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Opinião

Faltou uma pitada de humildade na carta de renúncia

12 dezembro 2010 - 14h05Por Ribeiro Arce

A história do Brasil está repleta de renúncia política de cargos públicos. O primeiro governante brasileiro, pós independência, D. Pedro I, renunciou o mandato, ou melhor dizendo, abdicou em nome do seu filho, D. Pedro II que à época tinha apenas cinco anos de idade. Pedro I redigiu de próprio punho um bilhete, datado de 7 de abril de 1831, renunciando o cargo de imperador. Arrogante e autoritário citou no inicio do bilhetinho “usando do direito que a Constituição me concede...”. Diga-se de passagem a Constituição havia sido feita e outorgada pelo próprio, alguns anos antes. Deixou o Brasil na mão de uma regência e foi lutar contra seu irmão, D. Miguel pelo trono português.

Getulio Vargas, intitulado de “pai dos pobres” também renunciou o mandato de presidente da República em 5 de agosto de 1954, antes, logo depois da Segunda Guerra Mundial, havia sido escorraçado do cargo, em virtude da queda do fascismo na Europa, regime do qual ele era seguidor aqui no Brasil. Diferente de Pedro I, deixou uma carta testamento explicando suas razões, antes de se suicidar com um tiro no peito.

Sete anos após o suicídio de Vargas, foi a vez de Jânio Quadros renunciar o mandato de presidente da República. O fenômeno eleitoral Jânio Quadros ficou apenas 7 meses no cargo, na carta renúncia divulgada em 25 de agosto de 1961, alegou como motivo as tais “forças ocultas” nunca explicadas detalhadamente por ele. Mais tarde confessou que a renúncia foi apenas um blefe.

O presidente Fernando Collor também renunciou o mandato em 1992, mas não escapou do impedimento pelo Congresso Nacional. Ficou inelegível por oito anos. A renúncia  geralmente é precedida de pressão. O sujeito não aguenta o “tranco” e deixa o cargo. Porém, antes de sair explica, ou tenta explicar, o motivo gerador da atitude, geralmente com uma carta carregada de frases de efeito. Foi o que aconteceu com o ex prefeito de Dourados, Ari Artuzi, o ex vice prefeito Carlinhos Cantor e o ex presidente da Câmara de Vereadores Sidlei Alves. Os referidos políticos, grandes responsáveis pelo caos por que passa a cidade de Dourados, e que devem passar para a história como crápulas do serviço público, também deixaram suas cartinhas de renúncia.

O conteúdo das cartas de renúncia dos três foi amplamente divulgado pela mídia, após dar entrada no protocolo da Câmara de Vereadores de Dourados. O ex- prefeito diz que renunciou para garantir eleições diretas para escolha do novo prefeito da cidade. Segundo ele, seu destino estava traçado no legislativo, por isso não ia submetê-lo ao “teatro” armado pelos seus desafetos na Câmara. Carlinhos Cantor, o ex vice prefeito de Artuzi, também se apegou no legislativo para renunciar o cargo. Já o ex presidente da Câmara, Sidlei Alves foi mais sucinto, alegou razões de cunho pessoal para renunciar.

Após passar três meses trancafiados na cadeia os três, pelo jeito, não aprenderam um dos princípios básicos do homem cristão – a humildade. Não custava nada lembrar da  generosidade do povo douradense para com eles nos pleitos eleitorais nos períodos de 2000 a 2008. Faltou o pedido de desculpas, ou melhor, perdão pelos males que causaram a cidade e ao povo. Mas ainda a tempo de tirar essa mácula do nojento currículo das ex vossas excelências. Para isso basta ter um pouco de dignidade e vir a público pedir desculpas para o povo douradense, especialmente para os eleitores que confiaram neles elegendo-os para cargos públicos. Afinal,
os eleitores são merecedores de uma retratação.

O autor é professor da rede estadual de ensino. E-mail: ribeiro [email protected]