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Opinião

Crônica em retalhos: a UFGR

06 setembro 2010 - 23h30Por Redação Douranews

Desejaria escrever de tal modo que mesmo a acidez da verdade se tornasse poética, no entanto, perdoe-me o leitor, mas se erro na forma, ao menos, não fujo da essência.

Uma infâmia? Essa crônica é ao mesmo tempo um complemento e uma resposta. Complementa ”O dossiê UFGD e a vinda de Lula a Dourados”, considerada uma infâmia pelo assessor e advogado Sérgio Henrique Pereira Martins de Araujo. Responde ao artigo desse assessor publicado em “O Progresso” no dia 24 de agosto de 2010, intitulado “O dossiê da UFGD: a verdade”. Penso que não seja uma infâmia escrever a história, mas vamos aos fatos:

Metralhadora giratória: ao invés de responder objetivamente, dizendo o que o Deputado Geraldo Resende fez em benefício da UFGD, seu assessor resolveu adotar a postura nazista do chefe, acusando-me de inúmeras situações, inclusive de “maquiar a história para diminuir (ou se pudesse, anular) a participação do parlamentar em favor da luta pela implantação da UFGD”.

Historiador de Ofício: Ao longo de minha carreira como historiador passei pela graduação, especialização, mestrado, doutorado e, mesmo assim, reconheço que é difícil escrever a história. Recuperá-la então, tal qual aconteceu, é obra impossível mesmo para os historiadores, que possuem as ferramentas necessárias para a investigação científica. No entanto, não podemos confundir essas dificuldades de se escrever a história com a tentativa de apropriação indébita de um determinado projeto por quem quer que seja.

Reconhecimento: Preliminarmente, desejo reconhecer que o Deputado Geraldo tem méritos na criação e implantação da UFGD, tanto quanto a bancada federal de Mato Grosso do Sul, inclusive o ex-deputado Murilo, mesmo sendo proprietário de instituição particular. Os méritos de Geraldo, no entanto, foram obscurecidos pela sua “esperteza” em tentar ser “o pai da UFGD”, entrando com um Projeto Legislativo em 2003, quando tudo já estava encaminhado. Muito mais fizeram, sem alarde, as forças vivas de Dourados, os deputados João Grandão e Antonio Carlos Biffi, o Senador Delcídio, o ex-prefeito Tetila, o ex-governador Zeca e o grupo de professores do CEUD/UFMS que redigiu o projeto definitivo para a implantação da UFGD.

Pesquisa nos Anais da Câmara. Anais são os registros feitos da história ou dos fatos marcantes ocorridos na Câmara Federal. Em 10/09/2003, às 14 hs. 48 min., por exemplo, consta o registro do pronunciamento do deputado João Grandão sobre a criação da UFGD e a iniciativa da entrega do projeto elaborado pelos docentes do CEUD ao Ministro da Educação Cristovão Buarque, pela bancada do MS, com a presença do prefeito Tetila e do diretor do CEUD, Omar Daniel. Constam nos Anais outras 187 citações da sigla UFGD, mas não existe nenhum registro sobre o projeto Legislativo do Deputado Sérgio Cruz propondo a sua criação. Nem mesmo o Deputado Sérgio Cruz tinha cópia desse projeto, mas com certeza uma cópia estava no dossiê que “vazou”. Foi o que me levou a crer que o deputado ou seus assessores conheceram o referido dossiê.

Respondendo: O assessor parlamentar (de Geraldo Resende) Sérgio Henrique afirma que “artigo de Biasotto deixa no ar algumas questões que a população douradense poderia ver esclarecidas...”  No artigo em pauta não deixei nada no ar. Meu artigo tem começo, meio e fim, o assessor é que, não tendo argumentos, dirige-me algumas questões acusatórias, desconectadas daquele assunto, mas que respondo, transformando fielmente as perguntas do assessor nos títulos abaixo.

Peixe morre pela boca: Geraldo diz por intermédio de seu assessor que em abril de 1987, no Jornal Enfoque, me posicionei contra a implantação da UEMS. Ora, o artigo referido estava no dossiê e foi justamente a partir do seu vazamento que a assessoria do Deputado Geraldo “anunciou” que eu era contra a UEMS. Mas a verdade, no entanto é que me posicionei contra o tresloucado projeto da UILA – Universidade de Integração Latino Americana – e a favor da UFGD. No processo de criação da UEMS participei votando favoravelmente à sua implantação dentro do Campus do CEUD/UFMS. A idéia era no futuro transformar a UEMS e o CEUD em UFGD. Entretanto, junto com a professora Leocádia Aglaé Petri Leme, ouvida a comunidade universitária, alteramos essa idéia em 1996, criando o “Projeto Cidade Universitária de Dourados”, projeto este apoiado por 72 entidades douradenses e levado à bancada em Brasília quando Geraldo Resende nem era deputado.

