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Política

Dilma enfrentará cenário externo deteriorado

06 janeiro 2011 - 16h31Por Redação Douranews/ com Veja Noticias

Dilma Rousseff dedicou seu primeiro dia na Presidência da República a encontros com autoridades de diversos países. Foi apenas um prelúdio dos esforços que terá de dedicar, nos próximos anos, à cena internacional. Diferentemente de seu antecessor, ela dirigirá um país inserido num mundo muito mais conturbado, com crises abertas e outras iminentes, além de contar com projeções de crescimento menores. Excesso de dependência da China, maior volatilidade nos mercados, invasão de importados e contaminação pela inflação internacional são os maiores riscos.

Oito anos atrás, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu a faixa presidencial, o mundo apresentava uma taxa de crescimento de 3,6%. O PIB dos Estados Unidos registrou elevação de 4,7% em 2003, enquanto o da zona do euro avançou 3%. Os anos que se seguiram foram de expansão ainda mais acentuada, inflada pela bolha de liquidez e consumo do mercado americano. Os EUA tiveram picos de elevação do PIB de 6,5% em 2004 e 2005; a união monetária européia atingiu 5,3% em 2007; ao passo que o PIB mundial chegou a registrar altas superiores a 5%. Lula pode usufruir todas as benesses de um cenário externo favorável. Quando veio a crise em 2008, a economia doméstica, felizmente, estava forte o suficiente para enfrentá-la.

Para este ano, projeções da Economist Intelligence Unit (EIU) descortinam um quadro bem menos promissor para a nova presidente. As perspectivas apontam para expansão mundial de 2,7%, sendo 2,2% para os EUA e 0,9% para a zona do euro. Apesar dos números relativamente estáveis, a sensação que se tem é a de que os países desenvolvidos não conseguem enxergar saída para a crise em que se meteram a partir de 2008. E essa é apenas a camada mais superficial das incertezas externas que Dilma Rousseff enfrentará.

Cenário externo – Os principais problemas do cenário internacional referem-se ao câmbio e às diferenças de ritmo de crescimento entre as regiões.

Com taxas de juros próximas de zero, os países desenvolvidos lutam para reativar suas economias, combater o desemprego e aumentar a arrecadação de impostos – item que se tornou fundamental para a solução de problemas fiscais. Para atingir seus objetivos, os governos podem lançar mão de políticas drásticas, como a injeção de liquidez nos mercados. O ‘afrouxamento quantitativo’ efetuado pelo governo dos Estados Unidos – venda de títulos públicos por parte do Tesouro para despejar dólares na economia – é um exemplo disso. Ao enfraquecer sua moeda, os americanos buscam estimular a competitividade de seus produtos no mercado global e, assim, diminuir seu déficit comercial.

O governo chinês, por sua vez, tradicionalmente utiliza o controle cambial para manter sua divisa (o yuan) desvalorizada, o que explica parte de sua competitividade externa. O problema é que essas decisões agravam as distorções cambiais no mundo e afetam diretamente as economias dos outros países. No caso brasileiro, por exemplo, o real se valorizou 108% ante o dólar nos últimos oito anos. Conseqüentemente, os produtos brasileiros têm visto a deterioração de sua competitividade no exterior, de mesma forma que bens e serviços estrangeiros ficam mais atrativos no país.

Outro aspecto da fragilidade da economia internacional revela-se no descompasso no ritmo de crescimento entre países emergentes e desenvolvidos. As chamadas nações ‘em desenvolvimento’ têm a responsabilidade de ‘carregar a economia mundial nas costas’ em 2011, prevêem os economistas. Esta troca de ‘atores’ no cenário externo não seria problemática se o descompasso não fosse tão profundo. Ao lado de uma zona do euro cujo PIB deve aumentar menos de 1% neste ano, há uma China que cresce 10% anualmente. Medidas podem ser adotadas nas economias emergentes para desacelerar o ritmo de expansão, e assim conter a inflação ou corrigir a formação de ‘bolhas’. Aí que mora o problema; principalmente se o ajuste for brusco. O crescimento mundial seria fortemente afetado, com reflexos para todos os países.

