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A poesia é a concretude de Deus

14 setembro 2020 - 11h43Por ROSILDO BARCELLOS

Foi indicada pela UFMS, para o vestibular 2021, uma relação de nove obras de autores da literatura de língua portuguesa, para que sejam estudadas e sirvam como base para questões e conhecimentos dos alunos. Os livros são: “Marília de Dirceu”, de Tomás Antonio Gonzaga; “Esaú e Jacó”, de Machado de Assis; “Triste Fim de Policarpo Quaresma”, de Lima Barreto; “Viagem e Vaga Música”, de Cecília Meireles; “Sagarana”, de Guimarães Rosa; “O Encontro Marcado” de Fernando Sabino; “Seminário dos Ratos”, de Lygia Fagundes Telles; “Cinzas do Norte”, de Milton Hatoum; e “Vias do Infinito Ser”, de Rubenio Marcelo.

Publicado pela Editora Letra Livre, o livro de Rubenio Marcelo traz 115 poemas em versos livres. Aprovado pelo FIC/MS, foi o 11ª livro autoral de Rubenio Marcelo (“Vias do Infinito Ser”) e apresenta poemas dosados de efeitos metafóricos e sintonizados com linguagem filosófica e aspectos da espiritualidade humana – a obra expõe também mensagens voltadas para reflexões acerca da virtude e aspectos existenciais além do imediatismo cotidiano.

A orelha traz opiniões de pesos pesados da literatura do nosso Estado. O escritor, jornalista e acadêmico Henrique de Medeiros aponta: “Neste novo livro, Rubenio Marcelo veleja, filosofa, canta, expõe o verbo poetar em sua essência, e principalmente busca o essencial: o ser”. Entrementes o escritor J. P. Frazão, membro da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras, assevera: “Ao desvendar o fenômeno das intuições e do fantástico místico incorporado neste livro ‘Vias do Infinito Ser’, testemunhamos que a infinitude poética se confirma em cada verso, filosoficamente criado, como um fio de sensações cósmicas interligando astros e nos conduzindo ao misterioso princípio/fim da existência”.

A poesia que oferta o título à obra é:

VIAS DO INFINITO SER
sem a ordem do dia
do sobrenatural
não haveria
a natural ordem
das coisas da noite...
da noite para o dia
silentes instantes
tornam-se eternos...
do dia para a noite
palavras saltam muralhas
e viram estrelas...
instantes e estrelas
conhecem os refúgios do tempo
mas desentendem
a quietude das pedras
e a saga dos pássaros
translúcidos
do sétimo céu...
por via das dúvidas
há vias de certezas
que nos desafiam a percorrer
in/conscientemente
e em perfeita claridade
a via láctea e o infinito
do nosso ser...

Se por um lado não há óbices para um recatado eu lírico em cumprir sua sina, por outro, sua escrita não se reduz à emotividade, pois promove um diálogo profícuo entre a tradição poética e os silentes instantes que se tornam eternos. Outrossim, o pensamento romântico abarca para a poética moderna o ideal da lírica como essencialmente subjetiva. Dessa maneira, o poeta passa a manifestar sua experiência individual e o eu lírico a expressar não somente a realidade, mas a maneira como a interioridade dialoga na facúndia loquacidade com a tal realidade.

A importância da abordagem existencial apresenta seu embate, a nosso ver, no alcance que pode trazer à compreensão da experiência humana, e também no fato de ser um paradigma de investigação científica atento aos fundamentos ontológicos da realidade, fazendo com que, “do dia para a noite” as palavras saltem as muralhas e se transmutem em estrelas. Vejo através dessa escolha efusivo beneplácito, no aquecimento da literatura regional, nitidificando um fortalecimento para todos nós escritores, com novos livros saindo do recôndito das prateleiras para as praças e pontos de estudo. Por derradeiro, Descartes, pela aplicação da dúvida metódica, assumiu a existência do cogito, isto é, da sua existência como ser pensante, demonstrou a existência de Deus a partir do facto de que não nos podemos conservar a nós próprios.

Se não podemos garantir a nossa existência, mas apesar disso existimos, é porque alguém nos pode garantir essa existência e essa completude se torna eterna ... através da poesia. E graças a Deus sou poeta, sim; eu sou! E agradeço a Rubenio Marcelo por nos representar. Honrando a cadeira 35 e a ala de compositores da Catedráticos do Samba.

* O autor é Articulista

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