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Quando rir é melhor do que impressionar!

14 fevereiro 2018 - 21h44

Madrugada, o repórter parecia não ter ainda acordado por inteiro, para apresentar o primeiro jornal do dia na TV. Demonstrando desinteresse e alheamento no que dizia, ameaçado por um bocejo, informa com voz cansada e fanhosa: “— Que fulano de tal (omitiu, deliberadamente, o nome do finado, em respeito à sua família), importante industrial brasileiro, investidor em grandes obras e político de muitos mandatos na Câmara federal, encontrado morto no quarto de um luxuoso hotel, na capital federal.

Informadas, as autoridades policiais do evento descoberto pelo mordomo do parlamentar, o Carlinhos, compareceram no luxuoso apartamento do hotel, onde o político e empresário dormiu sua última noite, antes de partir para o além. Investigadores, médicos legistas, peritos criminais e por fim, a polícia militar que também chegou, para isolar a área e importunar os demais hóspedes, ainda vivos, arranchados no hotel.

Os agentes públicos munidos de equipamentos, tais como lupas e outras bugigangas correlatas, assessorados por policiais fortemente armados, acompanhados por cães treinados para farejar coisas mal feitas, todos prontos para encetar os mais completos exames no cadáver e no local, na busca de pistas ou algum indício de algo, que pudesse ter concorrido para a morte do ilustre e popular político, que deixa esposa, filhos, netos e até bisnetos e ainda, milhares e milhares de eleitores, que o acompanharam durante anos e anos, reelegendo-o cegamente, sem receber nada em troca pelo apoio decidido e sem compromisso, que deram ao “querido, respeitado e já saudoso político!”.

É da índole do eleitor pobre e cultura rudimentar nunca sonhar, pela elementar incapacidade de pensar e, por conseqüência, não conseguem escalar os valores sociais, para ter uma vida melhor. O mal mais marcante no seio da pobreza, é votar por votar, induzidos por promessas de escroques cretinos e hipócritas, sempre candidatos a novos mandatos, sem nunca explicar o que fizeram nos mandatos anteriores.

O desvalido eleitor nunca cobra um compromisso do político, como a reciprocidade: vai o voto e vem saúde, educação e segurança. Nunca volta nada, além das notícias de que elegeram um corrupto. Eleito, o político apenas exerce a corrupção, para alimentar a própria ganância. Os simplórios alienadamente e indevidamente votam naqueles que os mantém e sempre os manteve, no estado miserabilidade trágico e funesto para si e sua família. Trava o desenvolvimento dos setores sociais e impede que o País avance para redimir, definitivamente, a pobreza.

Chega a ambulância, os médicos, os peritos e os investigadores liberam a remoção do corpo do velho e conhecido político. Os médicos acompanham o corpo até o IML, para autópsia, que deverá ser executada com cuidados especiais, porque o “presunto” — também especial — pode transformar-se numa bomba!

A notícia do falecimento do deputado chega ao plenário da Câmara e interrompe a sessão. Os mais afoitos tomam a palavra e rememoram: “os grandes feitos” do finado, agora já lembrado como saudoso e incomparável homem público!”. Alguns vertem lágrimas; outros regozijam, pela abertura do espaço para um novo candidato.

Peritos e investigadores continuam no apartamento do hotel, atrás de pistas. Depois de escarafunchar aqui e acolá, encontraram uma boa quantidade de pó branco, parecido com bicarbonato. O investigador policial e o perito criminal entreolham-se, coçam o queixo e vão embora. Enquanto isso, um médico novato, desavisado e inocente, que presta serviço no IML onde já está o corpo, olha o cadáver do político e observa que as fossas nasais do finado estão tomadas por um pó branco e comenta: “— Caramba! Esse cara está com o focinho entupido de cocaína. Morreu por OVER DOSE!”

Ao comentar o que observou, o médico novato é prontamente repreendido pelos colegas calejados, encarregados da autópsia, que acabavam de chegar: “ — Nenhum pio sobre o que viu neste cadáver! Entendido?”

No dia seguinte, o mesmo repórter, na TV, atentado pelo incontrolável bocejo matinal, tropicando nas palavras, informa: “— Ontem noticiamos o falecimento do deputado “Fulano dos Anzóis”. O cadáver não apresentava nenhuma lesão e sua morte é um mistério! O laudo do IML sai em trinta dias! A polícia continua investigando...”

Agora, a preocupação do Parlamento é tão só colocar o nome do finado, montado numa mirabolante estória, numa rua ou numa praça. Aquele ilustre homem público, não pode ficar esquecido!

Arre égua!

* O autor é membro da Academia Dopuradense de Letras. ([email protected])

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