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Opinião

Adequação de presentes: os inúteis e os geradores de novas perspectivas

26 novembro 2010 - 11h05Por Wilson Biasotto

Dar uma cuia de chimarão para um nordestino, jamais poderia ser boa ideia. Tenham dó, no calor nordestino um tereré bem geladinho até que não seria má idéia, mas chimarrão? Seria o mesmo presentear um gaúcho com uma cafeteira. Existem presentes que são inadequados. No entanto dar uma cafeteira para uma paulista não seria má ideia mesmo que ela não soubesse o funcionamento da máquina. Com certeza aprenderia muito facilmente. Se presentearmos um idoso beirando aí os seus setenta anos, com um belo par de patins, o mais provavel é que estejamos sendo inadequados, mas se o presentearmos com um computador, mesmo que ele nunca tenha manuseado um, estamos dando-lhe algo adequado, perfeitamente exequivel.

Em outras palavras, o que desejo dizer é que os presentes inadequados são aqueles que não serão colocados em uso por razões de ordem climática ou cultural, ao contrário dos presentes que oferecemos com a expectativa de que o seu beneficiário seja estimulado a usá-lo. Muitos filhos ganham a sua primeira bicicleta, por exemplo, antes de saber conduzi-la, no entanto três ou quatro tombos depois já estão alegres e safisfeitos, circulando por todos os lugares.

Da mesma forma ocorre com as cidades. Não seria adequado elaborarmos programas para dotarmos as residenciais de nossa cidade com aquecedores. Ora, se vivemos nesse maravilhoso clima tropical, para que aquecedor? Nossa cidade precisa é de outras coisas e são tantas que precisamos estabelecer prioridades. Para isso existe o que se convencionou chamar de planejamento estratégico.

O planejamento estratégico implica no estabelecimento das prioridades da cidade, sendo que existem dois tipos de preocupação nesse caso.

A primeira preocupação do administrador público é estabelecer a compatibilização entre os recursos financeiros existentes com o atendimento das necessidades prioritárias básicas. Saúde, educação, obras, limpeza pública, enfim, partilha-se o total de recursos para a manutenção dos serviços essenciais. A paritr dessa divisão cada Secretaria estabelece as suas próprias prioridades, afunilando a tal ponto que muitas vezes são os recursos que determinam que os burados da rua x (mais movimentada) e não da rua y é que serão tampados numa primeira etapa.

A segunda preocupação é dotar a cidade dos equipamentos necessários para o seu desenvolvimento. Se a cidade está se industrializando, nada mais sábio do que ver qual a demanda da energia elétrica necessária para a expansão industrial e qual a disponibilidade das redes de transmissão. Se o forte da cidade for o comércio nada mais natural que a cidade invista em decoração nas festas comemorativas, especialmente as de finla de ano. Se tiver tanto a vocação industrial como comercial então o administrador deve estar atento para as duas situações e um equipamento para dar sustentabilidade a esses dois ramos é o pavilhão de eventos.

Se, por outro lado, a cidade tiver outras vocações, como a prestação de serviços, ou a educação, nada mais natural que o administrador viabilize um centro de convenções, preferencialmente ao lado do pavilhão de eventos, pois assim dará grande incremento ao turismo, essa fantástica indústria sem chaminés que tem trazido tantos benefícios para algumas cidades que planejaram o seu desenvolvimento.

Dourados específicamente, dotada de comércio sólido, industrialização nascente, com quatro instituições de ensino superior, inclusive com curso de Turismo e Relações Internacionais, precisa de equipamentos públicos voltados para atender a esse pujante seguimento.

É muito triste admitirmos que ao invés de estarmos preocupados em sediar grandes congressos, tenhamos que ficar discutindo apenas situações primárias, a exemplo das operações de tapa-buracos. E não é desmerecendo a capacidade das últimas administrações, mas por herança histórica que um dia as nossas forças vivas haverão de discutir com profundidade.

Suas críticas são bem vindas: [email protected]

* Membro da Academia Douradense de Letras; aposentou-se como professor titular pelo CEUD/UFMS, onde, além do magistério e desenvolvimento de projetos de pesquisas, ocupou cargos de chefia e direção.