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Fantástico denuncia médico que vendia licença médica em Cuiabá

24 janeiro 2011 - 09h37Por Redação Douranews, com G1

Conheça um médico que vende atestados para pessoas que não estão doentes ficarem em casa. Sem saber que estava sendo investigado e gravado, ele abriu o jogo. O doutor Ubiratan de Magalhães Barbalho é psiquiatra e atua em Cuiabá. Ele conversa com uma paciente, uma policial. Ele nem espera ela dizer o que está sentindo. “Eu vou colocar aqui: stress, ansiedade, depressão e dores físicas”, diz o médico.

A policial, que não tem nenhum problema de saúde, está com uma câmera escondida no consultório do doutor Ubiratan a pedido da corregedoria da PM e do Ministério Público, que desconfiaram do médico. A paciente deixa claro que quer a licença para não ter que trabalhar.

PM: Olha, eu quero a licença porque eu preciso terminar minha monografia, não dei conta, fui enrolando. Aí tem uns colegas que me falaram, vai lá no Dr. Ubiratan que ele sempre ajuda a gente. O senhor deve atender bastante policial.
Médico: Demais. Militar, mais militar. Fiquei famoso!
PM: Senhor?
Médico: Eu fiquei famoso no meio militar, os coronéis me amam!
PM: Por que?
Médico: Porque os militares vêm aqui pegar atestado comigo.

A especialidade dele é vender atestados.

PM: Se eu precisar de outro atestado?
Médico: Aí precisa pagar. Porque antes de 30 dias, eu cobro R$50. Se você vier antes de 30 dias. Mas passou de 30, eu cobro R$150.

Na hora de estipular o tempo de licença, o Dr. Ubiratan exagera.

Médico: Você precisa de uns 60, né?
PM: É, eu precisava de uns dois meses.
Médico: Então, é por isso que eu vou pedir 120.

As imagens cedidas ao Fantástico fazem parte de uma investigação contra o médico. Em seu consultório, pacientes sem qualquer problema de saúde compram atestados para conseguir afastamento remunerado.

O que despertou a atenção das autoridades foi a quantidade de atestados apresentados à corporação por problemas psiquiátricos assinados sempre pelo mesmo médico, o Dr. Ubiratan. Só no ano passado, foram 87. Na maioria dos casos, os policiais respondiam a processos administrativos.

"Toda vez que policiais sem nenhum histórico de doenças ou de problemas psiquiátricos eram surpreendidos numa atividade criminosa e eram submetidos a um procedimento administrativo visando a demissão desses policiais, a exclusão deles, via de regra, os atestados do Dr. Ubiratan vem aos autos”, aponta Joelson Sampaio, corregedor da PM.

“Esse profissional emite atestados que são utilizados em fraudes perante a administração pública e que efetivamente vem causando prejuízos a toda sociedade”, afirma o promotor de Justiça Militar Vinícius Gahyva.

E esta não é a primeira vez que a conduta do Dr. Ubiratan é investigada. Em 2005, ele foi exonerado do cargo de psiquiatra do sistema penitenciário por improbidade administrativa. Em 2007, ele foi acusado de envolvimento com uma quadrilha que fraudava o INSS em Mato Grosso e outros estados.

Mas ele continua em atividade. O Dr. Ubiratan também receita remédios controlados de uso psiquiátrico sem qualquer necessidade.

Médico: Olha, eu vou te dar o Daforin, ele é anti-depressivo. Geralmente, toma 10 gotas no café da manhã, dez gotas no café da tarde. Mas ele turbina a gente. Quer experimentar?

Outro caso grave de emissão de atestados falsos pelo Dr. Ubiratan envolve um policial militar. Claudemir de Sousa Sales é acusado de matar a ex-amante, Ana Cristina Wommer em agosto de 2010, grávida de oito meses. Claudemir está detido no presídio militar. Seu processo está parado por causa do atestado do Dr. Ubiratan.

“Depois que ele matou a minha filha apresentou atestado de insanidade mental. Como que antes ele estava trabalhando e a polícia não viu que era doente mental?”, diz a mãe da vítima.

Procurado pela nossa produção, o Dr. Ubiratan não quis gravar entrevista. Um inquérito será aberto contra ele nesta semana.

“Constatando fraude, que ocorra a responsabilização tanto do servidor que se utilizou do atestado falso, quanto do médico que concedeu”, aponta Gustavo Dantas Ferraz, promotor de Defesa do Patrimônio Público.

O Conselho Regional de Medicina também vai apurar as denúncias.

"Vai ser feito uma sindicância para que esse médico seja julgado pelo Conselho de Medicina. São denúncias muito fortes. Uma vez comprovado o teor dessa denúncia, ele deverá ser apenado pelo Conselho de Medicina", afirma Arlan Ferreira - presidente do CRM.