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O filho que não queriam

17 agosto 2018 - 00h57

Houve um tempo em que o cinema francês apresentou uma série de filmes, todos tendo como personagem principal um padre, envergando uma batina preta, com o nome de Dom Camilo.

Nas suas andanças, Dom Camilo inteirava-se dos problemas sociais dos seus paroquianos e a eles recomendava, com suporte nos ensinamentos da Igreja e nas parábolas que inventava, a melhor e mais racional solução para eles.

Lembro-me de um desses filmes, onde Dom Camilo, informado da revolta de um pai que, tendo conhecimento da gravidez da filha, queria expulsá-la de casa, incontinenti, dirigiu-se à casa do seu paroquiano para contornar a situação vexatória em que se encontrava a pobre e desamparada moça.

Diante daquele pai furioso, Dom Camilo, calmamente, contestou a impropriedade daquela revolta, e o fez ouvir a seguinte parábola: “Se sua cachorra volta para casa prenhe, você arruma um lugarzinho para ela procriar; se um pardal faz o ninho sob o beiral da sua casa, você o deixa chocar seus filhotes; mas quando sua filha, sangue do seu sangue, noticia que vai ter um filho – seu neto – você quer jogá-la na rua!”

As palavras de Dom Camilo, calmamente pronunciadas, cobraram a razão daquele homem inconsolável, que quedou-se aos argumentos do padre e perdoou a malsinada filha.

Observe, a intervenção de Dom Camilo não era em defesa da licenciosidade, que fomenta a irresponsabilidade, indutora a que muitas mocinhas, despreocupadas com as conseqüências do erro, aviem-se desprezando os valores morais, que devem orientar suas existências.

A conduta da humanidade civilizada, sempre, há de nortear-se com as vistas voltadas à preservação dos melhores costumes, para enfrentar as vicissitudes da vida, sem o que, fica comprometido seu próprio futuro.

Muitas vezes, entretanto, a inexperiente e indefesa mocinha é vitimada pela lábia de um reles vagabundo que, descoberta a prenhez daquela que jurou amar e proteger, revelando uma incrível covardia: nega qualquer responsabilidade no evento. Nesse momento, é que a pobre moça, tardiamente, constata a falta de caráter daquele sujeito a quem se entregou, surda – em muitos casos – aos conselhos da mãe.

Confusa e aterrorizada com a possível reação do pai, pensa pedir a compreensão e o apoio da mãe, mas quer preservá-la da acusação de que ela fora cúmplice, para que aquela gravidez acontecesse e o envergonhasse.

Resta-lhe o aborto. Não o conseguindo e nem de outra forma livrar-se do feto, apenas um pingo de gente, mas que se afigura um gigante como problema, sente-se perdida, falta-lhe chão para que se mantenha de pé.

Seus temores e aflições, somados aos efeitos do estado puerperal, que desequilibra, confunde e afeta, suas emoções, sem que ninguém a desperte e lhe ofereça a mão, ela estará a um passo, da decisão de descartar o nascituro numa lata de lixo.

E isso vem acontecendo, cada vez com mais freqüência.

Analisadas todas as implicações da gravidez indesejada, presentes os valores morais que devem orientar o homem, conforme os ensinamentos de Cristo, com nobreza de espírito impõe-se-lhe que ampare a futura mãe, dispensando-lhe os cuidados necessários durante a gestação, até que o filho venha ao mundo, como criatura de Deus.

Acompanhei, como advogado, alguns casos e testemunhei a revolta e o desconforto dos pais que, ao constatarem a gravidez da filha solteira, argumentaram que sempre cuidaram daquela menina com todo amor, que nunca lhe faltou nada! Como pôde trocar seus sonhos de moça, pela vergonha dos pais? Jogou fora seu futuro! Estragou sua vida!

Outro, embora surpreso, mas verdadeiramente cristão, pediu apenas que colocassem na menina o nome de “Perola”. — É uma jóia que achamos!”, disse com humildade e resignação.

Como interveniente conselheiro, assinei como testemunha algumas certidões de nascimento. Posso jurar hoje, que pelo menos três avós que conheço de perto, não abrem mão dos seus netos. Eles são seus inseparáveis companheiros! Seus amigos, de todas as horas.

Dom Camilo tinha razão: coloque a compreensão da natureza e o amor à frente, e o mundo será sempre mais cristão, mais justo e mais feliz!

Então se sua filha aparecer em casa grávida, entenda que o evento não é o fim do mundo, é apenas um teste que Deus faz, para aferir se você é, verdadeiramente, Seu filho!

* O autor é membro da Academia Douradense de Letras

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