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Nupeq ganha destaque em principal jornal do estado

29 novembro 2016 - 12h34

O Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (Nupeq) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Campo Grande ganhou destaque nas páginas do Caderno B, do Correio do Estado. Confira a reportagem de Cassia Modena.

Universo dos super-heróis motiva reflexões

A explosão dos super-heróis nos cinemas acompanha o crescimento de uma legião de adoradores a essas criações – misto de humanidade com fantasia – e atrai aos cinemas pessoas que nunca leram um exemplar de revista em quadrinhos, mas que certamente conhecem o Batman, o Super-Homem e o Homem Aranha, que de lá saíram. Fenômenos do passado, agora amplificados e disseminados em diversas plataformas, eles provavelmente continuarão fascinando antigos e novos seguidores por espelharem valores filosóficos, os vícios e virtudes, reconhecidos por qualquer ser de carne e osso.

“Acredito nos super-heróis como um reflexo do nosso tempo. Os personagens na minha juventude eram mais ingênuos e virtuosos, hoje eles têm defeitos, qualidades e vícios, falhas que todos temos. Convivem com vitórias e derrotas na mesma medida e nem sempre salvam o dia, algo muito parecido com o que vemos por aí”.

Pensa assim o funcionário público Daniel Rockenbach, 34 anos, que é leitor de histórias em quadrinhos desde criança. Na vida adulta, os super-heróis estão ainda presentes no imaginário e no consumo de objetos de decoração, filmes, livros e gibis, que continua fazendo. Só em revistas, ele tem uma coleção de mais de 5 mil, divididas entre as estantes de sua casa e da casa da mãe, em Campo Grande. O acervo acaba funcionando como uma linha do tempo da história dos quadrinhos e da vida do fã, e permite perceber a evolução de suas leituras, das simples às sofisticadas. “Algumas li pela primeira vez e achei ‘sem pé nem cabeça’. Mais tarde, consegui ‘pegar’ as referências históricas e a simbologias que elas traziam”.

MITOS DO PRESENTE

Segundo Joseph Campebell, um dos maiores estudiosos e intérpretes da mitologia universal, os mitos são formas de contar histórias sobre a realidade e a natureza humana, e são parte de todas as culturas.

No universo dos super-heróis, eles se fazem presentes se relacionando com acontecimentos da vida real, como guerras, questões religiosas, aumento da criminalidade nas cidades e experiências nucleares. Com essas referências, além de transmitirem valores, eles também estimulam a correlação com as “mitologias do nosso tempo”. 

Para o professor de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) e pesquisador de histórias em quadrinhos, Nataniel Gomes, essas produções atualizaram o conceito de mito e os super-heróis passaram a servir para manter as esperanças humanas vivas.

Ele dá o exemplo do Super-Homem, que surge depois da quebra da Bolsa de Nova York para servir de “modelo” à Terra, e do Hulk, que é uma versão do clássico “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson. “Temos também o Homem Aranha, um jovem nerd que sofre bullying, tem uma tia doente para sustentar, muitas dívidas, não consegue uma namorada e vira um herói. Esse tipo chama a atenção do público. O leitor se interessa por aqueles personagens que passam por dilemas semelhantes aos do seu dia a dia”.

Nataniel explica que os quadrinhos já apresentaram mais conteúdo, mas tiveram que se adaptar às mudanças de cada tempo. “Se nos anos 1960 havia uma série de tabus, nos anos 70, questões como religiões e drogas começaram a ser discutidas. Na década de 80, eles se tornaram mais pessimistas, em 90 muito visuais e com pouco conteúdo. Mais recentemente, por exemplo, retrataram o 11 de Setembro, mostrando que os heróis não puderam impedir a tragédia”. 

REPRESENTATIVIDADE

Apesar de as histórias dos personagens mais massificados se passarem no Primeiro Mundo e as produtoras e editoras mais bem-sucedidas serem norte-americanas, há heróis que se originam em outras regiões e viajam por todos os cantos, contemplando culturas distintas. Um exemplo é a heroína brasileira Fogo, que nasce na Amazônia com a ajuda de um índio parteiro que lhe confere poderes especiais.

