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Opinião

Campo atrasado: só 36% dos jovens de 15 a 17 anos no ensino médio. No Pantanal é muito pior

14 outubro 2010 - 14h47Por Ailton Caetano de Matos

foto_ailton_coluna Proporção de adolescentes que conclui a educação básica com a idade ideal subiu 13 pontos percentuais, mas índice ainda é baixo.

Os índices usados para medir o progresso dos estudantes na trajetória educacional revelam uma grande distância entre a realidade das cidades e da área rural. Nas cidades, metade dos adolescentes com idade entre 15 e 17 anos estudam na etapa correta – o ensino médio. No campo, a proporção é bastante inferior: somente um terço desses jovens está concluindo a educação básica.

Apesar dos dados das taxas de escolarização – que mostram quantos estudantes frequentam a etapa correta em relação à idade – dos adolescentes do campo com idade entre 15 e 17 anos terem melhorado nos últimos cinco anos, os detalhes da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram o tamanho da desigualdade educacional do País . De 2004 para 2009, o crescimento foi de 13,7 pontos percentuais.

Segundo as informações chamadas de microdados da pesquisa, em 2004, enquanto 49,3% dos adolescentes da área urbana estavam concluindo a educação básica, apenas 22% dos jovens da área rural estavam na mesma situação. Em 2009, os números subiram para 54,4% e 35,7%, respectivamente. Entre as crianças de 7 a 14 anos, a situação é bem melhor: 94,8% das 5 milhões que moram no campo estão matriculadas no ensino fundamental.

Mais de 1,2 milhão de estudantes do campo com idade para cursar o ensino médio ainda estão no ensino fundamental ou desistiram da escola. Mônica Molina, doutora em desenvolvimento sustentável e professora adjunta da Universidade de Brasília (UnB), reconhece os avanços, mas defende políticas mais incisivas para a área. “O volume de ações não é proporcional ao tamanho do problema”, garante.

Os índices que apontam a quantidade de adolescentes com idade entre 15 e 17 anos que estão cursando a etapa correta, o ensino médio, mostram uma grande distância entre os estudantes que vivem em áreas urbanas e rurais.

Professora Mônica estuda as dificuldades e as especificidades da educação do campo há anos. Para a professora, alguns fatores explicam a distância entre a educação realizada nas áreas urbana e rural. Primeiro, diz ela, a oferta de escolas no ensino médio é insuficiente para a demanda. Há quase 9 mil colégios em áreas rurais. Deste total, 75% oferecem aulas para estudantes de 1ª a 4ª séries do ensino fundamental e 25%, para alunos de 5ª a 8ª. Só 4% desses estabelecimentos têm turmas de ensino médio.

Quando analisamos estes índice no Pantanal Sul-mato-gossensse isso se torna um fato alarmante. Conheço (e muito bem) as fazendas do pantanal e sei que por lá as Prefeituras são responsáveis em pagar os professores  e o fazendeiro entra com as instalações, porém o que era para funcionar com respeito pelo filhos dos pantaneiros é uma verdadeira covardia, salas multiclassiais com mais de 50 alunos em um calor de quase 45 graus, carteiras todas quebradas,  sem ventilação adequada e nem sequer um ventilador de teto (doei um ventilador e os funcionários da fazenda me avisaram que não iriam instalar pra não gastar energia), livros atrasados, banheiro tipo privada, sem armário, casa de madeira sem forro,  isso mesmo tipo cozinha com um buraco a céu aberto... em quase todas as fazenda é assim. Os alunos chegam de cavalo, carroça, a pé, poucos de Toyota, e vão se amontoado e quando fui visitar uma escola dessas cheguei na hora mais quente e todos estavam agonizando de tanto calor, todos estavam suados e inquietos, sem a mínima condição de aprenderem nada. As estradas são terríveis de transitarem tanto na seca e pior na chuvarada.... O professor que se submete a ficar lá dois a três meses sem vir a cidade quase sempre é alguém com uma formação precária que tem que rebolar pra ensinar alguma coisa.

Tenho certeza que nenhum representante do MEC nunca esteve por lá e nem da prefeitura... Os nossos governantes fazem vistas grossas porque lá o contingente é muito pouco e não compensa ser bonzinho onde não tem votos, aja vista que quase todos os peões não tem documentos muito menos titulo de eleitor. Sorte daqueles que estão morando nos arredores das fazendas dos Grandes Políticos do Mato Grosso do Sul, pelo menos as estradas são boas e as escolas melhoram um pouquinho.

Levar os estudantes para estudar na cidade, de acordo com especialistas, não é uma boa solução para o problema. A distância desanima, o transporte público muitas vezes não funciona e, o pior, a escola da cidade perde o significado para o jovem nascido e criado no campo. “A educação no campo tem especificidades que não se limitam à adaptação de conteúdos. Houve um desmantelamento da educação no campo. O conselho definiu novas diretrizes para a área e podemos avançar muito mais”, afirma a conselheira Clélia Craveiro Brandão, do Conselho Nacional de Educação (CNE).

Para a professora da UnB, entender as necessidades de quem mora no campo é essencial para que a realidade possa ser diferente no futuro. “Primeiro, é preciso reconhecer que levar a educação até o campo é um direito dos brasileiros que lá vivem e não um favor. A oferta no local onde eles moram também é importante para que as vivências e o conhecimento prático produzido por eles sejam reconhecidos como valores”, analisa.

Mônica acredita que é preciso romper preconceitos. “A idéia de que tudo o que vem do campo é atrasado e arcaico precisa acabar. Os professores também precisam estar preparados para lidar com isso”, comenta. Para ela, o Programa de Apoio as Licenciaturas em Educação do Campo (Procampo) é fundamental. Ela conta que, no último estudo que fez, com base em dados do próprio MEC, 57% dos 300 mil professores do campo em exercício não tinham formação superior. A infraestrutura das escolas, segundo a professora, também precisa ser melhorada. “A maioria não possui biblioteca, laboratórios de ciência ou informática, nem acesso à internet”, critica Mônica.

O autor é consultor de Agronegócios