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Opinião

E o seu "telos", qual é?

07 agosto 2016 - 15h02Por Rubens Sousa

rubens coluna

 Observando o movimento político da semana aflorou-me a ideia da vocação e a profissão. De forma indireta, em posicionamento tomado sobre a reforma política, enfrentei o tema. Agora quero convidar à reflexão de forma mais direta sobre a “vocação” e “profissão” e que o faço mediante pequena introspecção filosófica.

Segundo Aristóteles, "tudo" tem um "telos", que é um objetivo interno que a coisa deve atingir. Uma semente de acácia tem um "telos": virar uma acácia. O "telos" da vida humana, segundo Aristóteles, é a felicidade. Para Santo Agostinho o "telos" da vida era amar a Deus. Para o existencialista Martin Heidegger, o "telos" do homem é viver sem negar sua condição humana, particularmente sua morte.

Observa-se que o "telos", embora com diversos prismas, sempre tem um objetivo interno, ou seja, existe uma razão norteadora: virar acácia, ser feliz ou viver sem negar a condição humana.

Não devemos nos olvidar que existe uma distinção entre o "telos" da vida – aquilo que os seres humanos devem ser – e os objetivos de vida de um indivíduo em particular – aquilo que ele quer ser.

Observando as movimentações políticas e de políticos indago:

Qual o objetivo dos que se lançam à vida pública?

Senhor político, qual o seu "telos"?

Afirma Rubem Alves que política é a arte da jardinagem aplicada às coisas públicas. O político vocacionado é um apaixonado por um grande jardim para todos. O político vocacionado, por amor, abre mão do jardim que poderia plantar para si mesmo.

Reconhece que de nada vale um pequeno jardim se à sua volta está o deserto.

De outro norte, podemos verificar que vocação é diferente de profissão, naquela a pessoa encontra felicidade na própria ação, nesta a felicidade está não na ação, mas no ganho que se deriva da ação. Em suma, o político vocacionado é um amante. O político profissional é um gigolô, ama o dinheiro que recebe.

De tudo, nessa pequena introspecção filosófica, é a certeza que nosso futuro será o resultado da luta entre políticos por vocação e políticos por profissão. Confesso que chego a temer o chamamento para ingressar na política. Tenho medo de ser confundido com gigolô e, sobretudo, de ter que conviver com gigolôs.

Tal qual Guimarães Rosa, penso em eternidade, o político profissional pensa apenas em minutos. É muito pouco para se construir jardins enormes e para todos.

E o seu "telos", qual é?

* O autor é advogado, professor universitário e presidente do Pros em Dourados