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Opinião

“Obrigado” a um ex-governador

30 outubro 2010 - 11h07Por Marcos Troquez

Neste artigo “visto a roupa” de um companheiro e amigo e passo a narrar aqui um acontecimento da sua vida. Não vou dizer os nomes dos indivíduos, mas o Estado é o nosso Mato Grosso do Sul. Os fatos são reais, assim como as personagens. A partir daqui, assumo a identidade de meu amigo que foi professor no passado:

Certa feita, meu filho e eu fomos a uma instituição estadual de ensino em busca de um documento. Para minha surpresa, lá pude rever vários colegas dos meus tempos de professor e diretor de escola pública nas décadas de 80 e 90. Entre estes heróis estava um senhor muito dedicado e compenetrado nas tarefas que executava (serviços burocráticos). Este, além do par de óculos com vários graus, necessitava ainda do auxílio de uma “lupa” para enxergar os escritos dos livros e documentos. Chamei a atenção de meu filho para tal situação e lhe falei que aquele ali seria eu se não tivesse dado ouvidos aos conselhos de meu ex-governador.

Hoje sou funcionário público federal quase aposentado, com um salário razoável e ainda com boa saúde, graças a Deus. E aquele cidadão, será que já aposentou? Será que viverá para isto? Será que poderá curtir um pouco a vida após aposentar? O meu amigo ex-governador, eu sei pela mídia que está muito bem. Recentemente, encontrei-o em uma festa, porém não tive oportunidade de agradecê-lo. Mas agradecê-lo por quê? Vamos lá:

Lá pelos fins dos anos 80 e início dos 90. Eu era professor e diretor de escola na rede estadual de ensino do Mato Grosso do Sul. Estávamos já há 7 meses sem o pagamento dos nossos salários. Então a classe dos professores decidiu fazer um movimento reivindicando seus pagamentos. Assim como os demais colegas de profissão, “comi o pão que o diabo amassou” para sobreviver. Casado há pouco tempo, com uma filhinha recém-nascida, eu e minha esposa sobrevivemos com a ajuda de parentes e amigos. Pra piorar as coisas, no dia em que eu recebi todo o atrasado no banco (de uma só vez), perdi todo o dinheiro no caminho pra casa. Não fui assaltado, não. Perdi mesmo. Mas com a ajuda de Deus sobrevivi e hoje estou aqui.

Na ocasião das reivindicações pelos salários atrasados, tivemos que ouvir ainda do governador o seguinte conselho: “Quem não está contente, que faça concurso para outra coisa”. E foi o que eu fiz.

Tenho orgulho, respeito e admiração pelos meus companheiros heróis que permaneceram na educação e também pena por muitas vezes estarem submissos a inescrupulosos governantes que não valorizam uma das mais importantes categorias para a formação de uma sociedade melhor: o professor.

Esta história leva-nos a refletir sobre a atitude do referido governador que, ao invés de buscar melhorar os salários e as condições de trabalho dos professores, fez “pouco caso” da profissão docente sugerindo-lhes a mudança de emprego, como se os professores não merecessem receber salários dignos e em dia.

O autor é funcionário público federal e cidadão douradense

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