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Política

Após 60 dias no cargo, ministros tentam evitar rótulo test-drive

03 março 2011 - 16h03Por Redação Douranews, com Ig

A discrição com que o Ministério da presidenta Dilma Rousseff completou seus dois meses nesta quarta-feira (2) disfarça uma série de altos e baixos dos 37 ocupantes das cadeiras mais cobiçadas da Esplanada. Todos eles trabalham para não entrar na lista dos chamados “ministros test-drive”, termo usado por aliados no início do governo para definir aqueles que conseguiram embarcar com Dilma, mas que pelo mais fútil dos motivos têm chance de rodar na Esplanada dos Ministérios na primeira curva feita pela presidenta.

Segundo o relato de um assessor próximo da presidenta, há três tipos de ministros: os bem avaliados e que têm prestígio; os mal avaliados e que se envolveram em problemas; e os que ainda são incógnitas ou simplesmente foram ignorados até agora. Desse grupo fazem parte ministros que não despacham diretamente com a presidenta.

“Há uma espécie de segunda classe de ministros que despacham só com outros ministros como o Palocci (Casa Civil) e a Miriam Belchior (Planejamento)”, conta um assessor palaciano. A mesma fórmula usada por Dilma para lidar com a opinião pública ela tem reproduzido também dentro do governo: evitar encontros, audiências ou reuniões desnecessários com aparições que possam representar risco de desgaste político.

Os primeiros 60 dias de governo mostraram que a receita para se dar bem com a presidenta é trabalhar em silêncio, evitar holofotes na mídia e enfrentar os problemas com rapidez. Para os ministros que não são filiados ao PT, existe uma tarefa a mais: controlar os anseios e as cobranças dos partidos aos quais são filiados. Ou seja, as bancadas têm de votar com o governo no Congresso. Caso contrário, o ministro indicado pelo partido será fritado.

Uma boa saída também é tentar ganhar a confiança da presidenta nomeando pessoas de confiança dela para cargos importantes. Foi o que fizeram os peemedebistas Pedro Novais (Turismo) e Garibaldi Alves (Previdência). Apesar de não integrarem a lista dos ministros prestigiados, agradaram Dilma ao nomear petistas para os postos de secretários-executivos das respectivas pastas.

Os bem-avaliados

Entre os ministros que estão bem avaliados pela presidenta, estão Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) e Antonio Palocci (Casa Civil). O primeiro foi eficiente ao negociar a votação do aumento do salário mínimo com centrais sindicais e os movimentos sociais. Carvalho também ajudou a ganhar o voto do senador Paulo Paim (PT-RS), que ameaçava apresentar emenda pelo valor de R$ 560.

Palocci foi bem-sucedido ao controlar a ânsia do PMDB por cargos principalmente no segundo escalão. Ele ficou à frente das negociações e evitou o desgaste da presidenta com aliados. Foi o ministro da Casa Civil que disse "não" para o insistente líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), que tentou manter o comando de Furnas na mãos de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Outra característica positiva identificada em Palocci é a forma de ação. “Ele trabalha em silêncio. Não dá muita brecha para a imprensa”, diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. “É o contrário de José Dirceu (ministro da Casa Civil no começo do governo Luiz Inácio Lula da Silva) que vivia querendo aparecer e demonstrar poder.”

Também faz parte do grupo de “bem avaliados” Edison Lobão (Minas e Energia). Apesar do apagão no Nordeste no começo deste ano, Dilma gosta do ministro, a quem é chama de “Lobao” (sem acento) em audiências e reuniões. A admiração da presidenta por Lobão vem do governo Lula, quando ele deu continuidade a projetos que a própria Dilma implantou quando foi ministra da área (2003-2005).

Lobão também montou o segundo escalão de acordo com os pedidos da presidenta. Deixou que Dilma e o PT escalassem correligionários de sua confiança em postos estratégicos. Assumiu a indicação do Flávio Decat para a presidência de Furnas, o que desagradou profundamente a bancada do PMDB na Câmara. Sobretudo o grupo encabeçado pelo líder Henrique Eduardo Alves (RN) e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Fernando Pimentel (Desenvolvimento Econômico) é outro que tem prestígio com a presidenta. Menos por causa do seu desempenho e mais pela amizade que tem com ela desde a juventude. Candidato derrotado ao Senado pelo PT de Minas Gerais, Pimentel chegou a ser listado fora do ministério. Dilma, porém, fez questão de prestigiá-lo. É um dos poucos ministros que têm reuniões com a presidenta fora da agenda oficial.

