Menu
Buscarterça, 23 de abril de 2024
(67) 99913-8196
Dourados
27°C
Artigos

Antologia do exemplo

11 fevereiro 2021 - 17h36Por ERMÍNIO GUEDES

As pessoas se orientam no que leem e pelo que veem, ouvem e sentem, em exemplos, bons ou ruins. De repente tudo muda e regras da decência parecem ter sido feitas para perdedores. O que era verdade virou mentira e a mentira virou verdade. Tudo que era verdadeiro, a cada dia, o é menos. Parece que nova sabedoria teria surgido, numa cólera de negação e apologia conspiracionista. Expressões sem valor moral, ético e estético, no pior da espécie humana: racismo, xenofobia, homofobia, plutocracia, falta de escrúpulos, desonestidade intelectual e visão do vale-tudo pelo poder.

- Pergunto, o que as nossas crianças estão gravando e o que será delas no futuro? Com certeza problemas imprevisíveis porque a violência sempre deixa sequelas incuráveis.

Parece masoquismo, síndrome ao errado, o fazendo de própria consciência e sem arrependimento. Aliás, isso é do homem, negar e até acreditar na própria mentira. Entre os animais poucos mentem como o homem por sentimentos mesquinhos.

O quero-quero faz alarido de mentirinha, longe do ninho, para despistar predador dos seus ovos ou filhotes. Diferente, o homem renuncia à verdade e atenta o espirito, como disse Thomas Paine – “discutir com homem que renunciou à razão é como medicar um cadáver”.

Na desarrumação, a sentença da crise socioambiental, cultural, econômica e política, de consequências devastadoras sobre a biodiversidade. Todos deveriam saber que o caos ambiental, fruto do extrativismo predatório da natureza significa mais aquecimento global e risco climático, com consequências danosas à saúde pública. Ou seja, destruir o meio ambiente é atitude suicida do homem, que pode não ser dele, mas será da sua descendência, sem nenhuma dúvida.

De repente uma Pandemia de coronavírus - Covid -19. Um vírus misterioso de animais silvestres ataca o homem na China, no país mais poluído do mundo e o pânico sanitário toma conta do mundo, exceto em alguns lugares onde houveram insistências em negar. Imensas consequências negativas, mas a régua conta as mortes que, no Brasil, indicam chegar rápido a 250 mil e mais de 10 milhões de infectados. Só a gripe espanhola ficará acima, na época sem vacina e sem ventiladores.

A Pandemia é mais uma prova dos erro no ambiente natural e de reações da natureza. A redução das florestas, quebra de barreiras naturais de segurança e seres até então desconhecidos fazem contado, podendo transmitir doenças, como ocorreu com o Ebola, HIV, SARS e agora SARS-CoV-2. Para piorar, o caos sanitário, as cidades viraram aglomerados de gente e criatórios de vetores de doenças, onde não há inimigos naturais, como caso do mosquito Aedes Aegypti. Cidades como Dourados já é desequilíbrio e reservatório de vírus, bactérias, fungos, moscas, mosquitos, ratos, baratas, morcegos, etc., agravando a saúde da população.

Evidencias indicam que quanto mais faltar juízo ao homem, construindo cidades insalubres e aprofundando o desmatamento e as queimadas de florestas, maiores os risco sanitários, inclusive, podendo vir da Amazônia desmatada a próxima pandemia, como preveem cientistas. Afinal a Amazônia é uma reserva biológicas ainda desconhecida. Atacar a Amazônia é dar um salto no escuro.

Falta educação e saúde pública, nas profundezas do caos ambiental. Os indivíduos negam, por não saber, ou ter recebido errado ou por conveniência, apesar da educação ambiental pertencer à matriz da educação nacional. A partir dela, as pessoas deveriam ser capazes de compreender o mundo onde estão inseridos e se indignar nos erros, por novo arranjo ambiental humanizado e saudável, com prevenção e gestão de qualidade na saúde. Precisamos de saúde ambiental para salvar vidas e gastar menos, o escasso dinheiro do SUS. A baixa resolutividade em saúde, não é só devido ao pouco dinheiro mas, sobretudo porque a despesa é mal feita. Falta coordenação e sobre desperdício, re-serviço e desvio de finalidade. O exemplo da fundação de saúde de Dourados indica evidências intoleráveis, disso.

Lembrar exemplos espetaculares de humanismo é esperançar. Na retina, dois incríveis, dos melhores que uma comunidade pode ter. Um “médico de família” – da prevenção - antes de Cuba começar. Outro, especial no prazer em ser livre e solidário, para não mais lhe faltar a razão existencial. Raridades humanas em exemplos raros. Figuras da solidariedade espontânea a quem devemos reverenciar - Dr. Milton e Seu Genésio.

Milton, médico imprescritível e generoso com seus pacientes. Como Hipócrates (460 a.C.), primeiro o alimento saudável, a segurança higiênico sanitária, depois, o diagnóstico preciso e o tratamento perfeito. O melhor remédio – a atenção. Sem SUS, atendia como a si próprio, com ou sem dinheiro. Se não pode hoje, poderá amanhã e a vida continuava. Genésio era diferenciado não por ser descendente de escravos, o que poderia fazê-lo amargo mas, ao contrário, sufocava a dor na razão da solidariedade espontânea que vivia.

As sabedorias no que lhes dava prazer – servir – no jeito de ser e fazer. Andavam sobre a linha tênue que divide o sucesso do fracasso, sem pedir nada em troca, exceto o mútuo reconhecimento e respeito. Mentes ternas e solidárias em premonitórios do futuro - se não serve a si, não poderá servir a outros.

Somos meio, logo, em meio doente adoecemos juntos. Se a floresta queimar, o lixo rolar e a doença prosperar, será a desprezível resignação humana, na inexorável circunstância da sociedade contemporânea? Estaríamos dispostos a desprezar a vida, no pior? Só o paradigma da sustentabilidade, através do resgate da autoestima, na natureza íntegra e na cidade mais humana e sem doenças, respeitando o interesse pela vida saudável.

- Crianças salvas do caos devem saber quem lhes garantiu à vida continuar.

Enfim, a solidariedade espontânea parece passar e o vento levar, mas a indignação deve ficar para estancar a sangria. Essa é a enrascada, neste início de século. Mesmo longe de serem perfeitos, exemplos do tempo espiritual, poderão dizer como Fernando Pessoa, “Às vezes ouço passar o vento; e só de ouvir o vento passar, vale a pena ter nascido”.

- É preciso bons exemplos para esperançar!

*É Engenheiro Agrônomo, consultor

Deixe seu Comentário

Leia Também