Dificuldade de acesso aos serviços de saúde e a tristeza por estar distantes dos entes queridos ofuscam o Dia Internacional do Idoso, comemorado nesta sexta-feira, para muitos que já passaram dos 60 anos em Campo Grande.
“Para quem tem dinheiro vai bem. Para quem não tem, fica difícil”, define o comerciante aposentado João José Nogueira, de 78 anos. Com duas pontes de safena e gasto mensal de R$ 80 com medicamentos, ele conta que depende do SUS (Sistema Único de Saúde).
“Não tenho condições de bancar um plano de saúde. Fica meio complicado porque o governo dá pouca assistência e a minha saúde é uma porcaria”. Para ele, a maior dificuldade é agendar consultas médicas. “Tenho que aguardar bastante tempo”.
Conforme a Síntese dos Indicadores Sociais 2010, publicada pelo IBGE, somente 32,3% dos idosos pagam plano de saúde em Mato Grosso do Sul. Em contrapartida, 75,5% têm o domicílio cadastrado no programa de Saúde da Família. Já 13,8% dos idosos não contam com nenhum dos dois. O Estado tem 232 mil idosos.
Caminhando sozinha pela praça Ary Coelho, Francisca Ferreira Bezerra, de 82 anos, conta que teve seis filhos, mas apenas um lhe dá assistência. “Ela mora em Fortaleza e paga plano de saúde para mim. Os idosos deveriam ter mais conforto e a família unida. Mas os filhos casam e esquecem”.
Francisca já foi costureira e trabalhou na roça. “Recebo R$ 510. Pago condomínio, telefone, água, luz e sobra uma mixaria para comer”. No Estado, a maioria dos idosos recebe entre meio e um salário mínimo.
Para João Lopes de Araújo, de 71 anos, vender sorvetes na praça foi a alternativa para completar a renda. “O tempo continua e estamos sobrevivendo graças a Deus”, diz em tom otimista. Nascido no Rio Grande do Norte, ele está há 40 anos em Campo Grande. “Na hora que a morte chegar, a gente embarca”.
Em um dos bancos da praça, o militar aposentado Heron Lara, de 88 anos, aproveita os fracos raios de sol na manhã nublada. Nas mãos trêmulas, um dos 12 livros de poesias que escreveu. “Esse negócio de vida depende. Se a família ajudar, vai bem”.
Criada em 1999, a data do Dia Nacional do Idoso foi transferida de 27 de setembro para primeiro de outubro.