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Polícia

Name e Jamilzinho são indiciados por tentar obstruir trabalho da Justiça

02 novembro 2019 - 12h59Por G1/MS

A juíza Eucélia Moreira Cassal, da 3ª Vara Criminal de Campo Grande, aceitou nesta sexta-feira (1) a inclusão na denúncia por obstrução de Justiça de mais nove suspeitos de envolvimento com a suposta milícia do jogo do bicho que agia em Mato Grosso do Sul. O pedido de aditamento da denúncia foi feito pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) no dia 8 de outubro.

Já respondiam a ação os guardas municipais Rafael Antunes Vieira e Robert Vitor Koperski, além de um segurança particular identificado como Flávio Narciso Morais da Silva. A investigação aponta que eles teriam agido para intimidar testemunhas, logo após a apreensão de um arsenal da milícia em uma casa da família Name, no jardim Monte Libano.

Com o recebimento da denúncia, também vão passar a responder por obstrução de Justiça os empresários Jamil Name e Jamil Name Filho, são suspeitos de chefiarem a organização criminosa, além do policial aposentado Vladenilson Daniel Olmedo, do policial civil Márcio Cavalcanti da Silva, do advogado Alexandre Gonçalvez Franzoloso, do militar aposentado, Andrison Correia e dos guardas municipais Alcinei Arantes da Silva e Rafael Carmo Peixoto Ribeiro e de Elton Pedro de Almeida.

O advogado de defesa de Jamil Name, Jamil Name Filho, Márcio Cavalcanti da Silva e Vladenilson Danilel Olmedo, Renê Siufi, diz que ainda vai tomar ciência desta denúncia para depois se pronunciar sobre o caso.
O advogado de Elton Pedro de Almeida, João Matheus Giacomini, negou o envolvimento do cliente com o suposto grupo. A defesa diz que ele é inocente e que apenas trabalhava na área de tecnologia da informação em uma empresa de Jamil Name. “Nunca teve ciência de nada ilícito ou praticou nenhuma ilegalidade. Ele cuidava dos computadores da empresa, digitalizava documentos. E vamos provar isso no processo”. Os demais citados não se manifestaram.

A denúncia

Segundo a denúncia do MPMS, após a apreensão do arsenal da milícia em Campo Grande, o ex-guarda municipal Marcelo Rios, que seria o encarregado do armamento, passou junto com a esposa a ser ameaçado por Rafael Antunes Vieira, Robert Vitor Koperski e Flávio Narciso Morais da Silva. Para o MP, a intenção destes envolvidos era evitar que o casal falasse do envolvimento do Jamil e o filho, levando a investigação a apontá-los como os donos das armas e também responsáveis pelas execuções apuradas na força-tarefa entre o Gaeco (Grupo Especial de Combate ao Crime Organizado e a Garras (Delegacia Especializada em Repressão à Roubos a Bancos, Assaltos e Sequestros).

Além disso, no mesmo dia em que o arsenal foi descoberto, o MP aponta que Jamil Name Filho tirou vários documentos da cobertura onde morava. No inquérito, imagens mostram outras pessoas o ajudando, com clara intenção de impedir que a polícia tivesse acesso à provas. Já no dia 27 de setembro, quando os policiais entraram no apartamento de Jamilzinho, o filho do líder da organização, cheio de portas reforçadas, nada foi encontrado. No entanto, parte do material foi encontrado na casa de Eltom Pedro de Almeida. Ainda conforme o Gaeco, os suspeitos agiram para intimidar o ex-guarda Marcelo Rios e a esposa. Mais uma vez, ainda conforme a polícia, o objetivo era poupar "os Name" e impedir o depoimento do casal. No outro dia da prisão, o ex-guarda municipal Rafael Antunes Vieira e o policial civil aposentado Vladenilson Olmedo foram até a residência da esposa de Marcelo, dando a ela R$ 1.250, dinheiro este que seria enviado pelos patrões, sendo que ela receberia "mais dinheiro toda semana", pedindo a ela para "confiar no guri", apelido de Jamil Name Filho. Ela passou então a ser escoltada pelo segurança Flávio Narciso Morais da Silva.

Flávio, Rafael e Vladenilson também pediram para ela deixar a casa imediatamente e trocar de celular, já que Flávio teria afirmado a ela que corria risco de vida, caso falasse algo, ressaltando que ela seria a primeira a ser morta e depois Marcelo, na cadeia. Preocupado com a segurança da esposa, Marcelo chegou a pedir para os policiais irem até o imóvel dela, momento em que os policiais a encontraram dentro do carro do segurança Flávio. Na ocasião, a investigação aponta que Flávio mentiu, dizendo que era um vizinho, porém, os policiais não acreditaram e ela foi para delegacia. Na volta, sofreu nova ameaça.
Ainda conforme a investigação, consta que ela viu um homem batendo em seu portão. Era o guarda municipal Robert Vitor Kopétski. Ele falou que sabia que ela tinha voltado na delegacia e a ameaçou, dizendo: “Você não tem noção que se você abrir a boca você morre”. Robert estava acompanhado do policial civil Marcio Cavalcanti da Silva, considerado pelos investigadores uma espécie de ‘braço direito’ de Jamil Name.

