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Cultura

Em noite fria e de lua cheia, Almir Sater e Renato Teixeira esquentam Bonito

28 julho 2018 - 16h00Por Silvio Andrade

Um show simples, porém, verdadeiro. A definição do cantor e violeiro sul-mato-grossense Almir Sater, de 61 anos, para o show em dupla com o parceiro e amigo Renato Teixeira, de 73, exprime a vida que ambos levam na Serra de Cantareira, em São Paulo, onde são vizinhos. Sem pressa, como dita uma das músicas preferidas da legião de fãs, ambos abominam certos modernismos, como o mundo digital, e, no caso de Almir, a ideia de gravar um DVD ao vivo.

“Não sei falar desse troço”, reagiu o violeiro pantaneiro, em entrevista coletiva antes do show no segundo dia do 19º Festival de Inverno de Bonito, perguntado sobre a importância da digitalização da imagem televisiva. “Não só avesso, sou contra mesmo, o DVD vulgariza o artista”, disse ao comentar a possibilidade de, um dia, gravar um show em vídeo. “Eu sou mais exibido, já gravei DVD”, brincou Renato Teixeira, paulista interiorano de fala mansa, como as águas que correm pelo Pantanal.

O encontro desses dois grandes cancioneiros hoje referências da música ruralista brasileira, por vezes rotulada de caipira, mas enraizada no estilo folk, não poderia ter obtido resultado melhor. Depois de canções como Tocando em Frente (1990), obra-prima do gênero lançada na voz de Maria Bethânia, a amizade de 30 anos culminou, mais recentemente, com dois discos primorosos: AR e +AR.

Homenagem a Bonito

O show apresentado na Praça da Liberdade, em Bonito, na noite fria (17 graus) e enluarada desta sexta-feira (27), foi uma síntese dos últimos trabalhos, cujas gravações, como sempre na vida dos dois, não foi programado. “Quando terminamos o AR, continuamos compondo e o +AR nasceu dessa vontade mesmo de mostrar nossas músicas. O show foi bem assim também e decidimos cair na estrada depois do sucesso em São Paulo. A coisa pegou e estamos muito felizes por isso”, disse Sater.

No show, a dupla, que não gosta do rótulo – “não vamos virar dupla, apenas estamos curtindo esse momento”, diz o violeiro -, apresentam músicas dois últimos trabalhos, mesclando com antigos sucessos a pedido do público. O AR conquistou o prêmio de melhor álbum de raízes brasileiras do Grammy Latino, confirmando a maestria e o refinamento de canções memoráveis inspiradas por ambos no mais puro estilo pop rural mais urbano. Outros discos virão, garante Teixeira.

A presença dos dois levou centenas de pessoas à praça já na passagem do som, ao meio-dia de sexta-feira, onde cada música passada era motivo de aplausos e muita tietagem. Renato Teixeira se esqueceu da letra de Bonito, música que fez em homenagem a cidade, no ano passado, mas logo cantou: “O grito das arapongas/ A calma das águas claras/ A luz que deixa tão lindo/ O verde que aqui se espalha/ Eu digo muito Bonito…” A música fechou o show em grande estilo.

Romaria emociona

Na apresentação de 1h30 no FIB, os dois cantaram 15 músicas e atrairam milhares de pessoas, com um repertório romântico que embalou muitos corações. O show foi aberto com músicas dos novos discos: D de Destino, A Primeira Vez, A flôr que a gente assopra e Bicho Feio (o violonista Rodrigo Sater, irmão de Amir, também assina). Na sequência, foi bom recordar – e cantar – de Frete, Amora, Rasta Bonito e Ana Raio e Zé Trovão, este tema da novela da qual Almir foi protagonista.

Almir puxou na viola Peixe Frito e matou saudades de Rei do Gado, que gravou com Sérgio Reis – formando a dupla também novelista Pirilampo e Saracura. Depois de Venha me Ver, Terra dos Sonhos, No Rastro da Lua Cheia, Flor do Vidigal (homenagem ao Rio de Janeiro) e Justo, Renato Teixeira emocionou o público com Romaria (1977), eternizada na voz de Elis Regina. O público cantava, embalado por uma sonoridade ambientada pela lua cheia em noite de eclipse.