O líder do prefeito: quando fui líder do prefeito Tetila na Câmara de Vereadores, os estudantes da UEMS e da atual UFGD haviam ocupado o Gabinete do Prefeito Tetila protestando contra o fim do passe livre. Dirige-me ao local, dialoguei com os estudantes, falei ao telefone com o prefeito Tetila que estava em Brasília e resolvemos que contrataríamos uma empresa especialmente para levar os estudantes à Cidade Universitária. Houve acordo, os estudantes desocuparam o prédio com tranquilidade e nós cumprimos o que havia sido combinado. Somente muito tempo depois, quando já não exercia a liderança é que o passe livre foi revogado dada a impossibilidade do poder publico arcar com tal despesa.

Perguntado sobre o que diz o dossiê a respeito do projeto de 13 milhões que o Deputado Geraldo Resende articula em Brasília para a construção do “Instituto da Mulher e da Criança”, respondo que o dossiê UFGD não tem absolutamente nada sobre esse instituto, assim como não diz nada também sobre as várias ações que o deputado moveu em prejuízo do HU.  Uma coisa não tem a ver com a outra, mas de qualquer forma parabenizo o deputado pela mudança de atitude, pois ele que havia tentado privatizar o HU, agora articula um grande projeto. Desejo apenas que não seja mais um projeto eleitoreiro como tantos outros do deputado.

Sobre a Cidade Educadora: O Deputado Geraldo pergunta-me se no dossiê da UFGD consta “o resultado prático do Projeto Cidade Educadora”. Não, nada consta, mesmo porque  sobre o Projeto Cidade Educadora possuo outro dossiê que felizmente não extraviou. De qualquer forma, poderia citar mais de cem projetos que foram desenvolvidos pelo “Cidade Educadora”, mas por exigüidade do espaço ofereço apenas um resultado prático: Dourados foi aceita como afiliada da Associação Internacional das Cidades Educadoras, tornado-se conhecida internacionalmente. Será pouco?

Peixes nas faixas do cidadão: O projeto Cidade Educadora não teve absolutamente nada a ver com os peixinhos pintados em faixas de pedestres. Existem coisas que acontecem sem a nossa intervenção. Não somos tão importantes quanto julga o Deputado. Se influenciássemos em tudo teríamos conseguido colocar guias para deficientes visuais na pista de caminhada em volta do Colégio Nossa Senhora do Calvário, cujos recursos foram viabilizados por emenda de Resende.

Sobre emendas para a UFGD: Realmente o deputado Geraldo Resende viabilizou recursos para a piscina e um dos blocos da Agronomia. Nesse sentido está de parabéns. À Cesar o que é de César,  mas outros deputados e o senador também viabilizaram verbas. A verdade é que o deputado Geraldo havia perdido o ônibus da história, depois pegou carona e ainda quis andar na janelinha e ficar acenando.

Obstáculos: Na história da UFGD, com certeza, serão mencionadas várias ações do deputado, mas também será mostrado que Geraldo Resende, ou por desconhecimento da causa ou “esperteza”, mais atrapalhou que ajudou na implantação da UFGD. Eis as hipóteses que precisam ser consideradas: 1) quando articulávamos com o governo Zeca para transformar a Santa Casa em Hospital Universitário o deputado, que à época era Secretário de Saúde, tentou a sua privatização; 2) Mais tarde, já na condição de deputado, entrou com várias ações na Justiça (seis se não me engano) para impedir o funcionamento do HU; 3) Em 2003, numa atitude sectária e à revelia do processo que encaminhávamos, o deputado deu entrada a um Projeto Legislativo para a criação da UFGD que, não fosse a grandeza de espírito de nossos outros deputados e senadores, a teria inviabilizado; 4) Foi ainda o deputado (ao menos inicialmente) contrário à tutoria da UFGD pela Universidade de Goiás, queria o seu aliado, o reitor Peró, como tutor da criação da UFGD; 4) Quando da escolha do reitor da UFGD o deputado Geraldo Resende  também interferiu, quase inviabilizando a indicação do professor Damião (o que seria um desastre). Foi quando o meu nome surgiu como alternativa e tornei-me o “bode expiatório” de uma situação muito incômoda e ainda até hoje mal resolvida.

Incoerência incontestável: Quando estivemos no MEC com várias autoridades douradenses e uma comissão de alunos, acompanhados dos senadores Delcídio, Ramez e Juvêncio e mais alguns deputados, para resolver as dificuldades do curso de Medicina, o deputado Geraldo colocou-se ao lado do Reitor da UFMS, prof. Catarino Peró. Foi necessária a intervenção do coordenador da bancada, o deputado Biffi, para que não se estabelecesse o caos. E todos nós sabemos que o Reitor Peró desejava transferir os alunos da Medicina de Dourados para Campo Grande, o que significava na prática, o fechamento do curso. A incoerência? Nos Anais da Câmara encontraremos discursos em que o deputado Geraldo Resende critica o reitor Peró sobre a Medicina. Quer dizer, há um discurso para cada ocasião. Enfim, se um dia eu escrever a história da UFGD, com certeza, saberei estabelecer os limites, contrabalancear as ações positivas e negativas do deputado. Enquanto isso deixemo-lo falando de sua UFGR (Universidade Federal Geraldo Resende).

Suas críticas são bem vindas: [email protected]

* Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.