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Opinião

O professor (esquecido pelos colegas) que virou santo

15 outubro 2016 - 11h15Por José Alberto Vasconcellos

O Jesuíta JOSÉ DE ANCHIETA (1534-1597), no Brasil, fundou na Bahia o Colégio dos Jesuítas, e no Rio de Janeiro a Igreja e o Hospital da Misericórdia. É considerado o fundador da Literatura Brasileira e o iniciador da poesia lírica brasileira, com intenção religiosa. É considerado o PRIMEIRO PROFESSOR do Brasil.

Cognominado APÓSTOLO DO NOVO MUNDO, a ele são atribuídos vários milagres, conforme registra o livro “A vida do Venerável Padre José de Anchieta”, de Simão de Vasconcelos (1596-1671), publicado em 1673.

Na opinião de Auguste de Saint-Hilaire (1779-1853), naturalista francês que viajou seis anos pelo Brasil (1816-1822) documentando a vida e os costumes locais, reconheceu pelos feitos do Jesuíta Anchieta ser ele “UM DOS HOMENS MAIS EXTRAORDINÁRIOS DO SÉCULO!”

Em São Vicente, no hoje Estado de São Paulo, onde Martim Afonso de Sousa havia, na orla marítima, fundado a primeira vila da colônia, desembarcou José de Anchieta, onde já se encontrava o Padre Manuel da Nóbrega, empenhado na construção de um colégio no Planalto de Piratininga, berço da futura cidade de São Paulo.

No lugar indicado por Nóbrega, Anchieta, com o concurso dos índios Tibiriçá e Caiubi, fundou em 1554, o “Terceiro Colégio Regular do Brasil”, consagrando-o a São Paulo, porque ali se rezou a missa inaugural a 25 de janeiro, data em que se comemora hoje, como a de fundação da cidade de São Paulo.

No paupérrimo colégio entregou-se com grande zelo ao ensino das primeiras letras aos filhos dos colonos e aos índios. Em pouco tempo dominava a língua dos nativos; ele a falava e entendia com facilidade, chegando mesmo a escrever uma Arte da Gramática da Língua Mais Usada na Costa do Brasil, em1595.

Homem de pequena estatura, corpo mirrado, fisionomia morena e agradável; possuía olhos vivos, olhar penetrante e atraente; não obstante adquirira o aspecto de um velho, pela deslocação de uma vértebra decorrente de um acidente, quando uma escada caíra-lhe sobre as costas, isto antes de vir para o Brasil, em 1553.

Natural de La Laguna de Tenerife, a maior das Ilhas Canárias (arquipélago pertencente à Espanha), onde nasceu em 19.03.1534, faleceu em Reritiba (ES), em 09.06.1597, aos 63 anos de idade. A antiga localidade de Reritiba, no Estado do Espírito Santo, hoje ostenta, com muito orgulho, o seu nome.

Incansável na catequese, Anchieta prestou ainda outros inestimáveis serviços ao Brasil: em 1563 junto com Nóbrega promoveu uma missão pacificadora junto aos Tamoios, aliados dos franceses, e cujos chefes haviam se reunidos em Iperoig, a fim de planejar um ataque maciço às posições portuguesas. A dedicação de ambos com a missão pacificadora, salvou a colônia, assegurando a incipiente obra até então realizada, buscando civilizar os povos, na região sul.

Enquanto refém dos Tamoios, escreveu o célebre “Poema em Louvor da Virgem Nossa Senhora”, nas areias da praia de Iperoig, e o guardou de memória, até passá-lo para o papel em São Vicente.
Em 1567 auxiliou Estácio de Sá na expulsão dos franceses do Rio de Janeiro. Foi nomeado Reitor do Colégio de São Vicente em 1569. Em 1578 foi elevado à dignidade de Provincial do Brasil. Simão de Vasconcelos afiançou que “mesmo após a elevação do grande jesuíta a tão alto cargo, não deixava os hábitos humildes...”

Foi beatificado pelo Papa João Paulo II, em 1980 e o processo para sua canonização tramita no Vaticano.

O Padre José de Anchieta com essa biografia, e ainda ostentando, com muito merecimento, a comenda de PATRONO DOS PROFESSORES – foi o primeiro professor do Brasil – nunca é lembrado pela classe dos docentes (seus colegas) quando se comemora o “DIA DO PROFESSOR”, neste mês de OUTUBRO.

Finalmente temos a notícia (1º/03/2014) de que o Padre José de Anchieta será declarado santo, por decreto do Papa Francisco, no início do mês (pretérito) de abril. “Vamos comemorar de uma maneira simples a canonização do Padre Anchieta a partir da assinatura do decreto, que corresponde a uma forma equivalente à proclamação solene de um santo”, disse o cardeal Damasceno!

Ficam, assim, lembrados os PROFESSORES de que, sem a força do APÓSTOLO DO NOVO MUNDO, O PRIMEIRO PROFESSOR DO BRASIL, o Padre José de Anchieta, que deve ser lembrado e venerado no mês de OUTUBRO, pouca coisa segue em frente, nem mesmo com as greves que seriam, se existissem na época, abominadas pelo Jesuíta que dedicou a vida ao ensino.

* O autor é membro da Academia Douradense de Letras