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Não poderia dar certo

23 maio 2020 - 02h06Por ERMÍNIO GUEDES

Não temos um líder, temos arruaceiro.

Há coisas que não se diz e outras, que só são ditas por alguém inferior ao cargo que ocupa. A psicanálise diz do poder da palavra, nos momento de crise, como a que vivemos na Covid – 19. O simples ouvir uma narrativa de libertação garante bons momentos, diminuindo a angústia e o sofrimento. Nos momentos difíceis, cabem palavras que soem como consolação. Eu, ganho muito, me sinto aliviado, abrindo o coração, ouvindo e falando.

Algumas pessoas tem a arte da fala e de gestos, em momento de crise e, por isso, são ouvidas como líderes. Conseguem transmitir esperança e confiança. Outras, ao contrário, pessoas desalmadas, mostram a face do sadismo inescrupuloso, demonstrando alegria e se divertindo no sofrimento alheio.

A antropologia mostra que em culturas, ditas primitivas, há “funções” especiais reservadas ao líder: receber a descarga dos fracassos e dizer a palavra certa no lugar certo. Quando tudo vai mal e sem saída, a palavra deve ser de mobilização para diminuir o sofrimento. O líder naturalmente sente e demonstra a dor dos demais, fazendo suas a dor de todos. Esta é a emoção do líder.

A fala pode ser a diferença entre o remédio e o veneno. Um bálsamo para aliviar e consolar, ou um veneno para desagregar e destruir. Ao estadista está reservado esse papel, de discernir valores e agir para unir e não para dividir. Mostrar capacidade, comandar, tomar a frente ou, quando nada disso é possível, consolar, serenar os ânimos, acenar à esperança e compartilhar a dor que não consegue eliminar.

Georges Balandier via no poder uma encenação, onde o homem, presume sua supremacia e se coloca na messiânica missão do povo. Nesse fim supremo do poder, triste espetáculo nos degraus da República: Ministro pede prisão aos magistrados do STF, ministra sugere encarcerar prefeitos e governadores e o presidente ameaça demitir quem tentar impedi-lo de satisfazer seus desejos pessoais. E o ato segue - ouvir a filha ou filho detrás da porta antes que ela engravide ou que o “moleque” enche os “cornos de droga” traduz a visão deformada da sua missão. Não por acaso, a busca de informações “de inteligência” na PF, às escondidas, do lado de fora da porta dos trâmites legais para evitar “foder milha família ou amigo meu”, em casos cabeludos do clã de milicianos, com áreas de “normalidade”.

Pois isso, sofre o brasileiro, num momento obscurantista, negando a inteligência e o saber. Sem rumos, sem líder e com ministro plantonista na saúde, na maior crise da história, estamos perdendo a guerra ao Coronavírus e derrotando a ciência e contra a democracia.

Para arruaceiros, filha grávida ou filho que experimenta drogas – “não adiante mais, já era”. Não tem jeito, não adiante mais, o governo “já era”.

Desta vez, os pobres pagam, com vidas, na “balburdia” que virou um governo que debocha do sofrimento alheio - "De direita toma cloroquina. De esquerda toma Tubaína", debocha Bolsonaro, no dia que o Brasil bateu acima de 1000 mortes por Covid-19.

Não pode ser uma expressão de gente sadia da cabeça. É um deboche leviano, desrespeitoso, preconceituoso e sádico.

Não poderia dar certo!

* O autor é Engenheiro Agrônomo, consultor.

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