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No dia 5 de julho de 2010, o Presidente Lula visitou a Guiné Equatorial, um dos países mais pobres da África. É governado por Teodoro Obiang Nguema Mbasogo, que se mantém no cargo há 31 anos, dono de uma fortuna de 600 milhões de euros, enquanto a população local, em sua quase totalidade, jaz na mais esquálida miséria.

De acordo com a imprensa, «os assassinatos e as fraudes cometidas por Nguema Mbasogo não estão na lista de preocupações do governo brasileiro», apesar de se declarar paladino da democracia e dos direitos humanos. O Ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, defendeu-se das críticas recebidas recorrendo ao slogan de um liberalismo que já se pensava sepultado: «Negócios são negócios!». Em outras palavras, o que vale é o comércio, o resto é resto. Quando o assunto é dinheiro, a diferença entre esquerda e direita – no caso, entre Lula e Nguema Mbasogo – não é lá tão grande...

Além da Guiné Equatorial, Lula visitou várias outras nações de um continente onde se localizam sete dos dez países mais falidos do mundo (os outros três são asiáticos). É o que revela a revista americana "Foreign Policy", após analisar a situação de 177 países, avaliados de acordo com doze critérios, entre os quais a segurança da população, o respeito pelos direitos humanos, a educação da juventude, a saúde pública, a taxa de emprego, etc.

Os primeiros cinco se situam na África: a Somália, o Chade, o Sudão, o Zimbábue e a República Democrática do Congo. O sexto e o sétimo, na Ásia: o Afeganistão e o Iraque. O oitavo e o nono, novamente na África: a República Centro Africana e a Guiné. O último, na Ásia: o Paquistão.

Quais são os problemas de inúmeros países africanos, que não conseguem sair de uma agonia que se prolonga há séculos? Não sou especialista no assunto, mas, em sua quase totalidade, eles são dirigidos por governos ditatoriais, que se mantêm no poder inclusive porque o povo (por motivos religiosos ou históricos) desconhece a democracia. A colonização, que no passado era apenas europeia, ampliou seus horizontes e passou a ser sustentada também por outros países, sobretudo asiáticos. A corrupção campeia livremente. Um continente entregue à sua sorte, esquecido pelo resto do mundo e, não poucas vezes, castigado pela inclemência da natureza.

Quanto aos países da Ásia, a devastação que os massacra é uma guerra que parece não ter fim, sustentada por nações "desenvolvidas" que, enquanto falam de paz, enriquecem às custas de armas que vendem a povos "subdesenvolvidos".

Infelizmente, entre elas está também o Brasil, como revelam alguns tópicos do jornal "Correio Braziliense", em sua edição de 10 de maio deste ano: «Brasil fabricou bombas que o governo do Sri Lanka usou em massacre condenado pela ONU». «Munição nacional abastece quase metade das nações com conflitos étnicos e religiosos».

«Em janeiro do ano passado, 116 toneladas de bombas brasileiras foram vendidas para a Força Aérea do Sri Lanka». «Nos últimos 10 anos, o Brasil exportou, por U$ 17,8 milhões, um total de 777 toneladas de bombas, foguetes, mísseis e outros tipos de munição para países nos quais esses embates armados já mataram 1,3 milhão de pessoas». «Das 18 nações que, no ano passado, registraram os conflitos, sete são abastecidas por empresas brasileiras».

Mas, para não se escandalizar com o que acontece ao largo e ao longe, convém não esquecer que a maioria dos 45.000 índios que reside na Diocese de Dourados jaz numa miséria igual, ou até superior, à das populações dos países acima citados. Apesar disso, numa de suas aldeias, encontrei uma liderança (não sei se cacique ou capitão) rodando numa camionete avaliada em mais de R$ 100.000,00, recebida de um produtor rural, como gratificação pelas terras da comunidade que lhe repassara para o plantio...

Quando se esquece que «o único e verdadeiro capital a salvar é o ser humano» – como repete o Papa Bento XVI – não se pode esperar um futuro melhor para ninguém, seja ele rico ou pobre, africano ou asiático, ou simplesmente um índio de Dourados. Pois «o apego ao dinheiro é a raiz de todos os males» (1Tm 6,10).