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Opinião

A nossa friaca

09 agosto 2021 - 13h59Por FAUSTO MATTO GROSSO

Neste ano, o frio extremo que vem do Sul atingiu fortemente o Sudeste e parte do Centro-Oeste brasileiro. Ao mesmo tempo o Hemisfério Norte padece com recordes de calor e volume de chuvas. No Canadá, os termômetros chegaram a quase 50ºC e as chuvas muito acima dos padrões inundaram cidades na Alemanha e na China, com grande perda de vidas.

Esses fenômenos parecem desconexos, mas segundo a ciência eles se prendem à realidade das mudanças climáticas. É importante diferenciar o conceito de clima de uma região, do tempo que está fazendo nela. Clima é uma característica dos padrões de comportamento de longo prazo, já a previsão do tempo para amanhã ou para a próxima semana, é uma situação pontual sem maiores consequências. As mudanças do clima colocam em risco a própria sobrevivência do homem na face da Terra.

Não é fácil para o leigo entender as complexas questões do funcionamento do sistema climático com seus fatores e elementos, mas a ciência tem apontado que desde a Revolução Industrial vem aumentando a queima de combustíveis fósseis (petróleo e carvão) e o desmatamento, ampliando na atmosfera a quantidade de gases que ampliam o efeito estufa. Esses gases dificultam a dispersão do calor dos raios solares que atingem o planeta, o que tende a aumentar a temperatura no globo como um todo e tem sido a causa comum desses desastres climáticos. Não que o efeito estufa em si seja o problema, ele é um fenômeno natural que possibilitou a existência da vida no planeta, se tal não existisse, segundo estimativas, a temperatura da Terra seria de

-18ºC. Entretanto são as mudanças nesse sistema de frágil equilíbrio, causadas pelo homem, que constituem ameaças aos sistemas vivos.

As recentes ondas de frio no Brasil parecem contrariar a afirmação de que a temperatura na Terra está de fato aumentando. Na verdade, é exatamente o aumento médio da temperatura na América do Sul que empurra ar quente para a Antártida que em correntes circulares em sentido horário trazem, no retorno, o ar frio que tem gelado, em ondas, o sul do Brasil. Mandamos à Antártida massas de ar quente e recebemos dela massas de ar frio, segundo asseguram pesquisadores.

Atualmente vivemos uma realidade marcada pelos eventos decorrentes da crise climática, tanto na produção de alimentos como na produção de energia.

As perdas milionárias nas lavouras queimadas ou congeladas pelo frio provocam a redução da oferta de produtos e consequentemente o choque inflacionário nos preços dos alimentos, que afeta duramente as camadas mais vulneráveis da sociedade. Além de fazer os brasileiros tirarem os casacos do armário, a onda de frio que atinge o país também vai obrigar a população a colocar as mãos nos bolsos – só que não para esquentar.

As secas com os reservatórios vazios prejudica a produção de energia e já levaram à utilização das termelétricas para evitar apagão encarecendo as contas de luz dos brasileiros. É como se o Brasil entrasse no “cheque especial” das energias mais caras e poluentes.

Friaca é uma palavra que não existe oficialmente na língua portuguesa. Segundo alguns autores, ela nem deveria ser usada porque não significa nada. Mais radicais, alguns ainda observam que, além de imprecisa, ela é muito feia. Entretanto a palavra tem sido cada vez mais incorporada ao linguajar dos noticiários meteorológicos. Nos estados do Sul é como dizer: “Piá, pegue a japona que vem friaca aí”.

* É Engenheiro e professor aposentado da UFMS