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Política

Lula distribui renda, mas desigualdade social ainda persiste

31 dezembro 2010 - 11h08Por Redação Douranews/com globo.com

Qual é a imagem que melhor define o governo Lula? Qual é o país que, após oito anos, o presidente deixará para a sua sucessora?

Se, nos últimos oito anos, muitos sentiram melhoras em suas condições de vida, seja por meio de programas de distribuição de renda ou porque conseguiram um emprego, há quem ainda não tenha o suficiente para viver em condições dignas. Se o crescimento da economia e iniciativas como a expansão do crédito permitiram a famílias comprar bens como televisão, geladeira e automóvel, é ainda grande o número de pessoas que vivem em condições precárias de moradia e têm acesso a serviços públicos deficientes.

Para o sociólogo Ricardo Antunes, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), o atual governo ficará marcado por uma “grande frustração”.

- O Lula foi eleito em 2002 para mudar o desenho neoliberal que predominou durante os oito anos de governo do Fernando Henrique Cardoso [do PSDB]. E essa mudança não ocorreu.

Antunes cita como exemplos a manutenção da política macroeconômica herdada da gestão tucana e a falta de compromisso com bandeiras históricas do PT e da esquerda, como a reforma agrária.

- Os pilares da política econômica do governo FHC foram inteiramente preservados e, em certo sentido, ampliados. O Brasil ainda tem os juros mais altos do mundo, a política agrária é extremamente concentrada, temos incentivo ao agronegócio e a não realização efetiva da reforma agrária.

Embora reconheça que, no segundo mandato, a partir de 2007, a política social tenha ganhado espaço, sobretudo por meio do programa Bolsa Família e do salário mínimo, o sociólogo considera que o governo Lula não atacou as “causas estruturais da tragédia brasileira”.

- A crítica não é ao Bolsa Família em si. Qualquer governo, diante de um país que tem milhões de miseráveis e pobres, pode ter uma política imediata de minimização da fome. Isso é legítimo. O problema é que essa política não está vinculada a nenhuma mudança estrutural. As causas estruturais da miséria e da tragédia brasileira se mantêm.

O cientista político André Singer, professor da USP (Universidade de São Paulo), diz que, ao fazer do combate à pobreza seu principal objetivo, o governo Lula, embora tenha optado por um caminho moderado, operou uma grande transformação.

- Houve, de fato, uma importante redução da pobreza. Houve uma melhora na condição de vida de milhões de pessoas de baixa e baixíssima renda. Os dois mandatos do presidente Lula conseguiram melhorar as condições de vida dessa camada da população que é muito ampla. Estamos falando, então, de uma grande transformação.

Singer foi porta-voz da Presidência de 2003 e 2007 e, depois que saiu do governo, passou a analisar os anos Lula. Ele lembra que uma das principais promessas feitas pela presidente eleita, Dilma Rousseff, foi a erradicação da pobreza, e afirma que somente a possibilidade de poder fixar uma meta como essa já é, por si só, um feito significativo.

- Acho que um dos grandes legados é deixar um país que pode se colocar este objetivo, de erradicar a pobreza em um período tangível, de quatro, seis, oito, dez anos... Não tem tanta importância saber quanto tempo vai levar, mas só o fato de poder dizer "nós queremos e podemos erradicar a pobreza na próxima década" é um dos grandes legados.

Quanto à redução da desigualdade, o professor da USP afirma que houve avanços, mas em uma intensidade menor.

- Eu discordo daqueles que acham que não está havendo redução da desigualdade. O mais correto é indicar que está havendo diminuição da desigualdade, mas ela é mais lenta que a diminuição da pobreza. Por quê? Provavelmente, porque uma parte dos ricos ficou mais rica, e isso se explica pelo fato de que a lucratividade das empresas foi muito grande nesse período, e os juros no Brasil continuam muito altos.

Ao recordar uma frase que o próprio presidente Lula costuma usar para se referir ao seu governo, de que “nunca os ricos ganharam tanto dinheiro”, o sociólogo Francisco de Oliveira sai em defesa da classe trabalhadora, que segundo ele foi enfraquecida nos últimos anos.

- Na economia, não existe empate. Se ele diz isso, é porque as classes trabalhadoras perderam. Se [os ricos] ganharam tanto dinheiro, alguém perdeu, e esse alguém foi a classe trabalhadora.

Privatizante

Para Oliveira, que participou da fundação do PT, nos anos 80, e rompeu com o partido em 2003, o governo Lula minou o poder da classe trabalhadora também por meio do fortalecimento das grandes empresas, que receberam polpudos financiamentos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Isso faria dele, na análise do sociólogo, o presidente “mais privatizante da história moderna” do Brasil.

- É até uma contradição, porque geralmente a imprensa o chama de estatizante, mas ele é privatizante, no sentido de aumentar o poder dos grandes grupos econômicos no Brasil. Isso vai aumentar o poder de classe desses grandes grupos, e reduz o poder de classe dos trabalhadores, que foi a base sobre a qual se ergueu o PT. Celebra-se o aumento do consumo, mas isso não é aumento do poder de classe, e sim produto do sistema capitalista.

O professor da USP também minimiza o impacto do crescimento do PIB (Produto Interno Bruto - soma das riquezas de um país) registrado nos últimos oito anos. Para 2010, projeções indicam uma alta superior a 7%. Na avaliação do especialista, porém, trata-se de uma “celebração pífia”.

- Não há grande feito nenhum. A taxa média de crescimento da economia brasileira no período Lula é de 4% ao ano, e essa taxa média é inferior à que Juscelino Kubitschek logrou, e é inferior à média nacional de crescimento posterior à Segunda Guerra Mundial. Ele se gaba porque ganha do Fernando Henrique Cardoso, mas o período de Collor e Fernando Henrique foi recessivo.

Educação e saúde

Ricardo Antunes chama ainda a atenção para a necessidade de melhorar a oferta de serviços públicos, outra dívida deixada por Lula.

- A escola pública básica está degradada. A única escola pública que ainda tem um bom funcionamento é a universitária. Temos a deterioração das condições de saúde, todo dia os pobres morrem nos hospitais, os medicamentos são confundidos, os enfermeiros não são qualificados.

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