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Economia

Ex-vendedor afirma que venda de seguros é incentivada em loja de departamento

14 agosto 2016 - 12h45

Um ex-vendedor da Casas Bahia denuncia que a prática de vendas de seguros, embutidos nas compras em carnê na loja, sem que os clientes saibam, é uma prática decorrente e incentivada pela empresa.

Essa semana, um aposentado de 84 anos denunciou ao jornal Midiamax a compra de um guarda-roupas na Casas Bahia. O produto, que custava R$ 698, foi cobrado com quase R$ 500 de adição no valor, por conta de um seguro e garantia estendida. A prática, segundo o Procon/MS (Superintendência de Defesa do Consumidor) é ilegal e configura ‘venda casada’.

Vendedores são incentivados pela gerência

O ex-vendedor relata que a prática é orientada aos vendedores pela gerência. Ele trabalhou durante três meses na unidade ‘1151’, que fica na Avenida Afonso pena, em Campo Grande.

“Na entrevista mostram um mundo de fantasia, falam que vender é fácil. Com dois ou três dias comecei a perceber que o interesse maior era venda de seguros, essa venda embutida. Eu não durei muito tempo lá, comecei a me sentir mal, 99% dos casos você não fala pra pessoa o que ela está levando”, conta.

De acordo com ele, a orientação ocorre em reuniões diárias no início da manhã. “É orientação da gerência, todo dia de manhã tem reunião lá, antes de abrir a loja, e nunca participei de uma reunião em que o gerente fala ‘vocês tem que vender 100 televisores’, por exemplo. O foco deles é a garantia, seguro vtp [vida protegida premiada] e outros. Você vai comprar uma geladeira lá, as pessoas de idade, pessoas que não tem muita formação, e é pra aproveitar na venda, e colocar seguro de casa, de vida, odontológico”.

Além disso, ele ainda explica que a prática é incentivada, de modo indireto, pelas comissões que os vendedores ganham com as vendas, que têm a porcentagem maior na venda de seguros. “O vendedor trabalha sobre pressão, a comissão em cima da venda é uma mixaria. Tem setor que é 1% de comissão, mas se você vender qualquer seguro  é 7,5%”.

“Eles falam assim: ‘não, com jeito você vende’. Só que é o seguinte, você não consegue vender se falar o que você está vendendo. Porque na maioria das vezes é feita pra quem vai fazer compra no carnê, inocentemente, a pessoa acha que está comprando mais caro por causa do número de parcelas”.

A venda de seguros, de acordo com ele, já virou até piada entre os vendedores, conhecida na loja como ‘entubar’. “Tem vendedor que é sarcástico, faz a venda e chega falando: ‘entubei um lá’. O que me deixava assim constrangido é porque comecei a pensar: o cara tem família, esse dinheiro vai fazer falta”, contou.

Ao participar da venda de uma máquina de lavar para uma idosa é que o ex-vendedor desistiu do emprego. “Foi comprar uma máquina de lavar, que se não me engano era R$ 980,00. Coloquei tudo que tinha direito, o valor ficou por quase R$ 2000. Aí dividi em várias parcelas e a parcela ficou abaixo de cem reais, mesmo assim ela ficou muito contente porque estava dentro do orçamento dela. Falou assim: ‘meu filho, muito obrigada por você fazer isso por mim, sou aposentada, ganho pouco, e comprei um guarda roupa e tinha quase um ano estava precisando dessa máquina’”.

“Pensei: quer dizer que vou fazer isso e ela vai ficar um ano ou dois sem comprar mais nada. Aí não fiz a venda, não ganhei nada e pedi minha demissão. Eu não estava conseguindo dormir. Até hoje tem colegas que vem cortar cabelo e contam que a pressão só aumenta: a meta é essa, tem que vender seguros”.

Prática é proibida

Artigo 39 do CDC (Código de Defesa do Consumidor), afirma que é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, dentre outras práticas abusivas: “IV - prevalecer-se da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços”.

A prática também tem o nome de venda casada, de acordo com o Artigo 39, no qual “é vedado ao fornecedor de produtos ou serviços, condicionar o fornecimento de produto ou de serviço ao fornecimento de outro produto ou serviço”. Ou seja, é proibido embutir outros serviços na aquisição de um produto, sem que o cliente saiba o que está adquirindo.

Quanto ao fato dos trabalhadores da loja serem 'obrigados' a vender os seguros, o presidente do Seccg (Sindicato dos Empregados no Comércio de Campo Grande), Idelmar da Mota, orienta que os funcionários que se sentirem prejudicados precisam procurar a entidade. 

"O que nós precisamos é que eles tragam a denúncia, para que se veja o que pode ser feito.Tem que ser constatado, de uma maneira que possa tomar providência. Ouvir o depoimento deles, independente de qualquer coisa, com sigilo de nomes", destaca o sindicalista.

Casas Bahia

Sobre o caso do aposentado de 84 anos, a assessoria de imprensa da Casas Bahia informou que “a loja explicou ao consumidor que o cancelamento do seguro está autorizado mediante comparecimento na loja. O cliente informou que iria à loja até o dia 12 de agosto”.

Quanto à denúncia do ex-vendedor, a empresa afirma que "pauta suas ações no respeito e na transparência com seus clientes e atua de acordo com as determinações do Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP) e da Superintendência Nacional de Seguros Privados (SUSEP) para a venda de garantia estendida".

"A bandeira esclarece que diferentes serviços são ofertados aos clientes no ato da compra de um produto, quando são apresentadas todas as informações necessárias para a sua tomada de decisão, seguindo rigorosamente as diretrizes do Código de Defesa do Consumidor. As equipes de vendas são treinadas com auxílio de materiais de comunicação próprios e manuais didáticos fornecidos pelas seguradoras parceiras".

A Casas Bahia ainda afirma que "apenas 2% das reclamações recebidas no estado de Mato Grosso do Sul, entre janeiro e julho de 2016, foram relativas à venda de seguros", e que que todos os casos são apurados internamente para melhoria contínua da sua atuação".