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Embrapa apresenta resultados de pesquisa realizada em aldeias

16 abril 2012 - 12h48Por Redação Douranews

Na semana em que se comemora o Dia do Índio, a Embrapa Agropecuária Oeste, unidade de Dourados vinculada ao Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), apresentará resultados de pesquisa em uma Reunião Técnica marcada para amanhã (17), em Nioaque, a partir das 8 horas, no Centro Comunitário da Aldeia Brejão. Foram convidados agricultores indígenas, professores nas escolas das aldeias, lideranças locais, associações indígenas e técnicos.

Esses resultados fazem parte do projeto "Contribuição para a etnossustentabilidade de comunidades indígenas Terena de Mato Grosso do Sul",  decorrentes de estudos conduzidos, de 2008 a 2011, em duas aldeias indígenas selecionadas como pólos regionais de referência para condução dos ensaios experimentais: Babaçu (Posto indígena Cachoeirinha) em Miranda, e Água Branca, em Nioaque. O coordenador do projeto é o pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste, Fábio Martins Mercante, que contou com apoio do CNPq, da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), da Coordenadoria Regional da Funai de Campo Grande e da Agraer (Agência de Desenvolvimento Agrário e Extensão Rural).

Um dos pilares do projeto foi o envolvimento da comunidade indígena nas atividades como forma de proporcionar o desenvolvimento sustentável nas aldeias. "Com a disponibilidade de bolsas do CNPq, o projeto contribuiu para a formação de recursos humanos, envolvendo estudantes indígenas de cursos da UEMS em diversas atividades", comenta Mercante.

Entre outros trabalhos, foram realizados experimentos, em que a cultura de milho em monocultivo, sistema usual das comunidades indígenas, foi comparada à cultura consorciada com diferentes espécies de adubo verde inoculadas com bactérias fixadoras de nitrogênio: guandu, crotalária, feijão-de-porco e mucuna-preta. Uma das conclusões é de que a área do milho em monocultivo precisa ser até quatro vezes maior que a da cultura consorciada para obter o mesmo rendimento de grãos. Essa comparação foi calculada através do IEA (Índice de Equivalência de Área), que é a relação entre a área cultivada em consórcio e aquela em monocultivo.

Para o agricultor indígena e cacique da Aldeia Taboquinha, João da Silva, acompanhar e participar do projeto desde o início foi gratificante. "Antes, a gente não colhia quase nada e agora a produtividade aumentou e tem sucesso na lavoura. Mostrar os resultados desse trabalho da Embrapa no dia 17 vai ajudar outros agricultores indígenas", disse o cacique.

"Com os resultados, podemos mostrar que as tecnologias reduzem o custo, diminuem o uso de insumos externos, promove ganhos ambientais e melhoria das condições socioeconômicas nestas comunidades. O que se busca é a permanência dos indígenas na aldeia e a promoção de práticas de cultivo com o aproveitamento racional do uso do solo", afirma Mercante.

Segundo o chefe geral da Embrapa Agropecuária Oeste, Fernando Mendes Lamas, o grande desafio das comunidades indígenas é garantir a segurança alimentar. "Esse projeto proporciona condições das comunidades melhorarem a produtividade, otimizando os recursos existentes na propriedade, além de respeitar o ambiente, a cultura e as tradições", destaca.

O responsável pela seção de etnossustentabilidade da Funai, em Campo Grande, Alexandre Silva Rampazzo, diz que esse projeto "vai ao encontro da ideia de manejo agroecológico, por agregar o que existe de modernidade tecnológica ao conhecimento tradicional, gerando desenvolvimento sustentável".

Ganhos econômicos


Durante os três anos de pesquisa, os rendimentos da cultura do milho em consórcio com as espécies de guandu e crotalária, em Miranda, e com guandu, crotalária e feijão-de-porco, em Nioaque, mostraram-se superiores ao monocultivo de milho, alcançando ganhos de até  305% na receita em uma única safra.

Na safra 2010/2011, por exemplo, os menores rendimentos de grãos da cultura na aldeia Taboquinha, em Nioaque, foram verificados no sistema de monocultivo do milho, com 590 kg por hectare e os maiores foram do milho consorciado com crotalária e guandu: respectivamente, 2360kg/ha e 2065 kg/ha, ou seja, 4 e 3,5 vezes superiores ao monocultivo.

Na aldeia Babaçu, em Miranda, os patamares de produtividade do milho foram mais elevados que na aldeia Taboquinha devido às melhores condições de fertilidade do solo. Mas, assim como na Taboquinha, o monocultivo de milho obteve a produtividade mais baixa, com rendimento de 1.908 kg/ha, enquanto o consórcio com o guandu, que alcançou os melhores resultados entre os adubos verdes, resultou em 4.751 kg/ha, o que significa que foi 139% superior aos ganhos do monocultivo.

O resultado da pesquisa em números mostra que a menor receita bruta foi obtida no monocultivo de milho, sendo R$ 236 e R$ 1.137,20, nos municípios de Nioaque e Miranda, respectivamente.

Na região de Nioaque, a receita bruta mais elevada foi verificada no consórcio com crotalária (R$ 956,00), seguido por guandu (R$ 830,40), feijão-de-porco (R$ 542,80) e mucuna-preta (R$ 327,60). Já na região de Miranda, a receita bruta variou entre R$ 1.186,00 e R$ 1.900,40 por hectare, nos consórcios de milho com mucuna-preta e guandu, respectivamente. Isso demonstra que a prática do consórcio da cultura do milho com adubos verdes, inoculados com bactérias fixadoras de nitrogênio eficientes e adaptadas às condições locais, traz grande vantagem do ponto de vista agronômico.

Equipe

Participaram da equipe técnica do projeto, Fábio Martins Mercante (coordenador), Carmen Regina Pezarico, Euclides Maranho, Anderson Rogélio Bonin, Alceu Richetti, Maria Aparecida Viegas Martins, Ivo de Sá Motta (Embrapa Agropecuária Oeste); Rogério Ferreira da Silva e Jolimar Antonio Schiavo (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul); e Claudiomar do Carmo Miranda (Funai/Agraer). "Vale destacar a importância da atuação do professor da UEMS e indígena da etnia Terena, Rogério Ferreira da Silva, no projeto, sendo ele o primeiro indígena do Brasil a obter o título de doutor (Agronomia) e concluiu o pós-doutorado em estudos relacionados à fixação biológica de nitrogênio, com bolsa do CNPq", comenta Mercante.