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Polícia

Chefe de facção executado em São Paulo teria contratado piloto de helicóptero usado para matar Gegê

26 fevereiro 2018 - 15h22Por G1

O piloto do helicóptero usado na operação em que foram assassinados Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, integrantes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), disse que foi contratado para levar passageiros do Ceará para São Paulo e obrigado a pousar pouco depois da decolagem.

Ele negou ter simulado uma pane na aeronave e disse que viu as execuções em Aquiraz, a 30 quilômetros de Fortaleza.

O advogado de Felipe Morais contou ao Fantástico que o piloto foi contratado por Wagner Ferreira da Silva, conhecido como Cabelo Duro, também da cúpula do PCC e executado a tiros na frente de um hotel em São Paulo na última quinta (22). Segundo a defesa, Morais escondeu o helicóptero e pretende se apresentar à polícia nesta semana.

Gegê do Mangue, foragido da Justiça e apontado como o segundo chefe na hierarquia da facção criminosa de São Paulo, abaixo apenas de Marcola, foi morto a tiros no dia 15. Os corpos dele e de Paca foram encontrados em uma reserva indígena com marcas de tortura, com facadas nos olhos.

Segundo a investigação, o helicóptero saiu de São Paulo com sete ocupantes, incluindo Cabelo Duro, foi usado em uma emboscada no Ceará e depois pousou em uma área de mata no Rio Grande do Norte, onde os assassinos tentaram destruir provas do duplo homicídio.

A principal suspeita para o crime é que os assassinos são integrantes da própria facção e teriam agido a mando de Marcola. A motivação seria vingança.

Em dezembro, um ex-chefe da quadrilha, Edílson Nogueira, conhecido por Birosca, foi assassinado dentro da cadeia. A ordem teria partido de Gegê do Mangue, sem a permissão de Marcola.

Um bilhete encontrado em um presídio no interior de São Paulo sugere que Gegê e Paca foram mortos pelo próprio PCC porque teriam desviado dinheiro da facção. A mensagem cita Cabelo Duro.

A Justiça determinou a prisão de 11 suspeitos de participação no assassinato de Gegê e Paca. Entre eles Wagner Ferreira da Silva, que foi morto horas depois, e Felipe Morais. O piloto tem passagem na polícia por tráfico e, em 2013, foi preso por fazer voos rasantes em uma cidade de Minas Gerais. Não há confirmações se algum dos suspeitos já foi preso.

Segundo as investigações, Gegê e o comparsa não desconfiaram da emboscada. Eles teriam descido do helicóptero acreditando ter havido uma pane, e só depois foram torturados e mortos.

A polícia investiga se alguns dos assassinos já esperavam na mata.

Férias

Gegê e Paca passaram o carnaval em uma mansão avaliada em R$ 3 milhões, em um condomínio de luxo em Aquiraz. O imóvel e mais outra mansão avaliada em R$ 2 milhões, investigada pela polícia, estão no nome de laranjas.

Os criminosos usavam o período de férias para ir ao Ceará reencontrar familiares. Há fotos de Paca em janeiro do ano passado em um famoso parque aquático do estado.

De acordo com o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, o deslocamento do chefe da facção e do comparsa era feito sempre por aeronaves fretadas que saíam do Paraguai ou da Bolívia direto para o Ceará.

Na portaria do condomínio de luxo em Aquiraz, o cadastro dos dois foi feito com nomes falsos. Gegê era “João Paulo Martinelli” e Paca “Carlos Fabiano Duarte”. Além de usarem documentos falsos, eles alegavam ser empresários que pretendiam investir na região.

No dia do crime, os dois passaram pela portaria pela última vez às 7h46.

Degraus do crime

Antes de se tornar chefe da maior quadrilha de São Paulo, Rogério Jeremias, o Gegê, começou no crime ainda na adolescência vendendo drogas no Bairro Vila Madalena, em São Paulo. A clientela eram os “descolados” que frequentavam os barzinhos do bairro.

Gegê passou mais de 16 anos preso em 13 presídios diferentes. Foi solto pela última vez em fevereiro de 2017. Um ano depois, assassinado em uma emboscada.

Saiu da cadeia com um habeas corpus do ministro Marco Aurélio Melo, do Supremo Tribunal Federal, para aguardar julgamento por duplo homicídio em liberdade. Porém, não compareceu ao juri e passou a ser considerado foragido da Justiça.

Gegê foi condenado a 47 anos de prisão. Paca, foragido desde 2013, era condenado a oito anos de prisão por sequestro, roubo e tráfico.

Tráfico internacional

Em liberdade, o chefe do PCC recebeu a missão de controlar as negociações de drogas no Paraguai e na Bolívia. Há suspeita de que ele passou a viver em Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia. Foi nesse período que se aproximou de Paca, que já se escondia no país.

Segundo o promotor Gakiya, “a presença de dois líderes na região do Paraguai, da Bolívia, propiciou um ganho muito grande pra facção em termos do aumento da quantidade de droga que realmente a facção pôde exportar, inclusive para a Europa”.

Ostentação

O promotor também afirma que Gegê e Paca gastaram muito dinheiro do crime. O investimento chegava à ordem de R$ 10 milhões com mansões, casas de veraneio de luxo e carros importados.

Segundo informações do Ministério Público, um filho de Paca ganhou um carro Porsche, no valor de mais de R$ 300 mil, e estuda na Inglaterra.

“Tudo isso gera cobiça por parte daqueles integrantes que não estão na cúpula”, comenta o promotor Gakiya.

As investigações também apontam que Gegê e Paca podem ter se tornado alvos por estarem esbanjando dinheiro.