Com o passar do tempo, surgiram também personagens com deficiência física e a representação das mulheres heroínas na ficção começou a mudar. Doutoranda em Química, Ana Paula Floriano, 28 anos, é fã de vários personagens, e tem notado diferenças especialmente em heroínas, até pela pressão que a luta por igualdade de gêneros tem exercido na cultura dos super-heróis. “Vejo uma melhora na aplicação de esteriótipos nas heroínas, Kamala Khan, que está no filme ‘Capitão Marvel’, é uma que em nenhum momento foi uma supermodelo letal como a maioria das heroínas eram desenhadas. Outras produções também estão trabalhando em desenvolver melhor o psicológico e a personalidade das heroínas no lugar de mostrar apenas corpos”.

Para Ana Paula, o que os super-heróis em geral representam é, antes de tudo, a persistência, a coragem e senso de moral. “Mesmo que a situação esteja incrivelmente ruim ou pareça impossível de resolver, o herói não desiste e mesmo com medo ele vai tentar ajudar e resolver os problemas”.

PROJETOS

Acusados de estimularem a deliquência – principalmente na era dos quadrinhos de terror e de sangue –, os super-heróis ainda carregam a fama de banalizar a violência. Muitos quadrinhos foram e ainda são censurados por conterem ilustrações e narrativas fortes. No entanto, a luta do bem contra o mal continua, e os heróis modernos estão conseguindo trazer de volta o encantamento por histórias que retratam um mundo melhor. 

Essa busca inspirou a  criação da Liga do Bem, um grupo de voluntários que se fantasiam de super-heróis para levar atenção e carinho a hospitais, asilos, abrigos e comunidades carentes de Campo Grande.

Outra iniciativa do bem são as visitas a escolas públicas da Capital promovidas pelo Núcleo de Pesquisas em Quadrinhos da Uems. O objetivo é estimular o gosto pela leitura por meio das histórias em quadrinhos, apresentar produções menos conhecidas e proporcionar uma reflexão sobre a representação da atualidade.

O Núcleo de Pesquisa em Quadrinhos (Nupeq) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS) em Campo Grande ganhou destaque nas páginas do Caderno B, do Correio do Estado. Confira a reportagem de Cassia Modena.

Universo dos super-heróis motiva reflexões

A explosão dos super-heróis nos cinemas acompanha o crescimento de uma legião de adoradores a essas criações – misto de humanidade com fantasia – e atrai aos cinemas pessoas que nunca leram um exemplar de revista em quadrinhos, mas que certamente conhecem o Batman, o Super-Homem e o Homem Aranha, que de lá saíram. Fenômenos do passado, agora amplificados e disseminados em diversas plataformas, eles provavelmente continuarão fascinando antigos e novos seguidores por espelharem valores filosóficos, os vícios e virtudes, reconhecidos por qualquer ser de carne e osso.

“Acredito nos super-heróis como um reflexo do nosso tempo. Os personagens na minha juventude eram mais ingênuos e virtuosos, hoje eles têm defeitos, qualidades e vícios, falhas que todos temos. Convivem com vitórias e derrotas na mesma medida e nem sempre salvam o dia, algo muito parecido com o que vemos por aí”.

Pensa assim o funcionário público Daniel Rockenbach, 34 anos, que é leitor de histórias em quadrinhos desde criança. Na vida adulta, os super-heróis estão ainda presentes no imaginário e no consumo de objetos de decoração, filmes, livros e gibis, que continua fazendo. Só em revistas, ele tem uma coleção de mais de 5 mil, divididas entre as estantes de sua casa e da casa da mãe, em Campo Grande. O acervo acaba funcionando como uma linha do tempo da história dos quadrinhos e da vida do fã, e permite perceber a evolução de suas leituras, das simples às sofisticadas. “Algumas li pela primeira vez e achei ‘sem pé nem cabeça’. Mais tarde, consegui ‘pegar’ as referências históricas e a simbologias que elas traziam”.

MITOS DO PRESENTE

Segundo Joseph Campebell, um dos maiores estudiosos e intérpretes da mitologia universal, os mitos são formas de contar histórias sobre a realidade e a natureza humana, e são parte de todas as culturas.

