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Saúde

'Deixar de falar sobre suicídio aumenta ainda mais o tabu', afirma voluntária do CVV

12 setembro 2016 - 12h51

No mês de setembro, uma verdadeira força-tarefa coloca em pauta o suicídio, um dos maiores tabus da sociedade, tema que ainda está repleto de desinformações - basicamente porque até há pouco tempo atrás suicídio era o assunto intocável. Uma nova perspectiva, entretanto, aponta que promover um debate e a informação sobre o suicídio pode ser uma forma de preparar a população para combater de frente esta realidade, por meio da informação e do acolhimento sem julgamentos da pessoa que tentar se matar. Quem explica melhor sobre esta estratégia é a engenheira agrônoma Adriana Rizzo, que há 14 anos integra o corpo de voluntários do CVV, o Centro de Valorização à Vida, que desenvolve trabalhos de prevenção ao suicídio por meio do acolhimento, normalmente pelo telefone 141. Nesta entrevista ao Jornal Midiamax, realizada por e-mail, Adriana explica desde o funcionamento do CVV a como todos podem ajudar a prevenir o suicídio. Confira.

JORNAL MIDIAMAX - Basicamente, o suicídio é um tabu da sociedade e temos uma grande inabilidade de tratar sobre o assunto, inclusive pela imprensa. Mas, notamos que diferentemente de anos atrás, campanhas como o 'Setembro Amarelo' querem puxar esse debate. Algo mudou ou sempre fomos desinformados?

ADRIANA RIZZO - Estamos tentando diminuir o tabu que existe em relação ao tema, com isto temos buscado a imprensa em todas as suas formas para abordar o assunto de forma que se torne educativo, ou seja, que possamos falar para aprender sobre o assunto e assim prevenir. Deixar de falar [sobre suicídio] aumenta ainda mais o tabu.

Conhecer a causa dos problemas é uma forma de prevenção de suas consequências. Neste contexto, estatisticamente, o que mais motiva o suicídio na atualidade?

O suicídio nunca é motivado por uma coisa só, ele sempre tem um conjunto de fatores, um histórico que pode culminar em alguma coisa, às vezes a última esperança que a pessoa tinha e se perde. A gota d'água, o que leva a pessoa realmente a tentar o suicídio, pode estar relacionado a solidão, depressão, perdas, que podem ser desde o emprego a relacionamento, incluindo aí, também, status etc.

Afinal, o que pode ser feito para prevenir e evitar o suicídio?

Basicamente, podemos falar sobre isto, até para que as pessoas saibam que não estão sozinhas quando pensam nisto, para que elas saibam que conversar sobre o que sente pode ser benéfico para elas, pois é uma prática que organiza suas ideias e com isto pode-se proporcionar uma visão das situções sobre nossas perpectivas. Ou seja, se oferecer para ouvir de verdade as pessoas que estão em momentos difíceis, sem crítica, sem julgamento, de forma empática, enfim, é algo que pode ajudar muito.

As pessoas que pensam em suicídio sempre dão sinais de que podem estar em risco?

Na verdade, às vezes elas dão sinais que não percebemos: mudam de comportamento, isolam-se, permanecem tristes por muito tempo, deprimidas... Mudam de humor com certa facilidade. Estes podem ser alguns dos sinais.

Recentemente houve um caso de um pai que matou a família e se matou na sequência no Rio de Janeiro. As reportagens deram a entender que ele não tinha estrutura para lidar com o desemprego, mas o caso foi tratado de forma superficial, com o viés da tragédia. Este homem foi muito julgado pelas pessoas nas redes sociais (percebe-se claramente isso porque quase não há filtro no Facebook, em relação ao que elas escrevem e compartilham). Desta forma, as redes sociais podem ser prejudiciais para desconstruir o tabu do suicídio? Ou ela podem ter um papel importante?

As redes sociais podem, sim, ter papel importante se quem participa delas percebe que alguém não está bem e quer conversar. Se a pessoa de dispõe a falar e o outro se dispõe a ouvir, temos aí uma função. Além disso, as redes podem ajudar na informação, pois podem proporcionar descobrir grupos, como o CVV, e outros que podem ajudar. Recentemente, o Facebook estabeleceu, inclusive, um alerta em parceria com o CVV, no qual podemos direcionar as pessoas que falam sobre suicídio para o site da entidade. Quando um usuário constatar alguma mensagem pessimista e depressiva, basta clicar em 'denunciar publicação' e, na sequência, em 'acredito que não deveria estar no Facebook' e depois em 'é ameaçador, violento ou suicida'. As equipes de análise permitirão ao usuário entre 'enviar uma mensagem a um amigo', 'receber dicas para lidar com a situação' ou 'entrar em contato com uma linha de ajuda'. Neste último, é quando o CVV entra em ação.

Qual é a preparação dos voluntários do CVV do acolhimento das pessoas que buscam o serviço?

Basicamente, para ser voluntário do CVV é necessário participar de um curso com encontros semanais que duram 8 semanas e lá treinamos como proceder no atendimento a quem nos busca.

Como funciona, exatamente, o trabalho do CVV?

O CVV funciona como um canal de prevenção ao suicídio, que está à disposição para essas pessoas, para que os sentimentos ruins desapareçam ou, pelo menos, não se acumulem. De forma geral, queremos apontar o suicídio não é a única alternativa. Quem liga para o CVV, na maioria das vezes, é uma pessoa que se sente sozinho e não tem com quem conversar. Esse sentimento, muitas vezes, pode levá-la a pensar em suicídio ou a cometer algum ato de desespero. Por telefone, cujo número é 141, e-mail ou Skype, e até pessoalmente, o voluntário conversa e tenta animar a pessoa, que não precisa se identificar, a encarar os fatos que lhe desafiam.

O luto de perder alguém para o suicídio é muito doloroso e costuma afetar com profundidade as famílias. O CCV também faz algum acolhimento às famílias que perderam alguém que se matou?

Existem, sim, grupos de ajuda que trabalham com os familiares e inclusive a quem já tentou suicídio em algumas cidades do Brasil. Os voluntários do CVV estão à disposição e outras informações pelo nosso site, que é www.cvv.org.br.