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Fui vereador por oito anos e não conheci Brasília

23 dezembro 2020 - 22h59Por MADSON VALENTE

Imaginável que todo aquele que aspira por um sonho, procure buscar o apogeu desta conquista, comparável para um jogador de futebol profissional, que deva ser a convocação para a seleção brasileira ou jogar no estádio do Maracanã. Da mesma forma para um cantor de música clássica imagino que seja fazer uma apresentação na SALA SÃO PAULO, que possui uma sala de concertos de reconhecida reputação internacional, entre estas a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Seguimos ainda com nossas comparações, devo imaginar que um artista de circo deva sonhar em fazer um espetáculo no CIRCO DE MOSCOU, preferencialmente na Rússia.

Naturalmente ao sonharmos, independentemente daquilo que almejamos, que este seja materializado no sentido maiúsculo, que a conquista sirva para coroar e provar para nós mesmos o quanto se faz necessário termos atitudes para rompermos os obstáculos que a própria vida se encarrega de nos impor.

Todas as cidades possuem um referencial, sejam suas praças, parques, igrejas, teatros, povos, tradições, enfim seja material ou imaterial, mas há outras que carregam seus símbolos, tal como Roma que é o símbolo da monarquia, Florença símbolo do renascimento italiano e a Grécia o símbolo da democracia.

No Brasil nossas cidades possuem seus grandes referenciais, sejam por valores históricos, econômicos ou políticos, mas vertendo nossa reflexão para aquilo que estamos nos propondo, devemos falar de Brasília, que também possui seus encantos naturais, artísticos e culturais, sendo o Jardim Botânico guardiã da rica flora e fauna do cerrado, ainda temos o prédio do Congresso Nacional, Praça dos Três Poderes, Museu Nacional, entre outros, representando sua riqueza arquitetônica e cultural.

Mas, o que encanta Brasília é a simbologia do PODER, criada para ser o Distrito Federal e geograficamente em uma posição estratégica facilitando a locomoção de toda representação política deste país, entretanto na sua origem visava atender interesses daqueles que almejavam distanciar os acessos das massas aos centros das decisões políticas.

Por toda esta representação é natural que um vereador também nutra desejos de conhecer a capital do poder, pois os poderes legislativos, executivos e judiciários se concentram no maior palco da democracia brasileira, porém, e obviamente não devemos deixar de analisar criticamente que as interferências são cada vez mais notáveis entre os poderes que constituem nosso estado, algo que inclusive ferem suas essências, neste caso suas independências.

Diante do fato que somos movidos por projetos, mas que o combustível maior são nossas atitudes, se tornar vereador de Dourados com toda certeza foi uma dádiva de Deus, proporcionada pela alimentação de um sonho, mas fundamentalmente de ter me dedicado ao longo de uma vida, conquistando tal condição e não nos impondo sem possuir nenhuma identidade com as questões de ordem social, pois antes de tudo ocupamos diversas funções dentro da nossa comunidade, não precisando ter mandato para ter compromisso social.

Poderiam imaginar que, enquanto vereador, da mesma forma como um jogador de futebol, um artista circense ou um cantor, que vislumbravam os maiores palcos, também tivesse desejo em conhecer o referencial do poder brasileiro, afinal ampla maioria dos detentores de mandato conhecem nossa capital federal, atraídos não pelas suas riquezas naturais e arquitetônicas, mas pelo simples fato de literalmente experimentar os ares que tanto atraem, mesmo que para tal se gastem milhões em recursos públicos apenas para se cumprir protocolos nas inúmeras visitações aos Ministros, Deputados Federais e Senadores, algo que é intolerável, pois todos os estados e seus respectivos mandatários possuem escritórios de representação em seus estados, inclusive nossas bancadas possuem seus líderes e suas agendas estão sempre abertas para receber prefeitos, vereadores e deputados estaduais, dispensando estes de terem que cumprir agendas oficiais na capital federal, com raras exceções estas viagens são de fato necessárias.

Importante ainda afirmar, embora tenha sido talvez o único vereador que não conheceu Brasília, mas curiosamente sou o vereador que mais viabilizou recursos para Dourados, graças a aproximação política e de lealdade aos deputados Barbosinha e Tereza Cristina, respectivamente deputado Estadual e deputada Federal, prevalecendo aquilo que afirmamos que estes escritórios cumprem com maestrias suas finalidades, nos dispensando de ir até Brasília ou em Campo Grande para viabilizar recursos, ficando explícito que garantir recursos no orçamento federal ou estadual é por credibilidade e não por peregrinação nos corredores dos ministérios ou nos gabinetes de nossos deputados, estas iniciativas visam mais holofotes que propriamente materialização de algum projeto.

Alguns poderiam nos indagar se não possuímos sonho em conhecer Brasília, diríamos que sim, pois esta também nos encanta, todavia esperamos que a vida um dia nos permita conhecer, porém que a custa seja pessoal, ou então, oxalá Deus, venha nos permitir que um dia possamos ocupar uma das 513 cadeiras daquele parlamento, afinal sonhar é algo que posso fazer daqui, da minha cidade, sem necessariamente ter que ir até o Distrito Federal, desta forma o sonho fica resguardado e o dinheiro público preservado e respeitado.

* É professor, geógrafo, vereador e Gerente Regional da Sanesul em Dourados

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