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Opinião

A hipocrisia do aborto e as eleições presidenciais

16 outubro 2010 - 21h56Por Ribeiro Arce

O aborto enquanto interrupção da gravidez, aparece com fôlego turbinado na boca dos hipócritas e falsos moralistas de quatro em quatro anos durante o período das eleições presidenciais. Isso vem ocorrendo sistematicamente desde o restabelecimento das eleições diretas para presidente da República pela Constituição de 1988. É só chegar o período eleitoral o aborto cai como uma bomba no colo da esquerda, especialmente no do candidato do PT, como no momento.

Agora, por exemplo, os falsos moralistas tentam de toda forma colar na candidata Dilma do PT a pecha de defensora do aborto. Fica fácil saber porque é propicio sua utilização nesse período. É uma pecha que gruda com facilidade tremenda na língua do analfabeto e do desinformado por conhecimento ou ignorância que sai espalhando o assunto por onde anda, claro, depois de uma boa conversa com o amigo letrado que o instruiu para isso.

Vale ressaltar que o tema relacionado ao aborto vem sendo discutido desde o inicio da década de 1990 pela Câmara dos Deputados e Senado Federal, são inúmeros os projetos que tramitaram e ou tramitam nas referidas Casas de Leis, inclusive apresentadas por membros do alto tucanato, como Eva Blay, que quando substituiu Fernando Henrique Cardoso no senado, em 1993, apresentou até projeto de lei regularizando a prática. Porém, tais discussões ficam restritas aos movimentos organizados e nunca descem até o patamar do povão. Se não chega até a ralé é porque não há interesse.

Nesse momento o aborto fervilha na campanha eleitoral e é tema das mais variadas discussões na sociedade. Uns são contra porque o pastor falou, outros ouviram no sermão do padre, ou na reunião do político. Porém são discussões vazias, com argumentos frágeis e sem nenhum conhecimento legal. O aborto é um tema que deve ser debatido à exaustão com a sociedade. Porém, o debate deve ser qualificado e com ordenamento político, não como acontece agora no afogadilho das eleições. Jogam o assunto no ar com objetivo unicamente eleitoreiro, para prejudicar determinado candidato e iludir o eleitorado a direcionar o voto no dia da eleição para o candidato aproveitador.

O Brasil tem tantos problemas graves e que exigem discussões muito mais urgentes que o aborto, como a educação, a segurança, a preservação do meio ambiente, a saúde como um todo, as obras estruturantes, dentre tantos outros. Além disso, o aborto já é uma prática permitida pela legislação em algumas circunstâncias, como no caso de vítima de estupro. Deixemos de ser hipócritas, o aborto é uma prática usual no Brasil, dependendo da condição financeira da vítima é o padrão da clínica procurada para resolver a gravidez indesejada. Casos e casos pelo Brasil a fora são noticiados com frequência pela mídia. Reportagens sobre venda clandestina de remédios abortivos também são comuns, compram-se até em bancas de camelôs.

Ainda bem que ao longo dos últimos anos, especialmente depois que a virgindade deixou de ser um tabu, o homem foi criando métodos contraceptivos cada vez mais seguros para evitar a tal da gravidez indesejada, a mais comum de todas não precisa nem recomendação de profissional de saúde e pode ser encontrada até nos botequins de ponta de rua – é a tradicional camisinha.

No dia 31 de outubro próximo termina o processo eleitoral e a discussão do tema esfria de novo e vai saindo do inconsciente popular para voltar de novo com força daqui a quatro anos. Seria ótimo continuar o debate e definir uma legislação que atenda os anseios da maioria. Eu, particularmente sou favorável ao aborto nos casos graves e irreversíveis para salvar a vida da gestante e quando a mulher for vítima de estupro. Defendo a discussão democrática com participação popular para resolver essa e outras questões polêmicas de interesse da sociedade.

O autor é professor da rede estadual de ensino de MS. E-mail: [email protected]