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Opinião

Uma tragédia política anunciada

01 dezembro 2010 - 10h31Por Ribeiro Arce

O prefeito afastado de Dourados, Ari Artuzi, prestes a ter o mandato cassado pela Câmara Municipal de Vereadores, por uma série de irregularidades administrativas e acusações de desvios de dinheiro público, teve uma ascensão eleitoral meteórica jamais vista em Dourados, cidade escolhida por ele para morar e fazer carreira política. Em dez anos de vida pública passou de fenômeno eleitoral para presidiário na cadeia federal de Campo Grande. Muita gente  ainda pergunta, por que o povo deu poder para um despreparado exercer o cargo de prefeito da mais importante cidade do interior de Mato Grosso do Sul?

No ano de 2000 obteve 1.594 votos e foi eleito vereador pelo partido do PSDB, começava ali no legislativo douradense a carreira político-partidária meteórica de Artuzi. Durante os dois anos  de mandato de vereador não apresentou nada que justificasse sua eleição. Não puxou nenhum debate qualificado para discutir os problemas da cidade. O que fez? Conseguiu propor e até aprovar alguns projetos de lei sem nenhuma significância social ou econômica que beneficiasse o povo, eram proposituras para nomear ruas e creches e, claro, mudou de partido, trocou a legenda tucana pelo PMN.

De partido novo, aproveitou o momento eleitoral de 2002 para alçar voo rumo à Assembleia Legislativa, candidatou-se a deputado estadual e foi eleito com 6.821 votos. Sua excelência, agora era deputado estadual, tinha mais poder e influência política. Na Assembléia teve um mandato pífio, votava em tudo que o governo Zeca enviava à Casa, não discutia e nem propunha mudança. Chegou ao ridículo de explicar sua votação no projeto que propunha a aposentadoria vitalícia para o governador, dizendo “foi um pacotão lá”. Para conhecer seus projetos de lei como deputado, convido-o a acessar o site da Assembléia de MS.

Porém, como deputado intensificou suas ações em Dourados, cidade amada por ele. Tinha uma estrutura de fazer inveja para os maiores especialistas em tirar proveito da miséria do povo, promovendo o famigerado assistencialismo. Carregar o povo para a porta dos hospitais, nos velórios e cemitérios era uma prática corriqueira. A ação que mais marcou o primeiro mandato do deputado aconteceu na fatídica manhã de segunda feira, 27 de outubro de 2003, quando ele e o parceiro Walter Hora, então vereador do PPS, munidos de picareta e pé de cabra promoveram o arrancamento dos tachões da ciclofaixa da rua Cafelândia, na região do Grande Água Boa.

Na época a imprensa deu grande repercussão para o caso, em editorial o jornal Correio do Estado destacou “os atos do deputado Ari Artuzi e do vereador Walter Hora são rebaixados e regressivos, típicos de mentalidade autoritária”. Como não aconteceu uma punição exemplar para os vândalos destruidores do patrimônio público, apesar da grande divulgação por parte da mídia, o eleitorado do deputado não se deu conta da gravidade do crime cometido pelo parlamentar. Ficou parecendo coisa normal.

Ainda no primeiro mandato de deputado, Ari Artuzi trocou de novo de partido foi para o PDT. Um pouco antes do pleito eleitoral de 2006, saiu do PDT e se filiou no PMDB, partido do governador André Puccinelli e saiu candidato a reeleição. No programa eleitoral na TV encerrava sua aparição dizendo “eu e o André nós somos trabalho”. Saiu daquela eleição com uma “mala” de votos – 36.960, o deputado estadual mais votado da história de Dourados.

O poder do moço cresceu ainda mais, na Assembléia seu mandato continuou pífio, mas em Dourados, a querida e amada cidade do deputado, as ações assistencialistas e de trancamento de ruas intensificaram. Também aconteceram fatos escabrosos que nunca ficaram esclarecidos, como os tiros de arma de fogo disparados contra a casa e o carro dele. Mas a campanha de prefeito era evidente, seu eleitorado só aumentava em Dourados, faltava só se ajeitar com os caciques políticos sediados em Campo Grande.

Os caciques políticos da Capital, capitaneados por Londres Machado, Ari Rigo, Dagoberto Nogueira e outros, viabilizaram sua candidatura, mas antes foi preciso de novo mudar de partido. Para Artuzi trocar de partido é coisa simples, afinal a grande maioria do eleitorado dele não está nem ai para esse quesito. Rapidinho trocou o PMDB pelo PDT. Essa troca de legenda trouxe alguns transtornos, teve o mandato questionado na justiça, mas conseguiu mantê-lo.

Foi hostilizado pelo governador que chegou a chamá-lo de “animal de pelo curto”. Frouxo e medroso ficou calado diante de todas as provocações de André Puccinelli. De legenda nova, com apoio de políticos de peso da Capital do Estado e de empresários endinheirados e a simpatia do eleitorado das classes populares que via nele a solução de seus problemas, Artuzi e Carlinhos Cantor puderam se lançar tranquilamente na maior aventura da vida deles: administrar a cidade de Dourados. Na campanha, fugia dos debates e quando questionado sobre qualquer assunto que não dominava saia pela tangente. Para ele, os problemas da cidade eram fáceis de ser resolvidos. Chegou a afirmar que resolveria os problemas da saúde em cinco meses. Cada mentira que soltava via seu índice de popularidade aumentar nas pesquisas de intenção de voto.

Terminada a eleição de 2008, lá estava o fenômeno eleitoral Ari Artuzi, prefeito de Dourados, com 45 mil e 182 votos. Bom, de sua desastrada administração coroada por denúncias de irregularidades administrativas e desvios de dinheiro público, que culminaram com três gigantescas operações da polícia federal, “Owari”, “Brother’s” e “Uragano”, não há necessidade de comentar, afinal continua fresquinha na cabeça do eleitor.

Agora, respondendo a pergunta feita no primeiro parágrafo desse artigo, percebe-se que Artuzi é um gênio em enrolar eleitor desinformado. Seu eleitorado não conseguiu perceber que ele desrespeitava as instituições partidárias, iludia o povo  desinformado com falácias, não apontava soluções concretas para solucionar os problemas enfrentados pelo povo, mentia  descaradamente e se colocava acima da lei. Dessa forma conseguiu enganar 45.182 eleitores de Dourados.

Apesar de drástico e sinistro, haja vista as condições caóticas em que se encontra a cidade, que essa rápida passagem de Ari Artuzi por Dourados sirva de uma grande e eterna lição para o eleitorado não cair nunca mais no “conto do vigário”.

O autor é professor da rede estadual de ensino de MS. E-mail; [email protected]