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Sudão têm 100 mil pessoas passando fome e gasta metade do orçamento em armas

20 abril 2017 - 11h58Por G1

O mais novo país do mundo, o Sudão do Sul, tem atualmente cerca de 100 mil pessoas passando fome, segundo estimativas do governo e da Organização das Nações Unidas (ONU), o que faz com que o país tenha uma das piores situações humanitárias do mundo. Porém, o governo gasta pelo menos metade de seu orçamento com armamento.

Em fevereiro deste ano, o governo afirmou que quase metade da população do país não teria acesso confiável a alimentos a preços acessíveis até julho. Independente desde 2011, o país de 12,5 milhões enfrenta uma guerra civil desde 2013.

O país obtém 97% de sua renda por meio da venda do petróleo. Do final de março ao final de outubro de 2016, a venda desse produto atingiu aproximadamente 243 milhões de dólares, segundo cálculos dos especialistas, citados pela France Presse.

Um relatório das Nações Unidas, feito por um painel de especialistas, mostra que o governo de Salva Kiir gasta pelo menos a metade, "e provavelmente muito mais", do seu orçamento com armas apesar da grave crise alimentar.

Um documento na ONU, que recebeu apoio dos Estados Unidos, chegou a pedir o embargo na venda de armas para o país, mas foi rejeitado pelo Conselho de segurança em dezembro de 2016. "As armas continuam inundando o Sudão do Sul, asseguram diversas fontes, muitas vezes em coordenação com os países vizinhos", indicou.

Com uma economia em frangalhos, o Sudão do Sul enfrenta uma inflação anual de 800%. Há um ano, US$ 1 valia cerca de 3 libras sudanesas. Atualmente, a proporção é de 1 para cerca de 120.

Civis: principais vítimas

Um informe confidencial da ONU, vazado em fevereiro, indica que a guerra alcançou "proporções catastróficas para os civis" e que as milícias podem se tornar incontroláveis e alimentar os combates por vários anos.

O Sudão do Sul passa por um “processo de limpeza étnica em várias regiões por meio do uso da fome, dos estupros coletivos e de incêndios”. Atrocidades como o assassinato de crianças, castrações, estupros e degolas são alguns exemplos do que ocorre na região.

O drama dos habitantes foi retratado pelo o fotógrafo independente Siegfried Modola, anglo-italiano e atua na África como fotógrafo independente, que visitou a região de Leer e Mayendit, no norte do país, com a equipe Médicos Sem Fronteiras.

Ele conta que os civis pagam o preço mais alto. “Os civis estão na linha de frente do conflito. Eles não têm acesso a serviços básicos para a sobrevivência. Comida e ajuda médica são quase inexistentes, exceto as providenciadas por organizações humanitárias, quando estão em segurança para atuar", afirmou o fotógrafo, segundo a organização Médicos Sem Fronteiras.

O fotógrafo conta que o aeroporto da capital Juba, no sul do país, é um centro de atividades humanitárias: inúmeras organizações humanitárias tentam abastecer a população que precisa desesperadamente dos serviços mais básicos.

Refugiados

Modola conta que as pessoas relataram ter se deslocado de suas casas várias vezes. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, escreve nesse informe que os civis fogem das cidades e aldeias "em um número recorde" e que o risco de que se cometam atrocidades em massa "é real".

Segundo a Agência da ONU para os Refugiados (Acnur), mais de 1,5 milhão de pessoas fugiram do país em busca de proteção desde que começou o conflito armado.

O Sudão do Sul se transformou "na maior crise de refugiados da África" e "na terceira do mundo" após as de Síria e Afeganistão, segundo a Acnur, que lembrou que, adicionalmente, 2,1 milhões de pessoas estão deslocadas dentro do país.

O Unicef, por sua vez, calcula que 270 mil crianças sul-sudanesas estão gravemente desnutridas.

Independência recente

O Sudão do Sul conquistou sua independência em relação ao Sudão em julho de 2011, depois que um referendo realizado em janeiro daquele ano aprovou a separação com 98,83% dos votos a favor. O referendo estava previsto em um acordo de paz de 2005 que encerrou décadas de guerra civil.

As diferenças étnicas e religiosas do que então era apenas um país foram o principal ponto de conflito entre os dois lados. A população do sul (hoje o Sudão do Sul), formada por diversos grupos étnicos de maioria cristã ou animista, se sentia discriminada pelo governo centralizado em Cartum (no Sudão), de maioria muçulmana, e que tentava impor a lei islâmica na região.

Confronto de facções

Mas a aparente tranquilidade não durou. A guerra interna no Sudão do Sul começou em dezembro de 2013, com combates entre duas facções do exército, dividido pela rivalidade entre o presidente Salva Kiir e seu ex-vice Riek Machar.
Diferentes milícias se uniram a cada um dos lados, com confrontos marcados por massacres de caráter étnico.

O confronto teve início quando Kiir destituiu Machar, acusando-o de tramar um golpe de Estado. Os dois políticos pertenciam ao mesmo partido -- o Exército de Libertação do Povo Sudanês.

"Algumas horas mais tarde, os militares se dividiram e começamos a escutar tiros em Juba (a capital)", contou à BBC Mundo o brasileiro Raimundo Rocha dos Santos, um padre brasileiro que trabalha como missionário Naquele país.

A disputa política somou-se à tensão étnica. O grupo dos dinka, ao qual pertence Salva Kiir, e que representa cerca de 15% da população do país, se opôs ao grupo dos nuer, do qual faz parte Machar e que equivale a cerca de 10% dos habitantes.