Problemas e falhas

Orlando Silva (Esporte) enfrentou nas últimas semanas uma série de denúncias por conta do programa “Segundo Tempo”. A imprensa apontou fraudes e uso político dos recursos do projeto para assinatura de convênios com organizações não-governamentias ligadas ao PC do B, o partido do ministro.

Mas a insatisfação de Dilma com Orlando não é nova. Ainda do fim do ano passado, ela não gostou da pressão que o ministro fez para ser mantido no cargo. Dilma tentou, em vão, nomear para a pasta Lúcia Moraes (PC do B-PE), deputada eleita e ex-prefeita de Olinda.

Apesar de ser um histórico aliado do PT, o PC do B tem uma bancada de apenas 15 deputados e dois senadores no Congresso. Ou seja, não está em condições de fazer exigências, na avaliação de Dilma e de outros palacianos.

Carlos Lupi (Trabalho) é outro ministro em débito com o Palácio do Planalto. Presidente licenciado do PDT, ele não conseguiu convencer a bancada do partido na Câmara a fechar questão na votação do aumento projeto do salário mínimo de R$ 545.

Segundo palacianos, Lupi não escolheu bem o líder da bancada: Giovanni Queiróz (PA). O deputado mostrou-se dúbio e não trabalhou o suficiente para fazer com que os 27 deputados votassem a favor da proposta governista. Ele foi excluído da lista de convidados para reunião que Dilma teve com os líderes da base aliada nesta quarta.

Apesar do prestígio que goza com o ex-presidente Lula, Fernando Haddad (Educação) também perdeu pontos com Dilma por causa dos problemas no sistema de distribuição de vagas em universidades públicas (Sisu). Antes disso, em novembro de 2010, Haddad foi criticado por causa de falhas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

“Haddad sofre muita pressão porque seu cargo é cobiçado por outros partidos e por setores do próprio PT. Mas acho injusto dizer que ele é 100% responsável pelos problemas no Enem e no Sisu”, afirmou Ricardo Caldas, cientista político da UnB.

Cortes no Orçamento

O total de cortes nas pastas também serve de termômetro para saber o contentamento da presidenta com determinado ministro. Mário Negromonte (Cidades) viu o orçamento da sua pasta ser cortado em R$ 8,5 bilhões. Segundo um assessor palaciano, Dilma nunca quis nomeá-lo. Seu desejo era manter Márcio Fortes, que estava no cargo desde 2005.

Deputado federal reeleito pela Bahia, Negromonte, no entanto, tinha o apoio da bancada do PP da Câmara. O problema é que os deputados já não estão tão satisfeitos com o ministro. "Ele precisa chamar os deputados para conversar no Ministério. O ministro se cercou apenas dos amigos dele na Bahia", disse um deputado do PP nordestino.

Negromonte prefere não responder às críticas publicamente. Segue à disciplina de Dilma em não dar entrevistas. Segundo assessores próximos, ele tem sido pressionado a realizar nomeações no segundo escalão da pasta, como Inaldo Leitão (PB) no Departamento Nacional de Transportes. O ministro, porém, só quer fazer nomeações com aval do Planalto. Também tenta se mostrar afável à Dilma. Na viagem à Argentina em janeiro, ele conseguiu conversar com a presidenta durante o voo.

Sem prestígio nas bancadas do PMDB da Câmara ou do Senado, o peemedebista Nelson Jobim (Defesa) também sofreu com cortes na sua pasta: R$ 4,3 bilhões evaporaram do orçamento da Defesa. Para o lugar dele já tem até candidato a substituto: Aldo Rebelo (PC do B-SP), que pode ser nomeado ministro principalmente se Orlando Silva (PC do B) perder a vaga na pasta do Esporte.

Além dos bem e mal avaliados, há ainda os ministros “promessas que não aconteceram”. São os casos de Alexandre Padilha (Saúde) e Miriam Belchior (Planejamento). Dilma quer Padilha mais técnico do que político. Avalia que o ex-ministro das Relações Institucionais, mesmo formado em medicina, ainda não mostrou como pode ser um bom gestor da saúde. “Ele sabe falar com a gente, fazer política”, diz o senador Magno Malta (PR-ES), corroborando o perfil político de Padilha. “É um ministro que diz a verdade, não fica enrolando.”

Parceira de Dilma na condução do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Miriam Belchior assumiu do Planejamento como a mulher de maior prestígio na Esplanada depois da presidenta. Dilma, no entanto, acha que Miriam errou ao anunciar cortes no PAC e não foi capaz de explicar a redução do Orçamento do Minha Casa, Minha Vida.

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