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Educação

UFGD realiza primeira dissertação de mestrado em comunidade quilombola

05 julho 2019 - 11h32

O Programa de Pós-graduação em História (PPGH) da UFGD levou para a Comunidade Quilombola Tia Eva, em Campo Grande, a banca de defesa da dissertação da mestranda Myleide Meneses de Oliveira Machado, realizada terça-feira (2), no Salão Comunitário, em uma sessão pública para os moradores e alunos. É a primeira vez que PPGH promove uma banca de mestrado no local. Com o tema “Comunidade Tia Eva: Bairro de Negros e Herança de Fé”, o trabalho foi um estudo de caso para compreender e historizar parte do processo de luta pela regularização fundiária do território da comunidade, analisando o período entre 1985 e 2008.

A banca, formada por Eudes Fernando Leite (orientador/UFGD), Cíntia Santos Diallo (UEMS) e Cláudia Regina Nichnig (UFGD), atendeu prontamente a sugestão de fazer a defesa da dissertação no local, pela importância de aproximar a academia com a comunidade, como uma forma de fortalecer e prestigiar o grupo. “As pesquisas acadêmicas diariamente produzidas nas universidades públicas são feitas para a sociedade e devem atender a ela, seja em qual for a área de conhecimento. Não concordamos com o distanciamento, que muitas vezes nos é imposto”, afirmou o professor doutor Eudes Fernando Leite.

Para Myleide Machado, que prefere ser chamada de Myla, a experiência oportunizou o entendimento e a visualização dos resultados da pesquisa. “Eu me senti muito honrada em dividir com cada um dos meus narradores e alunos a apresentação do meu trabalho, cuja metodologia é História Oral. Precisamos mostrar que o mundo da academia ‘tem de ser mais aberto e acessível’, tornando os personagens atuantes ativamente dentro de todo o processo. A intenção também foi mostrar que meu trabalho deve ter uma função política e social não só para a comunidade acadêmica, mas para todos os envolvidos na pesquisa, os movimentos sociais negros, os coletivos de mulheres negras e principalmente as instituições ligadas ao movimento quilombola”, defende a mestra.

A dissertação “Comunidade Tia Eva: Bairro de Negros e Herança de Fé” demonstra a necessidade de redimensionar os conceitos de identidade e territorialidade associando-os às interpelações com o espaço e a sociedade, trazendo elementos culturais que os identifiquem e oferecem o status de Comunidade Quilombola. De acordo com a pesquisa, o território somado às tradições e ao legado de fé deixado por Tia Eva são o que de melhor representa e traduz uma identidade étnica, requisito fundamental para reprodução da vida. “E na comunidade Tia Eva a posse legal da terra será decisiva para a permanência e continuidade da presença construída historicamente, riqueza que deve ser garantida como legado cultural para a cidade Campo Grande”, afirma Myla Machado.

Biblioteca comunitária

A pesquisa se utilizou também da inspiração em etinografia e isso ocasionou uma aproximação muito grande da pesquisadora com o grupo, sendo convidada a integrar o Grupo Mulheres Negras em Ação da Comunidade Tia Eva (GMUNE). As várias participações proporcionaram a observação e ensaios sobre a comunidade, inspirando o Projeto “Biblioteca Comunitária Filhas de Tia Eva”, que nasceu em uma das reuniões do grupo de mulheres negras na comunidade numa das tardes de sábado.

Ansiosas por trazerem para todos o hábito da leitura e a educação, deram início as doações de livros em parceria com a Associação de Descendentes (com a cedência do espaço) e contaram com apoio do Grupo de Pesquisa Luta pela Terra (da Faculdade de Direito da UFGD), liderado pelo professor Tiago Botelho, em Dourados.

Para que uma biblioteca comunitária possa emergir, é preciso uma mobilização coletiva de quem a deseja. Por isso, o grupo está planejando o lançamento de uma Vaquinha On-line para iniciar a arrecadação de fundos para a compra dos livros do acervo voltado principalmente para autores negros, oferecendo a total identificação com o público-alvo.