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Economia

Jornada flexível influencia na escolha da carreira feminina

21 janeiro 2011 - 13h39Por Redação Douranews/ com folha.com

Carreiras com um horário de trabalho flexível são cada vez mais procuradas pelas mulheres. Segundo a pesquisadora da Fundação Carlos Chagas Cristina Bruschini, a jornada de trabalho influencia as profissionais na hora em que vão procurar empregos ou escolher uma carreira.

A partir da década de 90, a participação da população feminina no mercado de trabalho começou a crescer gradativamente. Segundo Cristina, elas se concentram sobretudo em áreas que guardem relação com tarefas familiares. Carreiras ligadas aos cuidados com os filhos são lideradas pelas mulheres, como a área de educação, saúde, alimentação e serviço social.

Cristina destaca que também há carreiras ”masculinas” em que as mulheres vêm aumentando sua presença desde a década de 1970, como arquitetura e advocacia privada. “Isso se deve a questões relativas às horas de trabalho. Em arquitetura e direito privado, elas conseguem ter um horário mais flexível, facilitando sua necessidade de organizar a casa”, explica. Outra área em que a participação da mulher vem crescendo é engenharia. No entanto, a pesquisadora analisa que, apesar do aumento, a presença ainda está longe de ser expressiva.

Um levantamento realizado em fevereiro de 2010 pela Catho Online, empresa de classificados online de currículos e empregos, mostrou que a preferência das mulheres é pela área de Recursos Humanos. De acordo com os dados, elas ocupam 72,9% da posições na área de Recursos Humanos. Em seguida, está o setor administrativo, com a presença de 52,9% das mulheres. A área de Tecnologia é a que tem a menor participação feminina entre as analisadas pela Catho (16,15%).

A jornada de trabalho é o fator mais considerado na escolha pela profissão e busca de empregos, principalmente para mulheres que tenham filhos ou estejam planejando ter. “Quando o horário não pode ser negociado, fica difícil conciliar com as tarefas domésticas”, acredita a pesquisadora. Esse cenário varia de acordo com a escolaridade, renda familiar e estrutura da família. “Se a mulher tem uma boa condição financeira, ela consegue pagar uma babá e um motorista, o que possibilita que ela fique mais tempo fora de casa. Além disso, se a mulher é uma pessoa sozinha e não tem com quem deixar as crianças, fica muito mais difícil poder ter uma carreira com uma jornada maior.”

Mesmo com o crescimento da presença feminina no mercado de trabalho nas últimas décadas, Cristina acredita que certos empregadores ainda têm dificuldade em aceitar a presença feminina.

Além de convencer os empregadores, as mulheres também precisam fazer uma ”revolução” na cabeça masculina para que eles passem a dividir as tarefas domésticas. “Mas isso só vai acontecer quando elas de fato saírem para trabalhar e seus maridos perceberem a importância de ajudar.”

População economicamente ativa

A Pesquisa Mensal de Emprego, divulgada em novembro de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que a população economicamente ativa (que inclui as pessoas ocupadas e as desocupadas) é de 23,8 milhões de pessoas nas seis regiões metropolitanas pesquisadas. De acordo com os dados, esse número não sofreu alteração de outubro para novembro, mas apresenta alta de 1,9% frente a novembro do ano anterior.

O índice da população feminina economicamente ativa, segundo o estudo, cresceu de 45,8%, em 2009, para 46%, em 2010. Já a taxa dos homens diminuiu em 0,2 ponto percentual, passando de 54,2% para 54%.

Em janeiro de 2009, a pesquisa mostrou que os homens representavam 55,3% da população ocupada e as mulheres, 44,7%. Em novembro de 2010, o estudo apontou que os homens somavam 54,8% da população ocupada e as mulheres, 45,2%.

Cargos e salários

Apesar do crescimento das mulheres no mercado de trabalho, os salários ainda costumam ser mais baixos do que o dos homens em praticamente todas as carreiras. Para a pesquisadora Cristina Bruschini, é uma questão de discriminação. “Os salários chegam a ser 30% mais baixos. Os empregadores ainda acreditam que as mulheres vão dar trabalho na hora de quererem ter filhos, além de não terem disponibilidade para viagens.”

Além disso, há uma grande dificuldade em subir na carreira e chegar a postos de comando. “Geralmente, apenas os salários do setor público são iguais para mulheres e homens. Isso porque há concursos e regras muito formais para admissão e promoção”, explica Cristina.

De acordo com dados do levantamento realizado pela Catho Online, as mulheres já representam 21,88% dos cargos mais elevados, como presidentes e CEOs. Há 13 anos, o espaço ocupado pela população feminina era de apenas 10,39%.

Profissão liberal

Patrícia Furtado, arquiteta e gerente de vendas corporativas e relacionamento com o mercado na rede de móveis Etna, tem dois filhos e acredita que a arquitetura é uma profissão liberal que faz com que os horários sejam mais flexíveis.

A arquiteta trabalha das 9h às 19h, mas afirma que tem total liberdade para sair durante esse horário quando precisar resolver algum problema pessoal. Seus filhos agora já são adolescentes, um de 12 anos e um com 16 anos, e, segundo ela, já sabem ”fazer tudo sozinhos”. Antes disso, Patrícia conta que tentou facilitar ao máximo sua vida para que o trabalho não atrapalhasse os cuidados com os filhos.

“Sempre tive uma vida bem prática justamente para continuar trabalhando. Coloquei meus filhos na perua da escola. A natação também tinha carona. Tudo para facilitar. Além disso, eles tinham uma babá que dormia em casa e logo cedo dei um celular para cada um. Ficava mais tranquila”, conta Patrícia.

Antes da Etna, Patrícia trabalhou em escritórios de arquitetura, nos quais tinha horários flexíveis e uma liberdade maior até para levar seus filhos para o trabalho. “Quando eles eram menores e eu não tinha com quem deixar, eles iam comigo para as obras. Ficavam quietinhos. Sempre entenderam que eu tenho uma carreira.”

Na opinião de Patrícia, a arquitetura proporciona uma liberdade que outras profissões, como enfermagem, não têm. “Os horário e regras na área de enfermagem são super-rígidos. É um esquema de folga que não pode mudar. Isso em arquitetura é bem diferente, o que facilita bastante”.

Patrícia conta que na época em que fez faculdade, há 25 anos, havia muito mais homens nas salas de aula. “Agora tem muito mais mulheres. A participação feminina está crescendo muito.”

Entretanto, Patrícia afirma que os salários ainda são mais baixos em relação aos homens. “As oportunidades para as mulheres estão crescendo, mas ainda ganhamos menos, principalmente nos cargos mais altos.”

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