interessante que as duas técnicas desencadearam inúmeros debates éticos, morais, religiosos e políticos.

No caso da FIV previa-se que as crianças nascidas com essa técnica não seriam normais, que os cientistas estavam brincando de Deus, que isso levaria à clonagem humana, fábricas de bebês ou eugenia. Até agora, nada disso aconteceu. Ao contrário. A FIV permitiu que inúmeros casais com problemas de fertilidade pudessem ter seus próprios filhos.

A nossa esperança é que o mesmo aconteça com as pesquisas com as CTE. Que elas permitam devolver a vida ou a qualidade de vida a milhões de pessoas que sofrem.