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"Farra com bebidas" entre jovens preocupa especialista

01 novembro 2010 - 12h23Por Redação Douranews, com Terra

Um comportamento relacionado ao álcool, percebido principalmente entre universitários brasileiros, vem chamando a atenção e preocupando especialistas. É o chamado binge drinking, - que, numa tradução livre para o português, pode ser entendido como "bebedeira" ou "farra com bebidas". Este é um padrão de comportamento em que a pessoa bebe muito, num intervalo curto de tempo, mas esporadicamente, com o objetivo de ficar bêbado rapidamente.

Considera-se que um homem praticou o binge drinking quando bebe cinco ou mais doses de bebida num período de duas horas. Para a mulher, são necessárias quatro ou mais doses, no mesmo intervalo de tempo. O comportamento preocupa especialistas porque o consumo exagerado de álcool num curto espaço de tempo e em uma única ocasião, como uma festa, pode levar ao coma e à morte por problemas cardiorrespiratórios.

Um exemplo recente foi registrado no último sábado, dia 10, no Rio Grande do Sul, onde um jovem de 21 anos entrou em coma alcoólico e morreu após uma competição, em uma festa de aniversário, para ver quem bebia mais vodca. Outro caso, que ganhou repercussão nacional, foi o da jovem Isabella Baracat, de 21 anos, que faleceu durante um cruzeiro universitário no final de 2008. Isabella foi atendida no centro médico do navio, onde chegou vomitando e com convulsões, mas não resistiu e faleceu no local.

O psiquiatra e professor da faculdade de medicina da Universidade de São Paulo (USP), Arthur Guerra, vê com preocupação a prática e acredita que há uma banalização do binge drinking, principalmente entre os universitários.

"Existe uma brincadeira entre eles chamada 'Maratomba', que consiste em correr de um lado para outro bebendo doses-padrão de certa bebida. Quem cai chão, sai da brincadeira. Numa dessas, facilmente, os 'perdedores' ficam em coma alcoólico. O vencedor é aquele que fica até o fim. Há uma ideia ingênua, primária, de que quanto mais a pessoa ficar em pé, 'mais macho', 'mais homem', 'mais gostosão' ele é. E como todos sabem que pessoas vão cair, eles levam redes para facilitar o transporte de quem caiu até o pronto socorro", afirmou.

Pesquisa aponta a frequência da "bebedeira"

Arthur Guerra é um dos responsáveis pelo primeiro Levantamento Nacional sobre Uso de Álcool em Universitários, divulgado em junho deste ano, que entrevistou 18 mil estudantes entre 18 e 24 anos, de 10 universidades nas 27 capitais brasileiras. O estudo, feito em parceria com a Secretaria Nacional Antidrogas da Presidência da República, constatou que 36% dos pesquisados haviam praticado o binge drinking nos doze meses anteriores à pesquisa. O mesmo levantamento constatou que um em cada quatro universitários bebeu mais de cinco doses (entre os homens) e mais de quatro doses (entre as mulheres) nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Para o professor da USP, outro fator preocupante é a dificuldade encontrada pelos jovens em admitir que todos têm um limite para o consumo de bebidas e em reconhecer a hora de parar de beber. "O jovem quer novas experiências, saíram da adolescência e estão sedentos por isso. Mas ele tem uma grave sensação de onipotência. Pensam: 'Eu Não, não serei alcoólatra, não vou me machucar, não vai dar em nada" disse.

Outro problema, na visão do psiquiatra, é a quantidade de universitários que se declararam bebedores frequentes e pesados. No levantamento sobre o uso de álcool entre universitários, 0,2% das mulheres se consideraram usuárias frequentes e pesadas de álcool, contra 1,9% dos homens. Arthur Guerra afirma que 3% desses usuários assíduos do álcool vão se transformar em alcoólatras no futuro.

O especialista alerta ainda para outros riscos associados ao uso abusivo do álcool em uma única ocasião: acidentes de trânsito, violência (principalmente entre os homens, que tendem a ficar mais agressivos) e sexo desprotegido com desconhecidos.