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1 de junho, data do basta ao feminicídio

01 junho 2019 - 14h14

Com 27 anos de idade, sete deles vividos ao lado do companheiro, Bruna não engrossou por pouco a lista de mulheres vítimas de feminicídio. Na madrugada de 4 de novembro de 2017, ela desistiu de viver quando se viu jogada na rua. Depois de fugir por mais de seis quadras e ser atropelada pelo agressor já não tinha forças para correr. Com o corpo ensanguentado de tanto ser atacada, um dos braços pendia por causa da fratura exposta. “Eu não conseguia mais escapar dele. Então fechei os olhos e deitei”, recorda.

Hoje com 29 anos, Bruna Oliveira dos Santos tem a consciência que sobreviveu pelo acaso. Ela conta que as pessoas que pararam no momento da agressão perguntaram ao homem o porquê da briga. “Eu pedia para elas me tirarem de lá, para chamarem a polícia. Ele aproveitou esse momento e fugiu, mas eu tinha medo dele (agressor) voltar. E aquelas pessoas só falaram ‘a gente não devia ter parado’, ‘é briga de marido e mulher’. Aí eles entraram no carro e foram embora”, lamenta.

A lei do feminicídio, que considera homicídio qualificado o assassinato de mulheres em razão do gênero, é recente – março de 2015. O crime é motivado por violência doméstica ou discriminação. Esse é o único tipo de violação que cresceu em Mato Grosso do Sul em 2019 na comparação com 2018, saindo de 14 para 16 – alta de 14%. Já as tentativas de assassinatos de mulheres, igual a sofrida por Bruna, registrou alta de 109% – saltando de 22 para 46. O período analisado é de 1º de janeiro a 26 de maio.

“É impossível que a gente não esteja ouvindo o pedido de ajuda dessas mulheres, cuja realidade é triste e acaba em morte num país em que a cada duas horas registra um feminicídio”, afirma a subsecretária de Cidadania de Mato Grosso do Sul, Luciana Azambuja Roca. “É preciso falar sobre violência de gênero e sobre feminicídio, que mata mulheres pelas mãos daquelas pessoas que elas depositam amor, confiança e esperança de uma vida a dois. E, na maioria das vezes, elas são mortas naquele ambiente em que deveriam estar mais seguras: suas residências”, completa a subsecretária.

Em Mato Grosso do Sul, a lei 5.202/2018, de autoria do Poder Executivo instituiu o 1º de junho como Dia Estadual de Combate ao Feminicídio. A data foi escolhida em homenagem a jovem Isís Caroline da Silva Santos, assassinada aos 21 anos pelo ex-marido em Campo Grande. “A lei também é em memória de todas as 124 mulheres que já morreram no Estado desde a vigência da lei, e de outras 160 mulheres que sobreviveram as tentativas de feminicídio em Mato Grosso do Sul”, diz Luciana.

Com a normatização da lei também foi instituída a Semana Estadual de Combate ao Feminícido. Com essas políticas públicas, o desafio do Governo do Estado é sensibilizar toda a sociedade civil no combate à violência contra a mulher. “Nesse período serão realizadas caminhadas, panfletagens, blitzes educativas, palestras e rodas de conversa buscando a conscientização de todos, pois nós não podemos mais tolerar qualquer tipo de violência”, afirma a subsecretária de Cidadania.
Depois de ter sobrevivido a tentativa de feminicídio, Bruna viu seu agressor ser condenado pela Justiça a 10 anos e oito meses de prisão e virou ativista da causa. “Tive acompanhamento psicológico em que pude compreender o que acontecia. Me conheci com mulher, como pessoa. Eu entendi que o que aconteceu comigo acontece todos os dias. Eu não queria ser mais uma. Parei, refleti e vi que eu podia fazer alguma coisa. Essa é uma luta diária para proteger outras mulheres”, explica.