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Prefeito, golpista?

10 fevereiro 2021 - 00h19Por JONES DARI GOETTERT

Vive-se momentos estranhos. No mundo, redes ultra-rápidas conectam parte da população, mas a maioria, mesmo assim, encolhe-se em bolhas localistas, “seguras” e não raras vezes alienantes. Nos Estados Unidos, um “super-homem” fanático, branco e rico, incentiva o despertar do que há de pior na principal “democracia do mundo”: a violência, o racismo, a reprodução da desigualdade. No Brasil, algumas autoridades praticamente ignoram a pandemia, enquanto familiares não podem ignorar seus aproximadamente 240 mil mortos. Em Dourados, mais especificamente na UFGD, um golpe como tragédia, primeiro, e agora como farsa, “outro”. E o prefeito com isso?

A UFGD é recente (criada em 2005) e sua primeira década foi de crescimento (discentes, servidoras/es técnicas/os e docentes, cursos de graduação e pós-graduação, infraestrutura, etc.). Considerada uma das universidades novas mais dinâmicas do Brasil, hoje se vê enredada em golpes sucessivos – ou um grande golpe com várias fases. Tudo começa em 2019, quando uma das chapas perdedoras na consulta prévia, mesmo não se inscrevendo no colégio eleitoral, acusa a todas e todos com mentiras (pior que jogar e perder, é jogar e não saber perder). Ancorada em seus próprios devaneios, essa chapa perdedora recorreu à judicialização, acusando o colégio eleitoral de fazer – veja só! – o mesmo que fizera há então 4 anos, quando a eleição favoreceu o seu grupo (ou seja, quando o favoreceu, ok; quando não, a apelação grotesca e infundada).

Judicializada a lista tríplice (o colégio eleitoral elege três pessoas), o lado perdedor articulou a primeira “intervenção” (também chamada de reitoria pró-tempore, isto é, temporária). Mais de um ano de destruição, desmando e autoritarismo, e com a lista já declarada legal e legítima, agora, uma nova “intervenção”, com nomeação de outro reitor-interventor também do grupo perdedor nas eleições de 2019. Mas agora com uma presença inusitada, até estranha, no entanto coincidente: tem aproximação (para não dizer mais) com o grupo político perdedor na UFGD. Quem será ele? O prefeito de Dourados, recém eleito e ocupante do cargo máximo do governo municipal.

Mas será isso mesmo, o prefeito participando – ou dando guarida – à continuidade do golpe na UFGD? Por sorte, não há registros que a situação pandêmica mundial, os arroubos autoritários e racistas trumpistas e a negligência com o Covid-19 no Brasil tenham cegado a todas e todos. Pois é. Na semana passada, o prefeito se reuniu com o Ministro da Educação junto com docente da UFGD (também apoiador de chapa perdedora na eleição da UFGD), e bingo: a UFGD tem novo reitor-interventor.

Em situação normal, qual seria a posição do prefeito? O diálogo e até a apelação para que a principal instituição pública universitária de Dourados pudesse voltar ao seu papel de formação e de produção de conhecimento, o que é só possível se o candidato mais votado na consulta prévia, e primeiro da lista tríplice, for nomeado. Se não foi isso, o que disse o prefeito para o ministro, se não o urgente e necessário respeito à decisão democrática da UFGD? Mas ao que se pode deduzir o prefeito disse outras coisas (!?) ou silenciou – e então alguém falou por ele… Ou, talvez ainda, podia não ter a informação da validade da lista tríplice, pois nesses tempos de informações ultra-velozes é difícil se lembrar de tudo… Será isso mesmo?

“Que o mundo todo”, serenamente, antes de qualquer “julgamento” mais rigoroso, dê o direito à dúvida, e concomitantemente, à inocência prévia, portanto. Contudo, é por demais desagradável que no início do segundo mês de mandato, o prefeito já seja associado – devidamente ou não – a ato tão rasteiro, para dizer em palavra amena.

Por fim: o título deste breve texto é uma pergunta, uma indagação. E isso é parte de um mundo, de um Brasil e de uma Dourados que pergunta algo singelo, mas capaz da resposta (“sim” ou “não”) fazer toda a diferença para perspectivas de conexão solidária do mundo inteiro, de um novo amanhecer no Brasil, de uma nova sensibilidade social, política e cultural em Dourados, e do restabelecimento da autonomia, democracia e participação na UFGD.

Na dúvida, prefeito…

Com respeito, estima e consideração.

* É Professor da UFGD

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