Segundo a denúncia, ele ficava incumbido de acompanhar pessoalmente algumas das atividades ilícitas praticadas pela organização. As ameaças levaram para cadeia o segurança Flávio e os guardas Robert e Rafael Antunes, que acabaram expulsos da corporação. Eles tiveram nova prisão decretada na operação Omertá. Na sequência, a esposa de Marcelo Rios procurou o Gaeco em nome do marido. Eles queriam a concessão de benefícios por meio de colaboração premiada e a mulher então pediu para que entrasse no programa de proteção à testemunha. Mas, conforme a ata de reunião realizada no dia 7 de agosto, na sede do MPE, a mulher falou que a colaboração não seria possível porque o advogado Alexandre Franzoloso impedia o seguimento do processo e ele seria o "advogado da organização criminosa".

Já no relatório do Garras, a denúncia afirma que "todas as vezes que Marcelo Rios falava com o advogado Alexandre Franzoloso, ele relatava aos policiais que teria de ficar a favor da organização criminosa para salvaguardar a vida da sua esposa e de seus filhos. Além de cair em prantos, dizendo que sabia que iria morrer, mas que pelo menos, sua família estaria salva". Para os promotores do Gaeco, o advogado em desvio absoluto de conduta, a pretexto de fazer a defesa de Marcelo Rios, atuou para impedir que as investigações chegassem aos líderes da organização criminosa. Se condenados, os 12 réus podem pegar de 3 a 8 anos de prisão.

Além desta ação, parte dos réus responde também a outros processos por crimes como posse ilegal de arma de fogo (Jamil Name), organização criminosa e milícia armada voltada a exploração de jogos ilegais, corrupção e extorsão, entre outros.

Comando da milícia

No dia 28 de setembro, o Gaeco, junto com o Garras, o Batalhão de Choque e o Bope, fez uma operação, a Omertá, para desarticular a suposta milícia da organização criminosa do jogo do bicho. Na ação foram presos o empresário Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho, quatro policiais civis, um policial federal, um militar do Exército aposentado, um funcionário de Jamil Name e guardas civis de Campo Grande, entre outros.

Na representação que fundamentou os pedidos de prisão e de busca e apreensão, o Gaeco afirma que Jamil Name e Jamil Name Filho são os líderes da milícia e reforça essa argumentação apontado que a casa onde foi apreendido o arsenal pertence a família Name. Além disso, na casa onde estavam as armas foram encontrados bonés com câmeras ocultas, que tinham várias gravações que foram recuperadas pela perícia que citavam o nome de Jamil Name ou onde ele aparecia nas imagens.

Execuções

A milícia, de acordo com a investigação, é suspeita de ter executado pelo menos três pessoas em Campo Grande desde junho do ano passado. Outras mortes também estão sendo investigadas. Na representação, os promotores do Gaeco detalham que os três homicídios têm as mesmas características: foram cometidos por várias pessoas, usando mais de um veículo e com armas de grosso calibre, no caso, fuzis.

Com base nas investigações e em depoimentos, o Gaeco aponta que uma das execuções que teria sido cometida pela milícia seria a de Ilson de Figueiredo, de 62 anos, que era chefe de segurança da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Ele foi assassinado no dia 11 de junho de 2018, na avenida Guaicurus, no Jardim Itamaracá. Seu carro foi perseguido e ele foi morto a tiros por suspeitos que estavam em outro carro.

Conforme o Gaeco, Figueiredo foi morto porque teria tido participação no homicídio do filho de uma pessoa muito próxima aos dois homens que são apontados como os líderes da milícia, Jamil Name e seu filho, Jamil Name Filho. Em uma conta na nuvem da internet, de um dos suspeitos presos na operação, a polícia encontrou, inclusive, 26 fotografias da execução de Figueiredo.

Outra execução que teria sido cometida pela milícia, conforme a representação do Gaeco à Justiça, foi a de Orlando da Silva Fernandes, em 26 de outubro de 2018. Ele foi segurança do narcotraficante Jorge Rafaat, executado em junho de 2016, em Pedro Juan Caballero, na fronteira com o Brasil. Fernandes, que teria ligação com Figueiredo, foi morto no Jardim Autonomista, bairro nobre de Campo Grande, quando estava caminhando em direção ao seu carro. Os tiros atingiram principalmente a sua cabeça. Na carteira da vítima foi encontrado um cheque no valor de R$ 240 mil e ainda R$ 1.200 em dinheiro.

A terceira morte que teria sido cometida pela milícia, segundo o Gaeco, foi a do estudante Matheus Xavier, de 19 anos. Ele foi morto no dia 9 de abril deste ano, no bairro Jardim Bela Vista, quando manobrava a caminhonete do pai, o capitão aposentado da PM, Paulo Roberto Xavier. A investigação aponta que Jamil Name, acreditava que Paulo Roberto Xavier tinha se aliado a um advogado, com quem ele tinha tido um desacordo em negociação de fazendas que pertenceram ao reverendo Moon localizadas em Jardim e em Campo Grande. Por conta do revés nos negócios, Jamil Name, conforme o relatório da polícia, teria dado ordem para matar o advogado, a esposa dele e seu filho, além do ex-policial militar.

Transferência

Na madrugada de quarta-feira (30) passada, o empresário Jamil Name foi transferido do presídio federal de Campo Grande para a penitenciária federal de Mossoró (RN). O tempo de prisão é de 60 dias, podendo ser estendido por até 12 meses. A Justiça Federal também autorizou a transferência do filho dele e de dois policiais, Márcio Cavalcanti e Vladenilson Olmedo, apontados como integrantes da milícia.

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