Correndo por fora, o colapso financeiro dos países mais frágeis da Europa, como Irlanda, Grécia e Portugal, tem gerado nervosismo. Investidores mostram-se receosos quanto a um possível esfacelamento da zona do euro, o que traria enorme volatilidade e pânico aos mercados. A Bolsa brasileira, neste contexto, sentiria reflexos imediatamente.

Commodities – No cenário de crescimento nos emergentes, outro fator externo capaz de se interpor como obstáculo econômico para Dilma é a forte valorização das commodities. Os preços destes produtos têm subido velozmente devido ao aquecimento do consumo nas nações emergentes, sobretudo na China – principal parceiro comercial do Brasil e destino de 20 bilhões de dólares de nossas exportações.

Em um primeiro momento, tal situação mostra-se favorável ao país, já que 77% das exportações nacionais para a China compõem-se produtos básicos, como minério de ferro e combustíveis minerais. O apetite do investidor estrangeiro também deve se voltar com mais força aos mercados beneficiados pela economia chinesa – grupo em que o Brasil igualmente se inclui. Perante o crescimento pífio das nações desenvolvidas, os emergentes liderados por Pequim são vistos como um oásis.

Por outro lado, este mesmo quadro guarda uma armadilha. O governo chinês está preocupado com o superaquecimento de sua demanda interna e a subida da inflação. Com seu poder de ‘planejador central’, já começou a tomar medidas contracionistas, elevando juros e compulsórios. De bônus, a dependência da China passa a ser uma ameaça. “Se houver uma decepção forte com a China, isso impactará profundamente o humor do investidor e pode haver uma contaminação financeira importante no Brasil”, afirma Zeina Latif, economista-chefe para América Latina do Royal Bank of Scotland (RBS) e cotada para assumir a diretoria de Estudos Especiais do Banco Central neste governo.

Os economistas alertam ainda para o risco de contaminação do fenômeno inflacionário global sobre os preços no Brasil. Parte deste processo já se verifica e ajuda a atender porque o índice oficial de inflação (IPCA) deve encerrar 2011 em 5,90% na projeção do mercado – bem acima do centro da meta de inflação, que é de 4,5%. Outro problema é que os importados – ainda mais competitivos agora com o real na casa dos 1,67 dólar –  se tornaram um flagelo para alguns segmentos da indústria nacional. Os fabricantes de bens de capital, por exemplo, penaram no ano passado com produtos vindos do exterior e este fato foi captado pelo índice de produção industrial mensal (PIM) do IBGE.

Vulnerabilidade – Diante da constatação de que o ‘descolamento’ da economia brasileira em relação ao mundo – que surgiu na época do estouro da bolha imobiliária americana – provou-se imperfeita, o governo Dilma deve se preocupar com o que está por vir.

O mercado interno, além de não estar blindado contra turbulências que vêm de fora, encontra-se hoje mais vulnerável a elas, alerta o relatório de perspectivas para 2011 do banco Morgan Stanley. “Agora, o mundo está com muito mais volatilidade do que em 2003. Estamos falando de um ciclo econômico mundial caracterizado por crescimento mais baixo e um ambiente mais suscetível a acidentes de percurso”, acrescenta Zeina.

Os especialistas afirmam, contudo, que há muito pouco que Dilma Rousseff possa fazer para se proteger desta movimentação global. Medidas pontuais, como as de cunho protecionista, teriam efeito marginal. As melhores saídas, que mesmo assim trariam benefícios só no longo prazo, convergem para a realização de ajustes estruturais na economia, como, por exemplo, a redução do peso do Estado brasileiro, que permitiria baixar o custo Brasil e os juros domésticos.

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