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'Casseta & Planeta, Urgente' sai do ar após 18 anos de bom e mau humor

27 dezembro 2010 - 18h39Por Redação Douranews, com Terra

O fim do Casseta & Planeta, Urgente é mais do que o encerramento de um programa. Ele também fecha um ciclo de transformações no humor da Globo iniciado nos anos 80. Até então as produções eram calcadas em piadas que procuravam ultrapassar as limitações impostas pela censura do regime militar, além de situações de cunho erótico, ligadas às comédias de costumes.

Foi o que fez o talentoso ator, diretor, escritor e artista plástico Jô Soares em seus Faça Humor, Não Faça a Guerra, Satiricom, Planeta dos Homens e Viva o Gordo, entre 1970 e 1981. O humorista, compositor e escritor Chico Anysio, por sua vez, veio do rádio, onde exibia seu talento nato para imitações. Na tevê, apresentava seu humor social em uma constelação de 209 personagens em Balança, Mas Não Cai e depois em seus Chico City, Chico Anísio Show e A Escolinha do Professor Raimundo, que atravessaram três décadas de televisão. O brilhante palhaço Renato Aragão corria por fora com um humor mais infantil em Os Trapalhões.

Uma nova concepção do humor foi possível com o fim do regime militar, que privilegiou não apenas o humor politizado, mas igualmente um humor "non sense", além de pastiches da própria televisão. Foi o caso da TV Pirata, entre 1988 e 1992, com um humor alucinado assinado pelo escritor Luis Fernando Veríssimo, os integrantes do Casseta & Planeta, além dos cartunistas Glauco e Claudio Paiva. O elenco incluía experientes atores como Ney Latorraca, Diogo Vilela, Debora Bloch e Louise Cardoso, entre outros.

Depois de algumas experiências na TV Educativa, com Papo Cabeça, apresentado por Bussunda, e na Bandeirantes, com o Vandergleison Show, os integrantes do Casseta & Planeta ganharam seu programa em 1992. Era algo inteiramente diferente do que se via até então na tevê. Primeiro, porque seus integrantes não eram atores, mas, por formação, engenheiros, jornalistas e cartunistas. Depois por tirar os quadros dos estúdios e realizar entrevistas cômicas e performances em ruas e praças, muitas vezes com paródias de figuras públicas nacionais e internacionais. Era um humor politicamente incorreto e altamente sarcástico

Com o tempo, surgiram alguns personagens que se tornaram recorrentes no programa, como o haterofilista Montanha, o dançarino Coisinha de Jesus, Carlos Maçaranduba e Seu Creysson, entre outros. De um público mais maduro e intelectualizado que assistia aos shows do grupo em bares e casa noturnas do Rio de Janeiro, os fãs do Casseta se multiplicaram, especialmente entre adolescentes e crianças. Entretanto a audiência do programa, que chegou a quase 40 pontos nos anos 90, caiu para algo para a casa dos 23 pontos nas derradeiras temporadas.

Humor é um gênero volátil por excelência. E manter um programa por tantos anos criativo e afinado com o público parece ser quase impossível. Especialmente porque a própria audiência televisiva se modificou drasticamente nestes últimos 20 anos. A segmentação do público é cada vez mais acentuada e parecem existir poucos programas capazes de atrair ao mesmo tempo várias faixas etárias e classes sociais diferentes. Os programas humorísticos seguem hoje esta estratificação, e se dedicam prioritariamente a adolescentes, como Pânico na TV!, ou a platéias mais maduras, caso de Junto e Misturado. Ao mesmo tempo, o sucesso das séries de humor da tevê norte-americana inspiram produções como S.O.S Emergência, enquanto uma comédia mais direta, corporal e popular se mantém em Zorra Total.

A sucessão de humorísticos que aparecem e somem da grade da Globo nos últimos anos (A Diarista, Faça A Sua História e Os Normais são apenas alguns deles) indica que nenhum deles deverá ser permanente, mas constantemente recriados a partir de novas ideias e de novos grupos de artistas. Testados a partir da internet e de canais por assinatura, como o Multishow, esses novos programas de humor dificilmente conseguirão o sucesso maciço de um Sai De Baixo, mas irão responder com flexibilidade às novas modas e modos. Hoje é a "stand-up comedy" que alimenta a tevê, em um retorno à formação teatral que tem revelado grandes comediantes. Em um mundo fragmentado, o humor também tende a se multiplicar. Piada é contexto.