No universo dos super-heróis, eles se fazem presentes se relacionando com acontecimentos da vida real, como guerras, questões religiosas, aumento da criminalidade nas cidades e experiências nucleares. Com essas referências, além de transmitirem valores, eles também estimulam a correlação com as “mitologias do nosso tempo”. 

Para o professor de Letras da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (Uems) e pesquisador de histórias em quadrinhos, Nataniel Gomes, essas produções atualizaram o conceito de mito e os super-heróis passaram a servir para manter as esperanças humanas vivas.

Ele dá o exemplo do Super-Homem, que surge depois da quebra da Bolsa de Nova York para servir de “modelo” à Terra, e do Hulk, que é uma versão do clássico “O Médico e o Monstro”, de Robert Louis Stevenson. “Temos também o Homem Aranha, um jovem nerd que sofre bullying, tem uma tia doente para sustentar, muitas dívidas, não consegue uma namorada e vira um herói. Esse tipo chama a atenção do público. O leitor se interessa por aqueles personagens que passam por dilemas semelhantes aos do seu dia a dia”.

Nataniel explica que os quadrinhos já apresentaram mais conteúdo, mas tiveram que se adaptar às mudanças de cada tempo. “Se nos anos 1960 havia uma série de tabus, nos anos 70, questões como religiões e drogas começaram a ser discutidas. Na década de 80, eles se tornaram mais pessimistas, em 90 muito visuais e com pouco conteúdo. Mais recentemente, por exemplo, retrataram o 11 de Setembro, mostrando que os heróis não puderam impedir a tragédia”. 

REPRESENTATIVIDADE

Apesar de as histórias dos personagens mais massificados se passarem no Primeiro Mundo e as produtoras e editoras mais bem-sucedidas serem norte-americanas, há heróis que se originam em outras regiões e viajam por todos os cantos, contemplando culturas distintas. Um exemplo é a heroína brasileira Fogo, que nasce na Amazônia com a ajuda de um índio parteiro que lhe confere poderes especiais.

Com o passar do tempo, surgiram também personagens com deficiência física e a representação das mulheres heroínas na ficção começou a mudar. Doutoranda em Química, Ana Paula Floriano, 28 anos, é fã de vários personagens, e tem notado diferenças especialmente em heroínas, até pela pressão que a luta por igualdade de gêneros tem exercido na cultura dos super-heróis. “Vejo uma melhora na aplicação de esteriótipos nas heroínas, Kamala Khan, que está no filme ‘Capitão Marvel’, é uma que em nenhum momento foi uma supermodelo letal como a maioria das heroínas eram desenhadas. Outras produções também estão trabalhando em desenvolver melhor o psicológico e a personalidade das heroínas no lugar de mostrar apenas corpos”.

Para Ana Paula, o que os super-heróis em geral representam é, antes de tudo, a persistência, a coragem e senso de moral. “Mesmo que a situação esteja incrivelmente ruim ou pareça impossível de resolver, o herói não desiste e mesmo com medo ele vai tentar ajudar e resolver os problemas”.

PROJETOS

Acusados de estimularem a deliquência – principalmente na era dos quadrinhos de terror e de sangue –, os super-heróis ainda carregam a fama de banalizar a violência. Muitos quadrinhos foram e ainda são censurados por conterem ilustrações e narrativas fortes. No entanto, a luta do bem contra o mal continua, e os heróis modernos estão conseguindo trazer de volta o encantamento por histórias que retratam um mundo melhor. 

Essa busca inspirou a  criação da Liga do Bem, um grupo de voluntários que se fantasiam de super-heróis para levar atenção e carinho a hospitais, asilos, abrigos e comunidades carentes de Campo Grande.

Outra iniciativa do bem são as visitas a escolas públicas da Capital promovidas pelo Núcleo de Pesquisas em Quadrinhos da Uems. O objetivo é estimular o gosto pela leitura por meio das histórias em quadrinhos, apresentar produções menos conhecidas e proporcionar uma reflexão sobre a representação da atualidade.