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Opinião

Por que Tite deveria dispensar Neymar da Copa América

03 junho 2019 - 22h19Por Tiago Maranhão

Tite respondeu a 27 perguntas na entrevista coletiva desta segunda-feira (3), se não errei na conta. O Brasil tem mais dez dias de preparação até a estreia, dia 14 de junho, contra a Bolívia, no estádio do Morumbi. Mas o assunto da entrevista foi outro. Dá para citar as vezes em que as perguntas não foram sobre Neymar.

Tite cobraria pênaltis numa decisão, caso a regra permitisse, quis saber um repórter. Outro tirou do técnico a informação de que Ederson será o titular no amistoso contra o Qatar, e Tite falou das possibilidades de "formatações" de esquemas táticos com os jogadores que tem à disposição.

Cabe destacar a pergunta fofa da jornalista japonesa Kiyomi Nakamura sobre receber abraços de crianças e a pureza dessa relação com os pequenos fãs. Achei inclusive que ao refletir sobre essa pergunta, Tite se emocionou. De resto, só Neymar.

Tite seria amigo de Neymar em outro contexto? Neymar será liberado se houver solicitação da Justiça? Neymar poderá voltar a ser capitão um dia? E as críticas feitas por Tite a Neymar em 2012, ainda valem? Neymar é imprescindível para a Seleção Brasileira? Essa última resposta interessa muito. É uma pergunta técnica.

Na visão do treinador, qual o peso de uma eventual ausência de Neymar em campo? "Tecnicamente, (Neymar) é imprescindível, sim", afirmou Tite. Cerca de um minuto depois, após brevíssima reflexão, Tite pega carona em outra pergunta para completar essa resposta anterior. "Quando a gente fala imprescindível, isso não quer dizer insubstituível. É imprescindível pela qualidade no grupo. Mas insubstituível ninguém é, em lugar nenhum, em nenhum posto".

Não vou entrar na questão semântica, de que imprescindível é aquele de quem não se pode abrir mão, o que seria sinônimo de insubstituível. Prefiro focar no cuidado que Tite procura ter na escolha de palavras e ideias para falar sobre Neymar.

Esse é o primeiro ponto: o quanto de energia Tite e comissão técnica precisam dispensar ao Neymar neste momento. E isso é contraproducente. Energia e tempo que estariam na preparação da Seleção, estão sendo investidas no caso Neymar.

Edu Gaspar, coordenador técnico da Seleção, pediu a palavra duas ou três vezes durante a coletiva. Deixou claro que está se informando sobre procedimentos e que irá oferecer o apoio necessário ao Neymar e aos procedimentos jurídicos durante o desdobramento que virá nos próximos dias.

Pelo menos duas vezes, carros da Polícia Civil foram até a Granja Comary, casa da Seleção Brasileira, em visitas relacionadas ao caso Neymar. Não deixa de ser mais uma distração.

Outro ponto: quanto o problema de Neymar não se torna um problema de todos na Seleção? Os amigos na comissão, na equipe de apoio, os outros jogadores, e até a atenção da torcida, todos estão distraídos. E quanto mais próximos, mais envolvidos se tornarão.

Em outras palavras, a presença de Neymar atrapalha a preparação brasileira para a Copa América.

Se Neymar é, de fato, imprescindível, então cabe ao Tite e sua comissão fazer o possível para amortecer o impacto negativo. Agora, se o Brasil pode jogar bem e ser campeão sem Neymar, talvez seja melhor permitir que o jogador resolva os problemas pessoais sem prejuízo à preparação da Seleção.

É impossível não pensar que qualquer outro jogador seria dispensado "para resolver questões pessoais".

E por fim, tem o ponto de vista do próprio Neymar. Onde estará a concentração do camisa 10? Na Copa América ou na acusação que precisa enfrentar?

Não se trata de nenhum pré-julgamento do caso (todos tem direito a ampla defesa), mas sim do foco desviado da preparação para problemas fora de campo.

* O autor é apresentador do programa Troca de Passes, no canal SporTV