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Saúde

Demora para atualizar dados dificulta compreensão da Covid, aponta relatório técnico

23 julho 2020 - 13h03

Nova edição do Relatório técnico descritivo, agora abordando aspectos dos indicadores de morbidade e de mortalidade da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, entre a 27ª e a 29ª semanas epidemiológicas, no período de 21 a 27 de junho, considerando os registros de 28 óbitos por Covid, enquanto as SRAGs (Síndromes Respiratórias Agudas Graves) foram responsáveis pela morte de outras 60 pessoas, conclui que morreram 2,14 vezes mais pessoas por Síndromes Respiratórias Agudas Graves do que por Covid-19 em uma semana no Estado.

De acordo com os pesquisadores, as SRAGs estão com proporções acima da média dos anos anteriores quando comparadas com as mesmas semanas epidemiológicas de 2019. O relatório aponta o expressivo aumento de notificações de casos desse sintoma no Estado a partir de 7 a 13 de junho, ao registrar mais de 250 notificações por semana e atingindo mais de 400 notificações no período de 5 a 11 de julho. A demora na atualização dos dados pelos municípios é apontada como fator de mais dificuldades para a compreensão da doença.

O relatório indica que “aparentemente, a 29ª semana (12 a 18 de julho) apresentou mais de 300 casos notificados de SRAGs e muitos casos de internações e óbitos registrados como SRAGs não específicas podem ser casos de Covid-19. Isso chama a atenção para a subnotificação da doença, a baixa proporção de população testada e pela baixa sensibilidade do teste, aplicado de forma pouco invasiva (swab nasal ou oral)”, analisa Adeir Archanjo da Mota, professor da UFGD que coordena uma equipe de pesquisadores multidisciplinares, composta de epidemiologista, geógrafos e uma comunicadora, da UFMS (Universidade Federal do Mato Grosso do Sul), UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia) e de acadêmicos e docentes da UFGD de Dourados.

O epidemiologista Cremildo João Baptista, da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, explica que nem tudo que é SRAG é Covid19 e vice-versa: “É preciso realizar melhor a diferenciação e, sem testes, essa diferenciação pode ficar comprometida”. Para a pesquisadora em Comunicação, Saúde e Políticas Públicas da Universidade Federal do Oeste da Bahia, professora Fernanda Vasques Ferreira, os gestores públicos precisam encarar a realidade da pandemia com responsabilidade com a preservação das vidas e pautados pela ciência.

“Estamos diante de um fenômeno complexo - a doença. Não há espaço para ações que denotem amadorismo por parte dos gestores públicos. A doença já mostrou quais as marcas que irá deixar na sociedade e nos setores em todas as dimensões da vida humana. É momento de acolher os estudos científicos com seriedade e atenção, interpretá-los adequadamente e colocar em prática medidas que, de fato, reduzam os impactos da doença na vida das pessoas”, enfatizou a pesquisadora. Segundo Fernanda Vasques Ferreira, ações coordenadas e balizadas nos princípios da saúde coletiva além de serem mais eficientes, eficazes e resolutivas, também transmitem o adequado nível de comunicação à população da gravidade da situação que a pandemia impõe.

“Culpabilizar os indivíduos, responsabilizá-los por mortes e transferir para as pessoas a decisão que deve ser das autoridades que ocupam cargos institucionais - em especial os gestores públicos - é uma leviandade. A doença não pode ser tratada com preconceito, com estigmas, sob a guarida da religiosidade ou da moralidade. A doença precisa ser tratada pela ciência”, sentenciou a pesquisadora que tem projetos de pesquisa na área de comunicação e prevenção para a saúde. Segundo ela, é preciso tomar cuidado ao comunicar as informações oficiais relativas à Covid-19 para não criar falsas expectativas que possam gerar otimismo sem correspondência com a realidade.

O Relatório também indica que devem ser combatidas práticas de desinformação, descontextualização, infodemia e disseminação de fake news com o objetivo de preservar vidas. De acordo com a professora, das 231 notificações no catálogo do Canal Saúde Sem Fake News, do Ministério da Saúde, apenas 30 são informações que correspondem à verdade. O canal incluiu a etiqueta ‘Novo Coronavírus Fake News’ para distinguir as notificações falsas da Covid-19 das notificações falsas relativas a outras áreas da saúde. Fernanda alerta que quem tiver dúvidas sobre as informações disseminadas nas redes sociais deve enviar uma mensagem de WhatsApp para o número (61) 99289-4640 com texto ou imagem da informação duvidosa.

Equipe

O relatório foi produzido pelos professores doutores Adeir Archanjo da Mota, da Universidade Federal da Grande Dourados; Cremildo João Baptista, Ana Paula Archanjo Batarce, Elisa Pinheiro de Freitas, Eva Teixeira dos Santos, Mauro Henrique Soares da Silva, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul; Fernanda Vasques Ferreira, da Universidade Federal do Oeste da Bahia; e pelo mestre Anderson Antonio Molina da Silva, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, com o apoio técnico dos acadêmicos Antonio Idêrlian Pereira de Sousa e Pedro Antônio Araújo da Silva, da UFGD; Eduardo Henrique Rezende Santos, Leandro Pereira Santos e Rafael Rocha Sá, da UFMS.