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A ganância é hospedeira da pouca-vergonha

29 março 2018 - 14h35

Temos visto na TV, reportagens que abordam e mostram os residenciais programados do tipo “Minha casa minha vida”, licitados e financiados pelo Governo federal, através da Caixa Econômica.

Nessas edificações, em pouco tempo, começaram os vazamentos de água do piso superior, umidade, rachaduras do piso e outros incômodos em quase todos apartamentos: são forros caindo aos pedaços, paredes com fissuras que assombram e tiram o sono do modesto e outrora feliz morador, que um dia viu seu sonho de possuir uma moradia, ter um endereço certo e ali criar seus filhos, com segurança. Sonho modesto sem maiores pretensões, afinal também é filho de Deus e acreditou que o Governo tinha, pelo menos, um pouco de respeito por ele.

Programada a construção do residencial, no primeiro momento, a corrupção política prontamente se fez presente. A construtora foi escolhida a dedo, no arsenal da pouca-vergonha, onde a ganância vive amancebada com o desejo de roubar — pela impressionante facilidade — o Tesouro Nacional, consubstanciado nos fundos da Caixa Econômica Federal. No segundo momento, os tratamentos criminosos para enganar o pobre brasileiro, para quem destinava-se a moradia, que, inocentemente, ainda acreditando em Papai Noel, via seu antigo sonho realizar-se. Sonho antigo, modesto. A boa nova alegrou toda a família, que via acontecer o que sempre esperaram: possuir uma casa, um teto, para acomodar a família embaixo!

A insaciável ganância, aliada à incompetência apresentaram-se de braços dados com a corrupção, e juntas, ao invés de edificar um conjunto de moradias dentro das normas de segurança e com acabamento aceitável, assessoradas pela incompetência técnica de profissionais desonestos, abusaram da dissimulação e de materiais ordinários, fora de qualquer especificação e assim edificaram “o antigo sonho do brasileiro” sobre a areia.

A quadrilha, sem nenhum percalço, favorecida pelo órgão publico financiador (a Caixa Econômica), que tinha por obrigação primária fiscalizar a obra, mas manteve-se, suspeitamente, inerte, dando segurança e tranqüilidade para os escroques consolidarem a armação arquitetada, objetivando lesarem a própria Caixa Econômica e o pobre chefe de família que, de roldão leva junto sua família, quando descobre que a morada dos seus sonhos, ameaça desabar pondo em risco a vida de todos.

Sem exceção, pelo que se tem notícia pela imprensa, todos os conjuntos habitacionais — térreos ou edifícios fracionados em apartamentos, — vêm apresentado problemas gerais que envolvem toda a construção. São problemas primários, gerados pela vontade incontrolável de um conjunto de interessados em levar vantagem sobre qualquer coisa que seja possível. É o império da pouca-vergonha aliada à criminosa desonestidade, não reprimida tempestivamente pela Justiça morosa e desarmada de uma legislação moderna, eficiente e rápida!

Os escroques que operam no território nacional perderam o medo e desdenham do trabalho da polícia, pela inoperância da Justiça, onde os réus — quase todos — gozam de foro privilegiado e estão municiados com recursos inesgotáveis, desfrutando, ainda, da suspeita simpatia de alguns Julgadores de alto coturno, que envergonham o Judiciário Nacional e provocam asco à Nação, que se sente acintosamente defraudada, constrangida e impotente

O “animus rem sibi habendi” (a intenção de ter a coisa para si), não se restringe a habitação popular, o peculato campeia com impressionante velocidade e intenção em todos os setores da administração pública, saqueando os recursos da saúde, do ensino e da segurança, provocando irrecuperáveis prejuízos ao País e à Nação, que amarga um atraso homérico, quando comparada com o desenvolvimento intelectual de outros países.

Para o larápio do dinheiro público — o peculatário — ninguém, por mais miserável que seja, não precisa de assistência médica, de escola, de segurança e, sobretudo, de comida. Ele precisa de tudo. De tudo para si, é o “animus rem sibi habendi” (o desejo de ter a coisa para si) e o resto que se “sbore” (arrebente-se) como dizia minha avó, no seu dialeto vêneto.

* O autor é membro da Academia Douradense de Letras.
[email protected].)

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